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À “IDENTIDADE” ENTRE A TRINDADE IMANENTE E A ECONÔMICA


TRINDADE - PARTE 2

É incontestável que a revelação da Trindade na economia salvífica se funda na Trindade imanente, essa última podia existir sem sua manifestação econômica. A identidade não significa que a Trindade imanente só existia na econômica, que Deus se faça Trino na medida em que se comunica aos homens, ou que a Trindade de pessoas seja fruto de sua livre decisão em vista dessa autocomunicação.

A Trindade imanente não se realiza nem se dissolve na economia. Tem em si mesma a plenitude, independentemente da criação e da obra salvífica. Se assim não fora, nossa própria salvação estaria comprometida. Deus não poderia nos salvar, porque deveria também chegar à sua plenitude – em última instância, “salvar-se”. A Trindade imanente é o fundamento transcendente da economia da salvação. O mistério de Deus trino, transcendente a este mundo, só se pode conhecer através da Trindade econômica, isto é, através da revelação de Jesus. O mistério salvador que é Deus mesmo nos é unicamente acessível em virtude da livre comunicação divina.

A “identidade” entre a Trindade imanente e a econômica não pode portanto explicar-se em termos de uma realização de Deus em sua economia, o que leva à confusão entre a doutrina da Trindade e a cristologia. Mas deve-se ter presente, além disso, um segundo aspecto da questão. Assim como a Trindade imanente não se identifica com o desenvolvimento da economia da salvação sem se “dissolve” nela, tampouco se “esgota” na dispensação salvadora em que livre e gratuitamente se comunica.

A autocomunicação de Deus que se realiza na história comporta um elemento de kenose e de cruz, de esvaziamento, que nos obriga a supor uma distinção entre a Trindade econômica e a imanente. A forma servi foi realmente assumida por Jesus; a ele pertence também a forma Dei, cujo conteúdo não podemos plenamente conhecer na condição presente.

A identidade entre a Trindade econômica e Trindade imanente deve-se, portanto entender no sentido de que por uma parte, Deus se nos dá e se revela tal como é em si mesmo, mas que o faz livremente, isto é, seu ser não se realiza nem se aperfeiçoa nessa autocomunicação; e que por outra parte nessa revelação Deus mantém seu mistério, sua maior proximidade significa a manifestação mais direta de sua maior grandeza.

Deus ocupa-se com o mundo; o dogma da Trindade, em sua entranha mais profunda, leva, como todo dogma, um cunho soteriológico. Por outra parte, Deus ocupa-se com o mundo como Deus, “não se converte no amor pelo fato de ter o mundo como um tu... senão porque já em si mesmo e por cima do mundo é amor”. Citação do documento Teologia, cristologia, antropologia (Comissão Teológica Internacional): “A Trindade não se constituiu simplesmente na história da salvação pela encarnação, a cruz e a restauração de Jesus Cristo, como se Deus necessitasse de um processo histórico para chegar a ser trino”.

No documento supra mencionado ainda diz: Não há duas Trindades. Por uma parte, na Trindade imanente está o fundamento, a condição de possibilidade da economia salvadora. Deus não quis ser sem nós. Isso não quer dizer que a Trindade seja aperfeiçoada pela economia ou que essa lhe proporcione algo de que carecia. A novidade está em que nas relações constitutivas da Trindade entrou o Filho enquanto homem, Jesus, que nasceu, morreu e ressuscitou. A economia não constitui o Deus trino nem o aperfeiçoa, mas isso não quer dizer que nada signifique para ele. A Trindade imanente, na soberana liberdade de seu amor, é o fundamento da história da salvação, mas por sua vez essa tem uma certa repercussão no ser divino. Os mistérios salvíficos são mistérios próprios de Deus.

FONTE CONSULTADA:
LADARIA, Luis F. – O Deus Vivo e Verdadeiro (O Mistério da Trindade) – Coleção Theologka – Edições Loyola – São Paulo – Brasil – 2005.

FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.

A RELAÇÃO ENTRE A TRINDADE ECONÔMICA E A IMANENTE


TRINDADE - PARTE 1

Os Padres da Igreja distinguem entre a “Theologia” e a “Oikonomia”, designando com o primeiro termo o mistério da vida íntima do Deus-Trindade e com o segundo todas as obras de Deus por meio das quais ele se revela e comunica sua vida (historia salutis). É mediante a “Oikonomia” que nos é revelada a “Theologia”; mas, inversamente, é a “Theologia” que ilumina toda a “Oikonomia”. As obras de Deus revelam quem Ele é em si mesmo e, inversamente, o mistério de seu Ser íntimo ilumina a compreensão de todas as suas obras. Acontece o mesmo, analogicamente, entre as pessoas humanas. A pessoa mostra-se em seu agir e, quanto melhor conhecermos uma pessoa, tanto melhor compreenderemos seu agir. CIC n. 236.

A “economia” é o único caminho
para o conhecimento da “teologia”.
KARL HANNER

A relação entre a economia e a teologia foi muito discutida na teologia nos últimos tempos. Ocasião para isso foi a formulação de K. Rahner do chamado “axioma fundamental” da teologia trinitária: “a Trindade econômica é a Trindade imanente, e vice-versa”. Ou, em outras palavras: Deus uno e trino revela-se na “economia”, tal como é sua vida imanente, através da revelação de Cristo temos um verdadeiro acesso à “teologia”. A revelação do mistério de Deus em toda a sua profundidade acontece unicamente em Jesus. Só pela fé nele temos acesso a esse mistério. Se crermos nele realmente como o Filho de Deus podemos ver nele o Pai (cf. Jo 14,9). A revelação de Deus, enquanto revelação salvífica em si mesma acontece na realização mesma de nossa salvação por obra de Jesus Cristo.

Doutrina das “apropriações”:

Existe um caso em que sabemos que há uma atuação para fora em que as pessoas atuam diferenciadamente: a encarnação. Somente o Filho assumiu hipostaticamente a natureza humana. Não se trata de afirmar que as outras pessoas não tiveram parte nesse evento: sabemos muito bem que não é assim. Foi o Pai que enviou o Filho ao mundo, e também isso é uma atuação própria da pessoa do Pai (cf. Jo 3,17.34; Rm 8,3; Gl 4,4). Por sua parte, o Espírito Santo que desce sobre Maria faz possível a encarnação (cf. Lc 1,35; Mt 1,20; DS 150). Na encarnação, em toda a vida de Jesus sobre a terra, e em sua ressurreição e exaltação à direita do Pai e no dom do Espírito que segue a essas, temos uma atuação diferenciada das pessoas divinas na história salvífica. Durante séculos foi doutrina comum que qualquer das pessoas divinas poderia ter-se encarnado, embora sempre se tenha insistido na “conveniência” daencarnação do Filho. Assim pensaram, por exemplo, Boaventura e Tomás de Aquino.

Uma das principais razões para afirmar a possibilidade da encarnação de qualquer das pessoas era, para s. Tomás, o fato de que a ratio personalitatis é comum nas três pessoas, ainda que sejam evidentemente distintas as propriedades pessoais de cada uma delas. A salvação concreta que o Filho de Deus nos trouxe com sua encarnação consiste em nós, no Espírito Santo, nos convertemos em filhos de Deus. De novo aqui uma opinião de escola, muito difundida em tempos passados, a unidade de atuação ad extra das pessoas dá lugar à idéia de que somos filhos da Trindade.

