Conflito
Espiritual e Discernimento
Desde os
primórdios o homem vive na dinâmica de descobrir-se, ou seja, tem a vontade de alcançar
o significado último de sua existência. No entanto, o homem é um ser que
transcende ele mesmo, porque se ver e sabe que é também um ser espiritual e que
busca uma unidade de sentido e valores. Na busca constante dessa unidade o
homem se ver dividido, na luta de às vezes fazer sua vontade e a vontade de
Deus. É bem verdade que há em nós correntes que contrariam as que nos conduzem
a Deus. Seus efeitos nos fazem desviar da busca incessante de Deus, caindo
assim nas nossas satisfações pessoais.
Ora, existe
em nós uma vontade imensa de vivermos uma vida de santidade constante, mas às
vezes também vemos-nos diante de um pecado cometido. Para isso, é necessário
sim, criarmos em nós a dinâmica de uma maturidade de vida cristã. Onde tal
dinâmica, nos envolveria e nos colocaria diante de um combate espiritual permanente.
Sendo que esta é ao mesmo tempo uma ação da parte de Deus como que um amor
purificador que tem a capacidade de destruir o nosso egoísmo.
Na época
primitiva muitos atribuíam a fraqueza humana perante o mau, a espíritos
poderosos. No séc. XVIII acentua-se a tendência de eliminar qualquer elemento
sobrenatural, enquanto no séc. XX parece que os estudiosos ficaram mais
cautelosos de se posicionarem a este respeito. Diante da cultura bíblica, a
própria Bíblia admite a existência de forças poderosas que se opõem ao Reino de
Deus. Alguns autores dos livros apócrifos identificam que esta “força”
contrária ao projeto de Deus estaria relacionada com o anjo decaído chamado
Satã, que quis livrar-se do Criador para sujeitar a si as criaturas humanas.
O ser
humano é o autor dos atos maus que comete, mas não é o inspirador último: ele
não inventa o mal, pois este o procede e o ultrapassa; ele ouve a voz sedutora
(que vem daquela que é conhecida como a serpente = com seu poder de sedução) e
faz seu desejo enganoso. Diante desta possibilidade e para resgatar o homem todo,
vemos no Segundo Testamento a pessoa de Jesus (o Verbo que se encarnou para
resgatar a humanidade) para reparar a falta de Adão, libertando todo o ser
humano de sua escravidão e, como Filho de Deus restabelece o reino de seu criador
levando todo gênero humano ao triunfo diante de Deus. Mas, vale salientar que
para a Escritura, a experiência espiritual será sempre um combate, por isso é
preciso: a vigilância e o discernimento (Lc 9, 55; 1 Cor 12, 10; 1 Ts 5, 19-22;
1Jo 4, 1). Enquanto a vigilância se torna necessária o discernimento por sua
vez é a lucidez de saber o que Deus nos pede e a capacidade de harmonizar os
nossos desejos para vivermos em paz diante dos conflitos e dos movimentos
espirituais.
Mediante isto, para discernir o que significam
esses movimentos espirituais, a primeira condição é percebê-los. Querer
reconhecer e seguir as indicações de Deus supõe que exista em nós o desejo de
uma vida pessoal, a vontade de agir sobre os acontecimentos e não deixar-se
levar pelo sabor das influências e fantasias. A dinâmica da vida nos ensina que
Deus não costuma falar a nosso mundo de modo esplendoroso, os gestos de Deus
são simples é necessário aprender a lê-los. Deus comunica-se ao coração: aqui
germina a palavra e revela-se o sinal. É interpretando tais movimentos que
afluem em nós, que reconheceremos o que em nós é significado da parte de Deus.
Deus se comunica ao ser humano estimulando suas faculdades de conhecimento e
amor, à espera de uma resposta livre de sua parte.
É bom saber
que todo espírito oposto a Deus, quer seja o tentador, ou a “parte má” que
aflora em nós procura contrariar a obra de Deus. Contudo, quando alguém que
seguia o pecado (cometia vários males) é sacudido em sua quietude, perturbado
e, finalmente, trabalhado pelo remorso verdadeiro, este impulso vem da parte de
Deus. É próprio de Deus dar coragem, vigor, alento, paz, inspirações que levam
a amar e a servir, mesmo em meio às dificuldades da vida. As disposições que
podem surgir sendo elas boas ou más se denunciam reciprocamente: se estamos
orientados para o bem, a acolhida calma e espontânea de uma sugestão permite
dizer que ela provém do espírito fiel; se um pensamento nos agita e perturba, é
sinal de que destoa de nossas disposições, é pelo menos suspeito e, portanto,
precisa ser melhor analisado.
No curso
ordinário da vida espiritual, os movimentos que nos perpassam são como uma
linguagem indireta pela qual Deus nos conduz. O movimento que surge é um verdadeiro
intercâmbio de amor com Deus. Se este movimento nos perturba, inquieta ou
atemoriza, se o amor que desperta começa a se proliferar no imaginário, se o
amor a Deus torna-se uma fusão, esquecendo-se de que Deus é totalmente outro,
se o evento interior conduz a uma exaltação suspeita ou a sintomas estranhos,
isto significa que não tem nada a ver com a verdadeira consolação.
A
verdadeira consolação nos leva a abrir-nos a Deus e aos outros alargando assim
os nossos horizontes, enquanto a desolação é uma recaída sobre si mesmo, um
estreitamento de visão. A desolação ela pode surgir no homem através de uma
aridez espiritual, esta por sua vez é um tempo sem moções: permanece a vontade
de viver para Deus, mas os sentimentos desaparecem. A aridez espiritual coloca
o homem diante de uma ambiguidade: pode ser um tempo de tranquilidade, mas
também o início de uma desolação.
Por fim,
uma autêntica vivência de vida espiritual deve favorecer em nós o sentido real
da vida cristã. A dinâmica de uma vida espiritual deve nos encaminhar a uma
maturidade que nos manterá numa perpétua itinerância, da qual nos
proporcionará, a saber, ler qual é a vontade de Deus em nossa vida. Ela tanto
nos faz compreender os desejos de Deus como também nos coloca diante de seu
amor. Este amor de Deus deliberadamente nos liberta do domínio que tínhamos
sobres às coisas e as pessoas e nos faz abrir-se ao amor de Cristo que por sua
vez, nos proporciona liberdade de espírito, serenidade, mansidão, paz e nos dar
coragem para renunciar às coisas contrárias à vontade de Deus.
Referência: MONDONI, Danilo – Teologia da Espiritualidade – Coleção CES
– Edições Loyola – São Paulo – Brasil – 2000.
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.
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