INTRODUÇÃO
Em uma pequena aldeia. A Vila de Ars,
ao norte de Lyon, na França, na época com duzentos e trinta habitantes, começou
a atrair uma multidão de visitantes. Por que tantas pessoas iam a essa vila?
Para verem o belo ensinamento e vida dedicada do padre João Maria Vianney.
Tinham sempre um objetivo ao chegar
em Ars: ver o cura e confessar-se com
ele, e se esperando longas horas ou até
a noite inteira. Homem de oração e exemplo pastoral, não era um grande
argumentador, mas amava muito o seu ministério e se doava por inteiro ao
serviço, sendo o seu exemplo e sua palavra, fazendo dessa pequena aldeia uma
comunidade fervorosa e exemplar.
Estimado pelos moradores de seu
vilarejo, com uma fama que ultrapassou Ars, João Maria Vianney tornou-se um
grande padre, exemplo e testemunho, em que todo o seu ministério concentra-se
numa fé autêntica, no amor ao evangelho, na Eucaristia e na penitência,
tornando-se um grande confessor.
Mesmo existindo e encontrando
dificuldades, soube perceber no seu amor incondicional por Deus, o seu remédio
e, assim, a palavra de Deus tornou-se sempre “lâmpada e luz” para o seu serviço
pastoral.
1. A ORAÇÃO
Percebemos o valor da oração, meditação, quando nos deparamos com
o próprio Jesus, pois Cristo vivia sempre em unidade com o Pai. São João
Vianney recorria sempre à oração, entrava na oração de Jesus, fazendo-se assim
um discípulo de seu mestre.
São João Maria Vianney sempre recorreu à oração. Não só tinha um
simples diálogo diante do Santíssimo Sacramento, mas mostrou-se um verdadeiro
homem interior, que podia viver segundo a ação do Espírito Santo. Ele ensinava
que esse caminho interior deveria ser feito por todos, não para anular um
acontecimento ou mudá-lo, mas para ter Deus sempre presente na vida.
A sua ação no dia-a-dia era sempre abastecida por tantas vigílias
que fez várias vezes, para preparar-se, assumir e enfrentar a missão de
apascentar, muitas vezes achando-se indigno, mas que sua oração, endereçada a
Jesus Cristo, o fortalecia nessa relação espiritual. Impressionante o fato de
que todos os dias, a começar de madrugada, antes de iniciar os seus trabalhos
diários, de entrar em contato com o povo de Ars, sua atitude de homem de oração
demonstra um discernimento sério, frente á vocação escolhida e que tanto amou.
Ele discerniu bem, foi orientado nesse encontro pessoal com Cristo
a fazer da vida pastoral não uma rotina, mas sua oração o levou a escolher o
melhor para aquele povo simples daquela aldeia. Ao retirar-se, São João Maria
Vianney despertou também a vontade do povo, ensinou o povo a encontrar-se com
Jesus Cristo. Fez aquelas simples pessoas verem que através do silêncio Deus se
faz presente.
Percebemos assim, que como Jesus era o enviado do Pai, Ele que
muitas vezes se encontrava com o Pai através da oração, onde dizia “o Pai e eu
somos um” (Jo, 10, 30), São João Maria zelava por esse encontro com Cristo,
participando da oração do povo. Ele dava ação de graças e o seu louvor através
do seu semblante simples, mas que transmitiu muito bem os frutos da oração,
acolhendo a ação do Espírito Santo, descobrindo esse amor de Deus por nós através
de seu filho. Fazendo o mesmo chamado a Samuel: “Veio Iahweh e ficou ali
presente. Chamou, como das outras vezes: ‘Samuel!’, e Samuel respondeu: ‘Fala,
pois teu servo ouve’” (1Sm 3, 10).
2. A Palavra de Deus
São João Maria Vianney realizou de
maneira tão exemplar essa união importantíssima: oração e Palavra de Deus, em
que sua oração pessoal diante do Santíssimo Sacramento com a Palavra
proclamada, onde o diálogo íntimo, com a escuta da Palavra, se dá a abertura do
coração, tornando-se sempre “lâmpada e luz” para o seu serviço pastoral.
O que o levou a exercer essa união
foi o grande amor que ele tinha a Deus, não entendendo, às vezes, por que
muitas pessoas não “ardessem” por esse amor. Ele percebia que muitos viviam
afastados de Deus por causa do pecado, sendo a ternura de Deus infinita.
Apoiava-se sempre na misericórdia de Deus, condenando sempre o pecado, mas a
bondade de Deus e seu amor era oferecido a todos. Liberava em suas simples
palavras o que meditava em oração, revelando o íntimo de seu coração.
Sempre esteve nesse caminho,
deixando transparecer, em suas
pregações, o modo como todos deveriam se comportar, como Cristo, onde a vida
deve sempre vir dos ensinamentos da Palavra de Deus.