“A Trindade econômica é a Trindade imanente”, diz-nos que é Deus que se nos dá em si mesmo, não nos dá simplesmente dons, por grandes que possamos pensá-los. Se não se nos desse como é, não se daria ele mesmo. Se não se manifestasse como é, não se nos revelaria. Existe uma correspondência entre a Trindade econômica e a imanente: são a mesma, não se distinguem adequadamente. Nesse sentido não há dúvida de que o postulado formulado por K. Rahner, ao menos em sua primeira parte, é legítimo e necessário. Foi frutuoso para a teologia católica, porque contribuiu para a redescoberta das implicações soteriológicas do dogma trinitário, do caráter central dele na teologia e de sua relevância e de seu significado para a vida cristã.

FONTE CONSULTADA:

LADARIA, Luis F. – O Deus Vivo e Verdadeiro (O Mistério da Trindade) – Coleção Theologka – Edições Loyola – São Paulo – Brasil – 2005.


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SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.

QUEM FOI SANTO ATANÁSIO?


Vida de Santo Atanásio

Santo Atanásio foi, simultaneamente, o Bispo mais amado e o mais odiado e perseguido do seu tempo. Nasceu provavelmente no ano 295 e faleceu por volta de 373. Para os seus defensores, Atanásio era a garantia da ortodoxia católica, o salvador da Fé, um autêntico sucessor dos Apóstolos; para os seus adversários, Atanásio era um orgulhoso, teimoso, intransigente, rebelde, insolente, inimigo da paz e da concórdia entre os cristãos.
Para salvar a fé na divindade de Cristo, Santo Atanásio sofreu calúnias, juízos iníquos, perigo de morte, cinco desterros durante 17 anos, ódios de muitos bispos e dos imperadores filiados à heresia, e finalmente a “excomunhão” pelo Papa Libério. Contudo, a Igreja proclamou-o santo, Padre da Igreja, Doutor e salvador da fé católica. A história reconhece que, sem a resistência e os sofrimentos heróicos de Santo Atanásio e dos seus companheiros bispos e sacerdotes, assim como do povo fiel, a fé católica teria naufragado no século IV.
Este autêntico protagonista da tradição cristã, poucos anos depois da sua morte, foi celebrado como "a coluna da Igreja" pelo grande teólogo e Bispo de Constantinopla Gregório Nazianzeno (Discursos 21, 26), e foi sempre considerado como um modelo de ortodoxia, tanto no Oriente como no Ocidente. Portanto, não foi por acaso que Gian Lorenzo Bernini colocou uma sua estátua entre a dos quatro santos Doutores da Igreja oriental e ocidental juntamente com Ambrósio, João Crisóstomo e Agostinho que na maravilhosa abside da Basílica vaticana circundam a Cátedra de São Pedro.  

Obras de Santo Atanásio

A obra doutrinal mais famosa do santo Bispo alexandrino é o tratado Sobre a encarnação do Verbo, o Logos divino que se fez carne tornando-se como nós para a nossa salvação. Atanásio diz nesta obra, com uma afirmação que se tornou justamente célebre, que o Verbo de Deus "se fez homem para que nos tornássemos Deus; ele fez-se visível no corpo para que tivéssemos uma idéia do Pai invisível, e ele próprio suportou a violência dos homens para que nós herdássemos a incorruptibilidade" (54, 3). De fato, com a sua ressurreição o Senhor fez desaparecer a morte como se fosse "palha no fogo" (8, 4). A idéia fundamental de toda a luta teológica de Santo Atanásio era precisamente a de que Deus é acessível. Não é um Deus secundário, é o Deus verdadeiro, e através da nossa comunhão com Cristo podemos unir-nos realmente a Deus. Ele tornou-se realmente "Deus conosco".  
Entre as obras deste grande Padre da Igreja que em boa parte permanecem ligadas às vicissitudes da crise ariana recordamos depois as quatro cartas que ele enviou ao amigo Serapião, Bispo de Thmuis, sobre a divindade do Espírito Santo, que foi afirmada com determinação, e cerca de trinta cartas "festivas", dirigidas no início de cada ano às Igrejas e aos mosteiros do Egito para indicar a data da festa de Páscoa, mas, sobretudo para garantir os vínculos entre os fiéis, fortalecendo a sua fé e preparando-os para essa grande solenidade.  
Por fim, Atanásio é também autor de textos meditativos sobre os Salmos, depois muito difundidos e sobretudo de uma obra que constitui o best seller da antiga literatura cristã: a Vida de Antão, isto é, a biografia do abade Santo Antão, escrita pouco depois da morte deste santo, precisamente enquanto o Bispo de Alexandria, exilado, vivia com os monges do deserto egípcio. Atanásio foi amigo do grande eremita, a ponto que recebeu uma das duas peles de ovelha deixadas por Antão como sua herança, juntamente com a capa que o próprio Bispo de Alexandria lhe tinha oferecido. Tendo-se tornado depressa muito popular, traduzida quase imediatamente em latim por duas vezes e depois em diversas línguas orientais, a biografia exemplar desta figura querida à tradição contribuiu muito para a difusão do monaquismo, no Oriente e no Ocidente.  

Defensor da Fé, pai da Ortodoxia

Atanásio foi sem dúvida um dos Padres da Igreja antiga mais importantes e venerados. Mas, sobretudo este grande santo é o apaixonado teólogo da encarnação do Logos, o Verbo de Deus, que como diz o prólogo do quarto Evangelho "se fez carne e veio habitar entre nós" (Jo 1, 14). 
Precisamente por este motivo Atanásio foi também o mais importante e tenaz adversário da heresia ariana, que então ameaçava a fé em Cristo, reduzido a uma criatura "intermediária" entre Deus e o homem, segundo uma tendência recorrente na história e que vemos concretizada de diversas formas também hoje. Nascido provavelmente em Alexandria, no Egito, por volta do ano 300, Atanásio recebeu uma boa educação antes de se tornar diácono e secretário do Bispo da metrópole egípcia, Alexandre. Estreito colaborador do seu Bispo, o jovem eclesiástico participou com ele no Concílio de Nicéia, o primeiro de caráter ecumênico, convocado pelo imperador Constantino em Maio de 325 para garantir a unidade da Igreja. Os Padres nicenos puderam assim enfrentar várias questões, e principalmente o grave problema causado alguns anos antes pela pregação do presbítero alexandrino Ário.  

