A MORTE UM DESAFIO PARA O HOMEM
Desde a queda o homem se depara com uma condição frágil,
limitada finita, por conseguinte a morte. A morte tornou-se para o homem um
grande desafio. Diante da morte o homem sente um pavor, percebe sua fraqueza,
percebe sua finitude. O homem marcha para a morte e ele sabe muito bem disso
(RAHNER, 1989: 319). O homem sabe que vai morrer e com este saber constata-se
nele uma grandeza porque entre todas as criaturas é única que tem a capacidade
de pensar, mas devido este saber ele se angustia por compreender que sua
natureza humana se encontra numa condição frágil, limitada e, por conseguinte
finita. Mas no homem se encontra uma abertura para Deus por ter sido criado
imagem e semelhança do Criador. É na autotranscendência que o homem transcende
infinitamente a si mesmo (cf. PASCAL apud RABUSKE, 1986: 9) para encontrar
Deus, mesmo existindo nele uma condição de natureza finita.
O homem por sua condição finita sempre vive procurando
algo que preencha o vazio que sente pela ausência de Deus devido, por isso,
muitas vezes se ver angustiado, triste e infeliz por sentir-se às vezes
distante de tal fato. Mas, Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em
Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar
(CIC, 1999: 21). Neste sentido o salmista afirma: alegre-se o coração dos que
buscam o Senhor (Sl 105, 3). Ele permanece basicamente sempre a caminho (cf.
RAHNER, 1989: 46). O homem não sai dos confins do próprio ser para mergulhar no
nada, mas sai de si mesmo para lançar-se para Deus, o qual é o único Ser capaz
de levar o homem à realização eterna e perfeita de si mesmo (cf. MONDIN, 1980:
69).
O homem, só é homem na medida em que está a caminho de
Deus, se ele sabe disto explicitamente ou não, se ele aceita isto ou não, pois
ele é, em sua essência, a abertura infinita do finito a Deus (cf. RAHNER apud
OLIVEIRA, 1984: 158). Deus é o infinito que o homem tanto procura para
encontrar uma resposta firme que alivie sua ansiedade e responda à pergunta implícita
da finitude em que se encontra. Deus é o ser absoluto, o fundamento absoluto, o
mistério absoluto, o bem absoluto, o horizonte definitivo e absoluto em cujo
interior se realiza a existência humana (cf. HAHNER, 1989: 94). Nesta
reciprocidade de abertura-relação, Deus também se manifesta e se dirige ao ser
humano, vemos isto na revelação bíblica (por meio dos profetas) que a história
nos apresenta através do povo Judaico. Destaca-se de forma eminente o povo
judaico na perspectiva de compreender e de relacionar-se com Deus como o
absolutamente transcendente presente na história, pois esta foi uma das suas
maiores conquistas, que é verbalizada no Antigo Testamento.
Mediante isto, no âmbito da visão cristã precisamente no
Antigo Testamento e Novo Testamento vemos duas perícopes (1 Reis, 17, 17-24 /
Lucas 7, 11-17) onde encontramos situações de mortes. Nos dois casos
encontramos uma mulher viúva que perde o único filho e um homem de Deus que lhe
restitui a vida. Mais do que as evidentes semelhanças, devemos, porém, destacar
uma diferença significativa: enquanto Elias é só um profeta que, para conseguir
o milagre, precisa invocar o Senhor da vida, Jesus é mais do que um profeta, é
o próprio Senhor da vida, e por isso não recorre a ninguém; ressuscita o jovem
só com a força da sua palavra. Lucas por sua vez o chama de “Senhor” (O Senhor,
ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe: “Não chores!” / Lc, 7, 13). A palavra de
“Senhor” no Antigo Testamento era reservada só a Deus. Lucas aqui o aplica –
pela primeira vez no seu Evangelho – a Jesus; deste modo quer que os cristãos
das suas comunidades entendam que, em Jesus, o Deus da vida veio encontrar os
homens aflitos e derrotados pelo drama da morte. Jesus não manifesta ser o Deus
da vida porque impede os homens de deixarem este mundo, mas porque, fazendo com
que passem através da morte, os introduz num mundo novo, porque lhes comunica a
sua própria vida.
Olhar o mundo de hoje com o espírito crítico e derrotista
de quem já não acredita em melhora é atitude comum de grande maioria, mas quem
vive uma experiência de fé sabe; quão possíveis e maravilhosas são as visitas
de Jesus nos momentos de atribulações ou desconsolos. Essas visitas possuem o
colorido místico dos milagres, capazes de ressuscitar em nós uma esperança maior
e uma vida nova. Corriqueiramente, somos tentados a olhar a vida, o mundo, as
pessoas, com o espírito fechado às maravilhas de Deus. Detectamos, por
primeiro, a desoladora ameaça da morte, quando, pela revelação de nossa fé,
deveríamos ser luz de nova esperança, num mundo em trevas. A vida é ordem, é
ação, é coragem... “Jovem, eu lhe ordeno, levanta-te!”
Síntese para melhorar sua reflexão acerca
Do evangelho de LUCAS
7, 11-17
Ø Relacionar com o episódio de Elias (perícope do livro de 1
Rs. 17).
Ø Relacionar os dois cortejos (a comunidade cristã e a
humanidade);
Ø O título de Senhor (Jesus é o Deus da vida);
Ø Jesus se compadece da viúva;
Ø Jesus toca no ataúde;
Ø A vitória de Jesus sobre a morte;
Ø Na comunidade Lucana havia muitas viúvas (Lucas convida os cristãos
com a catequese a olharem para tais mulheres com o olhar de Cristo) devem ser
amadas, amparadas e respeitadas.
Referências:
ARMELLINI, Fernando, Celebrando a Palavra – Ano C, Editora:
Ave-Maria, São Paulo, Brasil, 1998.
Bíblia de Jerusalém, Editora:
Paulinas, São Paulo, Brasil, 2002.
CATECISMO
DA IGREJA CATÓLICA, Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1999.
LUCAS, Evangelho Segundo, Os Evangelhos passo a passo / Vol. II,
O Recado Editora Ltda. São Paulo, Brasil, 2002.
MONDIN, Bastista, Introdução à Filosofia, Problemas –
Sistemas – Autores – Obras, Coleção Filosofia 2, Edições Paulinas, São Paulo,
Brasil, 1980.
OLIVEIRA, Manfredo Araújo, Filosofia Transcendental e Religião, Ensaio
Sobre a Filosofia da Religião em Karl Hahner, Edições Loyola, São Paulo,
Brasil, 1984.
RABUSKE, Edvino A., Antropologia Filosófica, Editora Vozes
Ltda, Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil, 1986.
RAHNER, Karl, Curso Fundamental da Fé, Coleção:
Teologia Sistemática, Edições Paulinas, São Paulo, Brasil, 1989.
Nenhum comentário:
Postar um comentário