Não chegou a ser um grande orador,
mas tornou-se um testemunho humilde do Evangelho, apaixonado, convicto e
convincente. Dizia que a Palavra de Deus era o meio mais eficaz e entrava no
coração dos irmãos, tornando-se um caminho para alcançar a unidade e aumentar a
fé. Quando parecia estar cansado ou queriam obriga-lo a repousar, surpreendia
dizendo: “quando se trata de falar do bom Deus, ainda tenho muitas forças”.
Suas humildes palavras tornavam-se
palavras de Deus, pois sendo sacerdote disse algumas vezes: “qualquer que seja
o sacerdote, ele é sempre o instrumento de que se serve o bom Deus para
distribuir a Palavra”. Tentando assim orientar todos a uma verdadeira adesão a
Cristo e aos seus ensinamentos, levando a uma experiência profunda em que ele
mesmo era o grande exemplo.
3. Celebração da missa e dos Sacramentos
O sacerdote de Ars tinha um grande
zelo pela celebração, chegando a afirmar: “A frequência a missa é a maior ação
que podemos praticar”. Muitas vezes queria mostrar-se ameaçador, mas parava no
meio do caminho, como o pensamento em Jesus presente na Eucaristia.
Seus paroquianos eram atentos às
suas pregações, e muitos colegas sacerdotes o convidavam a celebrar em suas
paróquias, pois ele sempre reavivou o culto à Eucaristia. Durante a celebração,
na consagração, parava um pouco e meditava alguns minutos, percebendo que
Cristo colocava-se realmente em suas mãos.
Cristo colocava-se em suas mãos, e
em sua confiança, transmitia o mistério mais profundo e íntimo. Reconhecia-se
servo e amigo, cuja amizade e compromisso se renovavam todos os dias. Exercia
sempre essa amizade em palavras e pensamentos. Aprendendo assim a sempre
encontrar Jesus Cristo, fazendo sempre do seu agir um exemplo do próprio
Mestre.
Em seu encontro espiritual reavivava
sempre o compromisso pastoral em Ars, empenhado pelos pobres e por todos os
necessitados. Ao acordar, dirigia-se à igreja, passando alguns momentos de
oração diante do Santíssimo Sacramento, depois ia confessar. De uma e meia ou
duas da manhã até às seis ele atendia os penitentes. Celebrava a santa missa às
seis, no verão e às sete, no inverno. Mandou fazer uma cadeira e um
genuflexório para ver os penitentes, ouvi-los e falar com eles mais
familiarmente do que na penumbra do confessionário. Interrompendo as confissões
por volta das dez, onde ia ao altar-mor e, de joelhos, rezava o breviário.
Às onze parava, atendia ao pessoal que não tinha conseguido lugar
na igreja. Ensinava catecismo às crianças, mas sendo sempre observado pelos
peregrinos. Pelo meio dia, depois de ter se alimentado, mesmo de pé, entrava
para a casa paroquial, fechava a porta com tranca. Depois voltava à igreja e
confessava até cinco horas. Após um breve descanso, dirigia-se à sacristia,
onde atendi os homens até as sete ou oito horas.
Rezava o terço e as orações da noite com os presentes, depois
recolhia-se à casa paroquial. Recebia algumas pessoas e entre as nove e dez
horas se fechava em seu quarto. Terminava a leitura do breviário, rezava, lia
um pouco da vida dos santos e repousava por cerca de três ou até duas horas.
O bom confessor passava um bom tempo com os penitentes, mas só os
mesmos sabiam o que se passava quando vinham pedir o perdão de Deus. No inicio
de seu ministério São João Vianney tinha uma postura muito rigorosa. Para dar a
absolvição considerava que o penitente deveria estar inteiramente voltado para
Deus. Mas foi compreendendo pouco a pouco que precisa de um melhor
conhecimento, ou seja, adaptação.
A bondade profunda do seu coração, as inspirações do Espírito
Santo, os conselhos do seu bispo, Dom Devie, o impulsionou a renunciar a
severidade e tornar-se o homem do perdão e da misericórdia. Chegando a dizer:
“Poderia eu ser severo com pessoas que vêm de tão longe, que fazem tantos
sacrifícios, que muitas vezes são obrigados a se disfarçarem para virem até
aqui?”.
O Cura d’Ars atingia sempre o coração dos penitentes, pois ele
havia recebido de Deus uma graça especial, um dom, um carisma. Algumas palavras
de seu interlocutor ele percebia o restante e encontrava meios de tocar no
essencial. Entre belos testemunhos, após uma confissão, um homem meio confuso,
orientado por ele para comungar, meio duvidoso, saiu da confissão feliz, mas
achava-se indigno da Eucaristia. E o confessor disse: “Não diga que você não é
digno. É verdade, você não o é, mas precisa”.
REFERÊNCIAS:
JOULIN,
Marc. João Maria Vianney: o Cura d’Ars. São Paulo: Paulinas, 1985.
BÍBLIA DE
JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.
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