Ário e o Concílio de Nicéia


Ário (260-336), influente pároco de Alexandria, no Egito, dizia que Cristo era a primeira das criaturas de Deus e, como todas as demais, tirada do nada. Por ser a primeira criatura, chamava-se-Lhe Filho de Deus, mas não Deus verdadeiro, igual ao Pai. Era uma criatura divinizada, mediante a qual Deus criou as demais coisas, inclusive o Espírito Santo. Desse modo, por meio da defesa e da divulgação desta doutrina, a fé católica estava ameaçada. Atacava a verdadeira natureza do Cristianismo, ao atribuir a Redenção a um deus que não era verdadeiro Deus e que, por isso mesmo, era incapaz de redimir a humanidade. Assim, a fé era despojada de seu caráter essencial, posto que o Logos não seria verdadeiro Deus, mas um Deus criado, um ser "intermediário" entre Deus e o homem e assim o verdadeiro Deus permanecia sempre inacessível para nós.
Os Bispos reunidos em Nicéia responderam preparando e fixando o "Símbolo de fé" que, completado mais tarde pelo primeiro Concílio de Constantinopla, permaneceu na tradição das diversas confissões cristãs e na liturgia como o Credo niceno-constantinopolitano. Neste texto fundamental que expressa a fé da Igreja indivisa, e que recitamos também hoje, todos os domingos, na Celebração eucarística encontra-se a palavra grega homooúsios, em latim consubstantialis: ele pretende indicar que o Filho, o logos, é "da mesma substância do Pai, é Deus de Deus, é a sua substância, e assim é posta em realce a plena divindade do Filho, que tinha sido negada pelos arianos.  
Tendo falecido o Bispo Alexandre, Atanásio tornou-se, em 328, seu sucessor como Bispo de Alexandria, e logo depois se demonstrou decidido a recusar qualquer compromisso em relação às teorias arianas condenadas pelo Concílio niceno. A sua intransigência, tenaz e por vezes muito dura, mesmo se necessária, contra quantos se tinham oposto à sua eleição episcopal e, sobretudo contra os adversários do Símbolo niceno, atraiu a implacável hostilidade dos arianos e dos filo-arianos. Apesar do inequívoco êxito do Concílio, que tinha afirmado com clareza que o Filho é da mesma substância do Pai, pouco depois destas idéias erradas voltaram a prevalecer nesta situação até Ário foi reabilitado e foram defendidas por motivos políticos pelo próprio imperador Constantino e depois pelo seu filho Constâncio II. Ele, aliás, que não se interessava tanto pela verdade teológica como pela unidade do Império e dos seus problemas políticos, pretendia politizar a fé, tornando-a mais acessível segundo a sua opinião a todos os seus súbditos no Império.  
A crise ariana, que se pensava estar resolvida em Nicéia, continuou por decênios, com vicissitudes difíceis e divisões dolorosas na Igreja. E por cinco vezes durante um trintênio, entre 336 e 366 Atanásio foi obrigado a abandonar a sua cidade, transcorrendo 17 anos no exílio e sofrendo pela fé. Mas durante as suas forçadas ausências de Alexandria, o Bispo teve a oportunidade de defender e difundir no Ocidente, primeiro em Trier e depois em Roma, a fé nicena e também os ideais do monaquismo, abraçados no Egito pelo grande eremita Antão com uma opção de vida à qual Atanásio sempre esteve próximo. Santo Antão, com a sua força espiritual, era a pessoa mais importante na defesa da fé de Santo Atanásio. Insediado de novo e definitivamente na sua sede, o Bispo de Alexandria pôde dedicar-se à pacificação religiosa e à reorganização das comunidades cristãs. Faleceu a 2 de Maio de 373, dia em que celebramos a sua memória litúrgica. 

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O JOVEM RICO - MATEUS 19, 16-30

O Reino de Deus é dom e partilha
(Mateus 19, 16-30)

           O Evangelho começa com uma pergunta intrigante e ao mesmo tempo fascinante. Um jovem rico se aproxima de Jesus e faz a seguinte pergunta: “Mestre que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?” Ora, porque uma pessoa tão jovem e rica faria esta pergunta a Jesus? Certamente porque nele assim como também em nós sempre falta alguma coisa e para este jovem faltava-lhe a certeza de saber o que é preciso fazer de bom para possuir a vida eterna.
        Quando fazemos uma pergunta a alguém é por hábito nosso, logo esperarmos a resposta. Mas o método que Cristo usou foi de forma extraordinária, em vez de responder de imediato Ele fez outra pergunta. “Por que você me pergunta sobre o que é bom?” Um só é o bom (DEUS). E continuou dizendo: “Se você quer entrar para a vida, guarde os mandamentos.” Com esta resposta Jesus apresenta a 1ª condição de alcançar a vida eterna, ou seja, (guardar) seguir os mandamentos da Lei de Deus.
           Nós bem sabemos que para o povo judeu a observância da Lei era de grande importância, por isso o jovem fica intrigado e faz uma nova pergunta ao Mestre: “Tenho observado todas estas coisas. O que é que ainda me falta fazer?” No mundo judeu, a observância das leis também se associava à idéia de santidade e riqueza. Quem praticasse à risca os mandamentos era abençoado por Deus e acumulava grandes fortunas, vistas como dádivas de Deus. A lógica de Cristo, no entanto, não basta apenas escutar, observar é preciso por em prática tais leis e realizá-las com a própria vida. 
           A vida cristã coerente, o testemunho, a prática religiosa, o conhecimento doutrinário e catequético não são apenas condições suficientes. É preciso algo mais concreto para completar. E diante de tal pergunta do jovem Jesus toca na sua fraqueza. “Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me.” Agora sim aqui vemos a 2ª condição revelada por Jesus para se alcançar a vida eterna que é seguir o mestre, com o coração disponível ao serviço dos pobres e desatrelados das ambições e posses (bens materiais). 
           Por fim, para Jesus Cristo as práticas das leis não são suficientes para se garantir a vida eterna é preciso junto com ela outra condição que existe o desapego aos bens materiais. Para o Filho de Deus o dom de partilhar o que tem de mais precioso para si é de grande valia para quem quer entender que o Reino de Deus já se faz presente aqui e a disponibilidade do compromisso missionário em meio a tantas necessidades do nosso povo é uma demonstração de uma vida caritativa concreta.

Fontes consultadas:
Bíblia – PASTORAL (Editora Paulus).
Catecismo da Igreja Católica.
Conheça a Bíblia – Ivo Storniolo.
Perguntas que o povo faz – Frei Mauro Strabeli.

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SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.

A TORRE DE BABEL


E aí, o homem continuou puro? Não!


A Torre de Babel – (Ler e partilhar Gn11, 1-9) O dilúvio purificou o homem, mas não o libertou da lei do pecado que continuava presente em seu coração.  Portanto, também os filhos de Noé e seus descendentes se afastaram do caminho de DEUS.  Mais uma vez o homem pretende ser auto-suficiente, chegar até DEUS pela sua força e capacidade: tentou construir uma torre ápice que chegaria até os céus.  O resultado desse projeto é a confusão e a dispersão. 
Que torre é esta? Era uma torre que era construída em degraus encimadas (título principal ou cabeçalho) pelo templo do DEUS da cidade.  A cidade e a torre deviam ser sinal de união e de poder.  Pronto! O homem não precisa de DEUS, o homem mesmo pode proporcionar união e poder...

Babel lembra certamente Babilônia, a civilização que se tornou o modelo das grandes potências.  Babel se apresenta como símbolo da cidade deformada pela auto-suficiência que produz uma estrutura injusta esplendorosa e opressora.

Quais são as cidades de hoje que estão parecendo uma Babel? – pausa.

E o autor sagrado descreve com grande vivacidade o castigo de DEUS, através da confusão da língua, contra o orgulho do homem, sempre impelido a mirar à própria grandeza, esquecendo os desígnios de DEUS.  Ele obriga os povos a se separarem para povoar a terra.  A unidade será restaurada, não por vontade do homem, mas de DEUS e não numa união política e natural, mas sobrenatural e na caridade.

Vimos que a separação dos povos se deu através da confusão de línguas (gravem com amor e carinho – no NT temos uma confusão de línguas especial demais que uniu milhares e milhares de pessoas – não percam!).

DEUS intervém nesta Torre confundindo a linguagem entre os homens. Diz no Salmo 54, 10 “precipita-os, Senhor, confunde as suas línguas; porque eu vejo a injustiça e a contradição na cidade”.

Então, no paraíso o pecado é dos pais, em Babel o pecado é dos filhos.  “Por isso dera-lhe o nome de Babel porque até o Senhor confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra, e dali os dispersou a face de toda a terra” – Gn11, 4-9. E para maravilhar do nosso DEUS vamos recordar, em cada situação de pecado cometido e como Ele socorre a humanidade:

1.     Adão e Eva - DEUS vem em seu socorro e faz túnicas de peles.
2.     Caim - DEUS coloca um sinal a fim de o proteger da morte.
3.     Dilúvio - DEUS salva os justos na arca de Noé.
4.     Babel - DEUS Confunde a linguagem a fim de que eles se dispersem.
5.      
Tudo perdido? Como continua a história da humanidade?  Você que está aqui comete pecado ou não?
 (Encerrar o encontro com momento de silencio levando o catequizando ao exame de consciência, e em seguida cantar: Perdão Senhor) – 36

Extraído resumidamente do livro Bíblia: Perguntas que o povo faz – Frei Mauro Strabeli.


Motivação para o próximo encontro:

DEUS nos prometeu o Salvador. Mas para que isso fosse possível DEUS primeiro preparou o Seu Povo. Como? Não percam o próximo encontro!


O DILÚVIO - NOÉ E SUA FAMÍLIA


Como será que continua a história?
Amorosa e vai continuar através de Noé, o homem justo.

O Dilúvio – (Capítulos 6, 7, 8, 9 e 10) Ler e partilhar Gn6, 1-22 - (chamar a atenção dos detalhes da arca) DEUS para purificar e corrigir o homem envia um grande castigo que foi o dilúvio sobre a humanidade pecadora. O autor sagrado narra de uma forma humana, embora falando de DEUS. Com isso ele quer nos mostrar o tanto que o pecado desagrada a DEUS.  DEUS jamais se arrependeria porque DEUS não muda em Si.  Ele condena sempre o pecado aprova o bem e tudo prevê sem tirar a liberdade de ninguém. No relato do dilúvio, somente um homem com sua família escapou: é o início de uma nova etapa na caminhada humana. Esta arca para nós que aqui estamos é a Igreja. Então falou DEUS a Noé. “Sai da arca, com tua mulher, teus filhos e as mulheres de teus filhos“.   Disse também DEUS a Noé e a seus filhos: “Vou fazer uma aliança convosco e com vossa posteridade, assim com todos os seres vivos que estão convosco, todos os animais”.

Neste episódio da arca, podemos trazer para a nossa vida; Nem sempre somos capazes de perceber a importância dos acontecimentos que o próprio DEUS aponta para nós e que são sempre cheio de esperança e de salvação.  Acontecimentos como da arca, que os conhecidos de Noé desprezaram, ridicularizaram e na qual não entraram, de modo que acabaram sendo tragados pelo dilúvio.

Pois é! A arca de Noé poderia retratar os muitos instrumentos e momentos de salvação que o Senhor continuamente nos proporciona e nem sempre somos capazes de aproveitar.  Quantas e quantas vezes somos convidados para participarmos da Igreja, e muitas vezes relutamos. Às vezes o convite passa por uma preparação para o Batismo, passa pela catequese, passa às vezes por dificuldades ou até mesmo numa alegria, e nós, não percebemos a presença de DEUS e deixamos passar a sua Graça. Não prestamos atenção nestes sinais e acabamos por perder a arca e nos afogando no dilúvio da vida como aconteceu no tempo de Noé. Toda criação se extinguiu.

Entrou na Arca todos, um casal, de tudo o que é criatura que tem sopro de vida. Gn 7,15-16 – Ah, que assim seja com cada um de nós. Que DEUS nos conceda a graça de entrar na Arca Celeste e com Ele permanecer eternamente!


Como estamos agora? Queremos acordar para perceber a salvação que DEUS nos oferece ou preferimos  continuar dormindo, desapercebidos de tudo? Vamos entrar na “arca” ou pretendemos nos entregar às farras nossas de cada dia, deixando o embarque para outra ocasião?

É verdade que DEUS nunca se cansa de passar ao nosso lado com sua paciência infinita.  A arca da Aliança continua varando as noites de tempestade e recolhendo os náufragos da vida.  Nela há lugar para todos.  Mas não é prudente adiar sempre para o dia seguinte. 
E Noé fez tudo como DEUS havia mandado. Gn 9,20-22 e Gn 9,12-13.16-17.

“DEUS disse a Noé: Sai da arca com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos e com todos os seres vivos” – Gn 8,16-22.
“Noé construiu um altar para Javé, tomou animais e ave de toda espécie pura e ofereceu holocausto sobre o altar”. Javé aspirou o perfume, e disse consigo: Nunca mais amaldiçoareis a terra por causa do homem. Enquanto durar a terra, jamais faltarão semeaduras e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.

DEUS disse a Noé e a seus filhos: Eu estabeleço a minha aliança com vocês e com seus descendentes, e com todos os animas que os acompanham: aves, animais domésticos e feras com todos os que saíram da arca e agora vivem sobre a terra. Nunca mais haverá dilúvio para devastar a terra.

Colocarei o meu arco nas nuvens, e eles se tornará um sinal da minha aliança com a terra.  Quando eu reunir as nuvens sobre a terra e o arco-íris estiver nas nuvens, eu o verei e me lembrarei da aliança eterna: aliança de DEUS com todos os seres vivos, com tudo o que vive sobre a terra.  E “DEUS disse a Noé: Este é o sinal da aliança que estabeleço com tudo o que vive sobre a terra”.

Com Noé surge a nova criação.  DEUS repete a mesma ordem: sede fecundos, dominai... (Gn1), E aí, o homem continuou puro? Não!

Fontes consultadas
Bíblia – PASTORAL (Editora Paulus).
Catecismo da Igreja Católica.
Apostilas Mater Ecclesiae (Dom Estevão Bettencourt).
Revista BRASIL CRISTÃO.
Revista ECOANDO editada pela Paullus.
FOLHA CATEQUÉTICA (Centro Pastoral Popular).
Fé, Vida e Comunidade - (exemplar do Catequista), editado pela Paulus.
Conheça a Bíblia – Ivo Storniolo.
Livro: Perguntas que o povo faz – Frei Mauro Strabeli.
Site do Santuário Nossa Senhora Aparecida – Evangelizando (Meditação do Dia)
Site do Convento Santo Antonio – RIO TOTAL/BOANOVA/
Pedro, Discípulo e Pastor – Prado Flores.
O Manual da Felicidade – O Sermão da Montanha - Pe. Alberto Gambarini.

O QUE É O PECADO ORIGINAL?


Tema: O pecado

Objetivo:   
- Definir o pecado como recusa do convite de DEUS para sermos seus filhos e irmãos dos outros.
- Mostrar que o sofrimento entra no mundo por causa do pecado e levar o catequizando a louvar a DEUS pela promessa do Salvador JESUS.

1 - Motivação: DEUS criou o homem à sua imagem e semelhança. DEUS viu que era muito bom!

ü    Que você acha disso?
ü    Como está o mundo?
ü    Está do jeito que DEUS criou?  O que está diferente?
ü    (incentivar os catequizandos a participar)

Comentário - Seria mais ou menos como um projeto bem feito, bem intencionado e bem dimensionado por parte do criador do projeto, pelo projetista; porém, mal interpretado e mal executado por engenheiros, arquitetos, mestres de obra, pedreiros e financiadores, que somos nós. Como conseqüência, continuamos a ambicionar por uma paz que não vem, porque continuamos divididos.

O pecado (errar o alvo) – Gn 3,1-.21.23-25  – DEUS criou a terra para que o homem usufrua dela e possua vida plena, isto é, árvore da vida. A condição única é o homem se subordinar a DEUS: obedecer ao seu projeto de vida e fraternidade e não querer decidir por si mesmo o que é bem e o que é mal, isto é, comer o fruto da árvore do bem e do mal, a fim de não ser causa a espécie alguma de opressão e morte. 

A mídia nos apresenta o pecado com nome bonito, por exemplo: Temos o aborto que é “interrupção voluntária da gravidez”, não se refere a morte de um indefeso inocente que tem direito de viver.  Uma clínica de aborto recebe o nome inócuo, até atraente, Centro de Saúde Reprodutiva, o crime da eutanásia recebe o nome brandamente de morte com dignidade.

Os "males continuam quase invisíveis", porque a mídia os apresenta como "expressão do progresso humano", como exemplo casamento de pessoas de mesmo sexo.  

Enfim, são tantos os motivos que ajudaram a estragar o mundo. O homem não precisa de DEUS, ele mesmo pode resolver a situação com suas próprias idéias e um negativo progresso.

E muitos cristãos vão entrando nessa e questionam-se que a Igreja está atrasada!

E assim foi desde a origem e hoje veremos como tudo começou. O pecado original se refere à origem do mal e sofrimento de toda a humanidade, ou seja, os nossos primeiros pais, que a Bíblia chama de Adão e Eva. A raiz do mal está na escolha errada que a pessoa faz diante de DEUS, pois recusa assumir sua condição de criatura e tenta ocupar o lugar do Criador.

O pecado (errar o alvo) –  Gn 3,1-.21.23-25  – DEUS criou a terra para que o homem usufrua dela e possua vida plena, isto é, árvore da vida. A condição única é o homem se subordinar a DEUS: obedecer ao seu projeto de vida e fraternidade e não querer decidir por si mesmo o que é bem e o que é mal, isto é, comer o fruto da árvore do bem e do mal, a fim de não ser causa a espécie alguma de opressão e morte. 

Apesar de nada lhes faltarem e de gozarem da presença de DEUS, se deixaram seduzir pela serpente.  Eles livremente escolheram a desobediência, contrariando a ordem que haviam recebido de DEUS, para que não comessem do fruto da árvore que estava no meio  do jardim. Pecaram, viraram as costas para o DEUS de Amor, preferiram seus projetos aos projetos de DEUS.  Afastaram de DEUS, que é a fonte da vida e, em conseqüência, se aproximaram da morte.  A espada simboliza o poder de DEUS, preparada para fazer respeitar a sua proibição, fulminando a audácia de quem atrevesse a entrar no jardim.

O homem não quis depender de DEUS, ele quis fazer-se DEUS.  Tratou não somente de conhecer o bem e o mal, mas de constituir-se juiz soberano de suas próprias ações; direito que pertence somente ao Criador.  Pecado consiste em não confiar no amor de DEUS e em sua sabedoria; é confiar mais na força humana do que na força do alto.

Então, o homem, tentado pelo diabo, deixou morrer em seu coração a  confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de DEUS.  Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem.  “Todo pecado, daí em diante, será uma desobediência a DEUS e uma falta de confiança em sua bondade “– CIC 397.

Neste pecado, o homem preferiu a sim mesmo a DEUS, e com isso menosprezou a DEUS: optou por si mesmo contra DEUS, contrariando as exigências de seu estado de criatura e conseqüentemente de seu próprio bem. “Constituído em um estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente divinizado” por DEUS na glória.  “Pela sedução do diabo, quis “ser como DEUS”, mas sem DEUS, e antepondo-se a DEUS, e não segundo DEUS”. CIC 398

Quando DEUS ordenou: “Não comereis o fruto, senão morrereis”, não se referia à morte biológica de separação da alma do corpo, mas à desintegração do próprio homem ao separar-se daquele que é a vida.

Vemos no texto que o homem preferiu comer o fruto misterioso que apresentava ter poderes mágicos.  Esta foi a sua primeira frustração, pois logo que o provou, em vez de saciá-lo e satisfazê-lo, produziu um efeito contrário: o homem tomou consciência de que lhe faltava alguma coisa: suas vestes, de que está nu... Perde DEUS e procura coisas das quais sente falta e isso nunca o satisfaz.  O homem perde o seu alvo, seu ponto de referência e sente nele um grande vazio que é a falta de DEUS.

Árvore da vida – é a prova a que o homem foi submetido, a fim de lhe pedir um ato de reconhecimento da autoridade de DEUS e de sua dependência Dele.  E isso é fácil de entendermos; quando amamos muito alguém nós queremos cuidar dela, não é assim? DEUS nos ama demais!
Não se trata de omnisciência ou discernimento moral que o homem já possuía. Trata-se da faculdade determinar o que é bem e o que é mal, privilégio reservado somente a DEUS, única norma suprema a qual todos as leis e consciência dos homens devem submeter-se. A Primeira humanidade tentara usurpar, com o pecado esse privilégio de DEUS. Visou a ter faculdade de decidirem por si mesmos o que é bom e o que é mau sem ter que depender de DEUS e assim se tornarem autônomo moralmente.  E para nos falar isso o autor sagrado usa da figura da árvore.

O que significa a árvore, a maça?
O que está por trás de toda esta simbologia é o estilo literário.  Comer das árvores do jardim, exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Esta expressão, este modo de falar, que o autor usa para dizer que o homem tem na vida duas opções: ser sábio e ter a vida (“comer das árvores do paraíso”, isto é, obedecer às Leis de DEUS) ou ser ignorante e encontrar a morte (“comer da árvore do bem e do mal = seguir suas próprias ideias”).  A maça não é mencionada em nenhum texto bíblico.  Esta ideia surgiu de pinturas clássicas (fruto mais bonito) e daí surgiu a ideia de tentação.  No livro do gênesis ”fruto” simboliza a eterna tentação do homem em não querer conhecer-se como criatura diante de DEUS, mas querer comportar-se por si mesmos.   Comer a maça então significa: deixar DEUS e seguir suas próprias ideias é querer seguir imprudentemente o próprio caminho.

E as folhas da figueira e a nudez?
O homem tomou consciência de sua situação e com medo e vergonha de DEUS não quis olhar para Ele.  Era preciso fugir Dele!  Com essa atitude tomada, o homem se sentiu nu.  Então, a nudez descrita em Gn3, 7-8 é a tomada de consciência do homem diante de DEUS. A folha da figueira nos mostra o medo do homem depois de uma trágica experiência feita. É preciso cobrir-se, ou seja, o erro foi descoberto, percebido; era preciso, pois, tentar ocultá-lo. A reação é a mesma de pessoa que é surpreendida nua! Já constataram isso?

Uma vez feita a experiência contra DEUS, o homem percebeu imediatamente o mal que acabara de praticar; sentiu toda a frustração que essa experiência amarga lhe trouxera e a desilusão; sentiu-se sem argumentos diante de DEUS, que já o prevenira anteriormente; tomou consciência da situação e com medo não quis olhar para DEUS, não quis enfrentá-lo! O homem preferiu a fuga.

Isso em nossa vida quantas e quantas vezes acontecem.... Deixamos de nos reconciliar com DEUS e com os irmãos.  Preferimos guardar rancor a perdoar.  Javé DEUS expulsou o homem do Jardim do Éden para cultivar o solo de onde fora tirado.

E o rumor dos passos?   O rumor dos passos de DEUS e o esconder-se Gn3, 7-8. Isto foi a tomada de consciência, pelo homem, da burrada feita!  Ao fazer a experiência contra DEUS o homem percebeu que praticara o mal, sentiu frustrado pela experiência amarga e sentiu-se sem argumentos diante de DEUS, pois Ele já o tinha prevenido. 
1)   Mostra o temor profundo do homem que errou voluntariamente: ele deve agora se encontrar com DEUS, dar-lhe satisfação por ter abandonado a Lei Divina.
2)   Mostra a ânsia do homem que espera em DEUS que lhe pedirá contas em breve!  Gn 3,8 nos diz que os passos de DEUS eram aguardados por ele como sinal de visita agradável de um amigo, como pecadores os mesmos passos são aguardados com temor e angústia Gn3, 8b.  E o esconder-se de DEUS descrito em Gn3, 8b.-10 -  é o símbolo do homem que se reconhece pecador.  Culpado e consciente; ainda não aberto à conversão; orgulhoso, prefere à fuga ao diálogo, a angústia à misericórdia e a paz que vêm de DEUS. Por exemplo, podemos citar tantas pessoas que não procuram DEUS arrumando desculpas para isso (comentar aqui as desculpas de Adão e Eva ao cometer pecado).

E a serpente?
A serpente no tempo em que o autor sagrado escreveu o Gênese era o símbolo da religião de Canaã, país em que vivia o povo de DEUS.  Era uma religião que não tinha compromissos éticos; religião mágica, idolátrica e praticava a prostituição.  Esse é um dos motivos da serpente ser o símbolo da fertilidade.

A serpente era símbolo também porque representava, primeiramente, o órgão sexual masculino reprodutor da vida, e depois porque soltando a pele periodicamente sua pele e renovando-se sempre, a serpente tornava-se símbolo da vida eterna! E esses elementos entraram então, na mitologia.  A serpente também é traiçoeira, venenosa, mata.  No  livro do Apocalipse, o símbolo é ampliado e ela se torna um grande dragão (Ap12,9) que representa Satanás, isto é a força do pecado e da morte que se opõe ao projeto de DEUS.

A religião citada atraía grande fascínio sobre o povo e muitas vezes o Povo de DEUS se deixava seduzir por ela.  Com esta prática religiosa foram trazidas sérias conseqüências para a vida do povo, e isto é fácil de acontecer, se o povo descompromissava com DEUS, ele também descompromissava com o próximo, isto é, com o seu semelhante.
E o povo de DEUS sempre sentiu a tentação de deixar a sua religião de aliança comprometida com DEUS para seguir a religião de Canaã. Mais sedutora, sem muitos compromissos, além de favorecer a prostituição, embora sob aparência de culto.  E hoje, tem alguém procurando religião à sua moda? Veja como o homem continua o mesmo!

Então a serpente é símbolo de traição a DEUS e à fé; símbolo de todo mal; daí surgiu a idéia que a serpente que mandou comer o fruto, e assim, o autor explica o pecado. 

Quando surgiu o pecado?
A origem do pecado é um mistério! Pois não existe nada comprovado em documentos.  O autor sagrado constatou que há pecado no mundo; constata que existe em cada pessoa a misteriosa e inexplicável tendência para o mal. Diante da Lei de DEUS, o homem é tentado a escolher o mal e não o bem.  E isso é um grande mistério profundo que se esconde no coração do homem.

O autor sagrado escreve uma verdade: o homem pecou, errou no passado porque ele peca e erra no presente e é claro que isso teve uma origem.  E para escrever tudo isso, o autor usa a linguagem e elementos do povo da sua época.  Como o autor descreveria o pecado hoje?  Qual é o maior pecado de hoje? (refletir) E aí, tudo perdido? Não! Diante do pecado, DEUS faz uma promessa.

Qual foi a promessa?
DEUS promete então que o mal vai ser vencido definitivamente: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”, Gn3, 15 (grave com amor – quem será esta Mulher?).  DEUS prometeu que alguém descendente da mulher derrotaria o mal. De uma mulher nasceria Aquele que venceria definitivamente o mal e tiraria o pecado do mundo. É o primeiro raio de luz, o protoevangelho, com o qual DEUS “reergueu” os homens na esperança de salvação. Estamos diante da profecia, e ao mesmo tempo da promessa, maior e mais importante de todo o A T. O NT inicia-se com a realização desta promessa. 
Ah, se conhecêssemos o dom de DEUS! O tamanho de sua BONDADE!  Este PAI AMOROSO que te trouxe aqui neste encontro!   Quanta coisa poderia mudar! Quanta coisa iria abandonar na vida para que nunca mais se afastasse Dele!

DEUS age a favor da humanidade, mas ela não corresponde e continua na vida de pecado.
Abel e Caim – Gn (4,1-15) – Neste texto podemos ver que a luta do mal contra o bem, ou dos maus contra os bons, os quais, porém, usufruirão sempre da proteção de DEUS que se erguerá em seu favor, auxiliando-os ou vingando-os. Também com os maus, entretanto, DEUS dará provas de bondade, avisando-os sempre pela voz da consciência – Gn 4,6-7, avisa Caim antes do pecado e no próprio castigo mostra-se misericordioso; põe um sinal em Caim!  Que misericordioso é o nosso DEUS!

“Quem matar Caim será sete vezes castigado” Gn 4,15. Com isso, o autor quis nos mostrar o desejo de DEUS em eliminar o pecado.  DEUS mostra misericórdia para com Caim colocando-o um sinal. E ainda pergunta pelo seu irmão e ele responde (voz da onsciência): Por acaso sou guarda do meu irmão? Gn 4,9. Nós prestaremos contas a DEUS dos nossos irmãos.  Isso vem nos lembrar que ninguém se salvará sozinho.

“Tu o dominarás” Gn 4,7 – Veja o que nos diz a Palavra de DEUS! Esta verdade é profunda e nos dá a certeza que podemos lutar contra o pecado, pois aparece com toda clareza que o pecado original, embora tenha privado o homem da vida divina, tenha desperdado nele a concuspiscência (desejo intenso, apetite, vontade), não lhe tirou, todavia, as faculdades essenciais: inteligência (escolher) vontade e liberdade.

O homem usa a liberdade e a vontade e optam para o mal e assim  há uma verdadeira “invasão” do pecado que inunda o mundo: o fratricídio cometido por Caim contra Abel e a corrupção universal em decorrência do pecado na  história de Israel. O pecado se manifesta freqüentemente e sobretudo como uma infidelidade ao DEUS da Aliança.

Um detalhe importante que podemos ver no texto: É que não está dito o porquê DEUS preferiu Abel a Caim.  Isto significa a liberdade de DEUS na escolha.  É isso! DEUS é totalmente livre e usou de sua liberdade para trazer você aqui hoje. Para que? (pausa) Para revelar a você que apesar do pecado Ele é apaixonado por você!

Fontes consultadas
Bíblia – PASTORAL (Editora Paulus).
Catecismo da Igreja Católica.
Apostilas Mater Ecclesiae (Dom Estevão Bettencourt).
Revista BRASIL CRISTÃO.
Revista ECOANDO editada pela Paullus.
FOLHA CATEQUÉTICA (Centro Pastoral Popular).
Fé, Vida e Comunidade - (exemplar do Catequista), editado pela Paulus.
Conheça a Bíblia – Ivo Storniolo.
Livro: Perguntas que o povo faz – Frei Mauro Strabeli.
Site do Santuário Nossa Senhora Aparecida – Evangelizando (Meditação do Dia)
Site do Convento Santo Antonio – RIO TOTAL/BOANOVA/
Pedro, Discípulo e Pastor – Prado Flores.
O Manual da Felicidade – O Sermão da Montanha - Pe. Alberto Gambarini.

“DEUS CARITAS EST” = “DEUS É AMOR”


“Deus caritas est” (“Deus é amor”)
Comentário da primeira encíclica de Bento XVI:
O cristianismo não reprime o amor, eleva-o!

        No nono mês de seu pontificado, Bento XVI publicou sua primeira encíclica, dedicada a mostrar como o cristianismo não reprime o amor, mas o eleva. «Deus caritas est» («Deus é amor») responde a uma das objeções mais comuns apresentadas à Igreja. «Com os seus mandamentos e proibições pergunta o Papa, a Igreja não nos torna porventura amarga a coisa mais bela da vida?». A encíclica responde à pergunta articulando-se em duas partes: a primeira reflete sobre o amor em suas diferentes manifestações e em sua origem, Deus; a segunda discute a maneira em que a Igreja, como instituição, deve viver o mandamento do amor.

A PESSOA «objeto»

        O Papa começa esclarecendo uma confusão generalizada, segundo a qual a Igreja condenaria o «eros» (o amor de atração) para aceitar unicamente o «ágape» (amor de entrega desinteressada). «Hoje não é raro ouvir censurar o cristianismo do passado por ter sido adversário da corporeidade; a realidade é que sempre houve tendências neste sentido», reconhece no número 5. Agora, esta confusão se dá quando se concebe «o “eros” degradado a puro “sexo”. Nesse caso, «torna-se mercadoria, torna-se simplesmente uma “coisa” que se pode comprar e vender; antes, o próprio homem torna-se mercadoria». Segundo o Papa, esta concepção do amor implica «uma degradação do corpo humano, que deixa de estar integrado no conjunto da liberdade da nossa existência, deixa de ser expressão viva da totalidade do nosso ser, acabando como que relegado para o campo puramente biológico». Corpo e alma «Ao contrário ilustra, a fé cristã sempre considerou o homem como um ser uni-dual, em que espírito e matéria se compenetram mutuamente, experimentando ambos precisamente desta forma uma nova nobreza».
            Certamente, insiste a encíclica, «o “eros” quer-nos elevar “em êxtase” para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos». O desenvolvimento do amor «para níveis mais altos, para as suas íntimas purificações», explica, leva que «procure agora o caráter definitivo, e isto num duplo sentido: no sentido da exclusividade — “apenas esta única pessoa” — e no sentido de ser “para sempre”». Deste modo, constata, «o “eros” orienta o homem para o matrimônio, um vínculo por seu caráter único e definitivo: e só assim se realiza seu destino íntimo». O texto reconhece que «o amor é “êxtase”; êxtase, não no sentido de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus» Cristo, modelo do amor «mais radical»
        O exemplo «mais radical» deste amor, segundo o sucessor de Pedro, é Cristo na cruz, quando «cumpre-se aquele virar-se de Deus contra Si próprio, com o qual Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-lo». «O olhar fixo no lado trespassado de Cristo, de que fala João (cf. 19, 37), compreende o que serviu de ponto de partida a esta Carta Encíclica: “Deus é amor” (1 Jo 4, 8). É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar».

A SOCIEDADE TEM NECESSIDADE DE AMOR

        A segunda parte da carta encíclica leva por título «A prática do amor pela Igreja enquanto “comunidade de amor”». O texto, reconhece que o amor «será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor». «Sempre haverá sofrimento que necessita de consolação e ajuda --constata--. Haverá sempre solidão. Existirão sempre também situações de necessidade material, para as quais é indispensável uma ajuda na linha de um amor concreto ao próximo». O Estado adverte o Papa, «que queira prover a tudo e tudo açambarque, torna-se no fim de contas uma instância burocrática, que não pode assegurar o essencial de que o homem sofredor — todo o homem — tem necessidade: a amorosa dedicação pessoal». «O marxismo tinha indicado, na revolução mundial e na sua preparação, a panacéia para a problemática social: através da revolução e conseqüente coletivização dos meios de produção — asseverava-se em tal doutrina — devia dum momento para o outro caminhar tudo de modo diverso e melhor. Este sonho desvaneceu-se». «Não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apóie, segundo o princípio de subsidiariedade, as iniciativas que nascem das diversas forças sociais e conjugam espontaneidade e proximidade aos homens carecidos de ajuda». A Igreja é «é uma destas forças vivas», constata. Com seu amor, «não oferece aos homens apenas uma ajuda material, mas também refrigério e cuidado para a alma — ajuda esta muitas vezes mais necessária que o apoio material».

A ATIVIDADE CARITATIVA ECLESIAL

        Neste contexto, o Papa oferece em três pinceladas o «perfil específico da atividade caritativa da Igreja». Em primeiro lugar, assinala, a atividade caritativa cristã, além de competência profissional, exige a experiência de um encontro pessoal com Cristo, cujo amor tocou o coração do crente, suscitando nele o amor pelo próximo. Em segundo lugar, «a atividade caritativa cristã deve ser independente de partidos e ideologias. Não é um meio para mudar o mundo de maneira ideológica, nem está ao serviço de estratégias mundanas».
            O programa do cristão «o programa de Jesus» «é “um coração que vê” indica. Este coração vê onde há necessidade de amor, e atua em conseqüência. Obviamente, quando a atividade caritativa è assumida pela Igreja como iniciativa comunitária, à espontaneidade do indivíduo há que acrescentar também a programação, a previdência, a colaboração com outras instituições idênticas». Em terceiro e último lugar, « a caridade não deve ser um meio em função daquilo que hoje é indicado como proselitismo. O amor é gratuito; não é realizado para alcançar outros fins». «O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando falar somente o amor». Como fazia também João Paulo II, Bento XVI põe em sua conclusão os exemplos de caridade deixados pelos santos em três ocasiões cita a beata Teresa de Calcutá e conclui com um diálogo com a Virgem Maria, que nos ensina «o que é o amor» e «onde este tem a sua origem e recebe incessantemente a sua força».

SOBRE O AMOR CRISTÃO
«Deus é amor; quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele» (1 Jo 4, 16). Estas palavras, com as quais se inicia a Encíclica, exprimem o centro da fé cristã. Num mundo em que o nome de Deus é por vezes associado a vingança ou mesmo ao dever do ódio e da violência, esta é uma mensagem de grande atualidade. A Encíclica é composta por duas partes. A primeira parte oferece uma refexão teológico-filosófica sobre o «amor» nas suas diversas dimensões - eros, philia, agape – especificando alguns factos essenciais sobre o amor de Deus pelo homem e a intrínseca ligação que tal amor tem com o humano. A Segunda parte trata do exercício concreto do mandamento do amor ao próximo.

Primeira parte

            O termo «amor» tornou-se uma das palavras mais usadas e mesmo abusadas do mundo de hoje; possui um vasto campo semântico.  Em toda esta gama de significados, porém, sobressai como arquétipo de amor por excelência o amor entre o homem e a mulher que, na antiga Grécia, tinha o nome de eros. Na Bíblia, e sobretudo no Novo Testamento, o conceito de «amor» é aprofundado – um desenvolvimento que se exprime na marginalização da palavra eros em favor do termo agape, que exprime um amor oblativo. Esta nova visão do amor, uma novidade essencial do Cristinanismo, foi considerada como a recusa do eros e da corporeidade. Apesar de se terem verificado tendências deste género, o sentido deste nova visão, deste aprofundamento, é outro. O eros, colocado na natureza do homem pelo seu próprio criador, precisou de disciplina, de purificação e de maturação para não perder a sua dignidade originária e não se degradar em puro «sexo», transformando-se numa mercadoria.
            A fé cristã sempre considerou o homem como um ser no qual o espírito e matéria se encontram em íntima unidade, experimentando ambos precisamente desta forma uma nova nobreza. O desafio de eros pode dizer-se superado quando, no homem, corpo e alma se encontram em perfeita harmonia. Então o amor torna-se «êxtase»; êxtase, não no sentido de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus: deste modo o eros pode elevar o ser humano «em êxtase» até ao Divino.
            Na realidade, eros e agape nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor. Mesmo que o eros seja, numa fase inicial, sobretudo desejo, far-se-á cada vez menos perguntas sobre si próprio, procurará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais com ele, doar-se-á e desejará «existir para» o outro: Assim se insere nele o momento da agape.
Em Jesus Cristo que é o amor encarnado o eros-agape assume a sua forma mais radical. Na morte na cruz, Jesus, entregando-se para levantar o homem e salvá-lo, exprime o amor na sua forma mais sublime.
            A este acto de oferta Jesus assegurou uma presença duradoura através da instituição da Eucaristia, na qual, sob as espécies do pão e do vinho, se entrega a Si próprio como novo maná que nos une a Ele. Participando da Eucarístia , também nós somos envovidos na dinâmica da sua doacção. Unimo-nos a Ele e ao mesmo tempo a todos os outros aos quais ele se entrega; tornamo-nos assim «um só corpo». Desta forma, o amor a Deus e o amor ao próximo estão agora verdadeiramente juntos. O duplo mandamento, graças a este encontro com o agape de Deus, não é apenas mera exigência: o amor pode ser «mandado», porque antes nos é dado.

Segunda parte

            O amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever antes de mais para cada um dos fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesial inteira, que, na sua actividade caritativa, deve respeitar o amor trinitário. A consciência de tal dever teve relevância constitutiva na Igreja desde os seus inícios (cfr Act 2, 44-45) e bem depressa se manifestou a necessidade de uma certa organização, pressuposto da sua mais eficaz implementação. Assim, na estrutura fundamental da Igreja emerge a «diaconia» como serviço de amor ao próximo exercido comunitariamente e de forma ordenada – um serviço concreto, mas ao mesmo tempo também espiritual (cfr Act 6, 1-6). Com a progressiva difusão da Igreja, a prática da caridade confirmou-se como um dos seus âmbitos essenciais. A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), celebração dos Sacramentos (leiturgia), serviço da caridade (diakonia). São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros.
            No final do século XIX, contra a actividade caritativa da Igreja é levantada uma objecção fundamental: esta estaria em contraposição – dizia-se – com a justiça, acabando por agir como sistema de conservação do status quo. Com a prática de obras de caridade individuais, a Igreja favorecia a manutenção de um sistema injusto e tornava-o simultaneamente mais suportável, refreando o potencial revolucionário e, consequentemente, bloqueanda a reviravolta em direcção a um mundo melhor. Neste sentido, o marxismo tinha indicado, na revolução mundial e na sua preparação, a panaceia para a problemática social - um sonho que entretanto se desvaneceu. O Magistério Pontíficio a começar com a Enciclica Rerum novarum de Leão XIII (1891) e terminando com a trilogia de Enciclicas Sociais de João Paulo II (Laborem exercens [1981], Sollicitudo rei socialis [1987], Centesimus annus [1991]) enfrentaram com crescente insistência a questão social, e no confronto com a situações e problemas sempre novos desenvolveram uma doutrina social muito articulada, que propõe orientações válidas muito para além das fronteiras eclesiais.
      Todavia, a criaçãode uma ordem justa da sociedade e do Estado é competência central da política, não podendo assim ser encargo imediato da Igreja. A doutrina social católica não pretende conferir à Igreja um poder sobre o Estado, mas simplesmente purificar e iluminar a razão, oferecendo o seu próprio contributo para a formação da consciência, para que a verdadeira exigência da justiça possa ser apercebida, reconhecida e, depois, também realizada. Todavia não é nenhum ordenamento estatal que, por muito justo que seja, pode tornar supérfluo o serviço do amor. Um Estado, que queira prover a tudo e tudo açambarque, torna-se no fim de contas uma instância burocrática, que não pode assegurar o essencial de que o homem sofredor — todo o homem — tem necessidade: a amorosa dedicação pessoal. Quem quer desembaraçar-se do amor dispõem-se a desembaraçar-se do homem enquanto homem.
            No nosso tempo, um positivo efeito colateral da globalização manifesta-se no facto que a solicitude pelo próximo, superando os confins da comunidade nacional, tende a alargar os seus horizontes ao mundo inteiro. A estrutura do Estado e as associações humanitárias favorecem de vários modos a solidariedade expressa da sociedade civil: são assim formadas múltiplas organizações de âmbito caritativo e filantrópico. Na Igreja Católica e noutras Igrejas e Comunidades eclesiais, também apareceram novas formas de actividade caritativa. Entre todas estas entidades é desejável que se estabeleça uma colaboração frutuosa. Naturalmente é importante que a actividade caritativa da Igreja não perca a sua própria identidade dissolvendo-se numa organização assistencial comum e tornando-se uma simples variante desta, mas mantenha todo o espelndor da essência da caridade cristã e eclesial. Assim:

- A atividade caritativa cristã, para além da competência profissional, deve basear-se sobre a experiência de um encontro pessoal com Cristo, cujo amor tocou o o coração do crente suscitando nele o amor pelo próximo.

- A atividade caritativa cristã deve ser independente de partidos e ideologias. O programa do cristão — o programa do bom Samaritano, o programa de Jesus — é «um coração que vê».

- A caridade não deve ser um meio em função daquilo que hoje é referido como proselitismo. O amor é gratuito; não é realizado para alcançar outros fins. Isto, porém, não significa que a acção caritativa deva, por assim dizer, deixar Deus e Cristo de lado. O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando falar somente o amor. O hino à caridade de S.Paulo (cfr 1 Cor 13) deve ser a Magna Carta de todo o serviço eclesial para proteger do risco de se degradar em puro activismo.

            Por fim, neste contexto, e face ao secularismo vigente que pode condicionar até muitos cristãos empenhados no trabalho caritiativo, é necessário reafirmar a importância da oração. O contacto vivo com Cristo evita que a experiência da incomensurabilidade das necessidades e dos limites da acção própria possa, por um lado, fazer-nos cair na ideologia que pretende realizar agora aquilo que o governo do mundo por parte de Deus, pelos vistos, não consegue, ou por outro lado, tornar-se tentação de ceder à inércia e à resignação. Quem reza não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a acção, nem pretende mudar ou corrigir os planos de Deus, mas procura - sob o exemplo de Maria e dos Santos – atingir em Deus a luz e a força do amor que vence toda a obscuridade e egoísmo presente no Mundo.



FONTE: Carta Encíclica - Deus Caritas Est (sobre o amor cristão) - do Sumo Pontífice Bento XVI - Editora: Paulinas - São Paulo - Brasil - 2006.

FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.

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