INTRODUÇÃO
Santa Catarina de Sena
escreve em suas cartas tratando dos assuntos mais diversos e endereçando-as a
pessoas de diferentes posições sociais. Envia-lhes a religiosos, leigos,
sacerdotes, políticos, ao Papa, a famílias, aos encarcerados e tantas outras
pessoas. Ela procura colocar em evidência, ao iniciar suas cartas, uma breve
saudação e apresenta sempre o objetivo de cada carta, concluindo cada carta com
a frase: “Jesus doce, Jesus amor”.
Para poder apresentar o seu itinerário espiritual
procuramos tratar os
aspectos mais relevantes do seu pensamento, tomando por base o livro: As Cartas de Santa Catarina de Sena, o
qual traz 33 cartas das quase 400 “escritas” por Catarina.
Iniciamos, pois,
abordando a vida de Catarina de uma maneira muito abreviada, procurando apresentar
como viveu sua infância em Sena, sua juventude e como terminou seus dias na
cidade de Roma.
Posteriormente,
apresentamos Catarina como doutora das virtudes, já que foi proclamada doutora
da Igreja pelo Papa Paulo VI em 4 de outubro de 1970 e viveu uma vida voltada
totalmente ao amor às virtudes. E por fim, nos dedicamos a apresentar sua via
de perfeição, isto é, o seu itinerário espiritual, que nos mostra uma jovem
mulher cheia de sabedoria adquirida nos momentos de mais profunda oração e
solidão, alcançando uma vida de ascese onde se percebe uma santa com o coração
no céu e os pés na terra.
A VIDA DE
CATARINA DE SENA
Infância
Nascida em 25 de março de 1347 na cidade de Sena -
Itália, Catarina Benincasa era a
filha número 24 de um total de 25 filhos de Jacobo Benincasa e Lapa Piagenti. Sua
família de classe media-baixa da sociedade era composta basicamente por encanadores
e tabeliães e conhecida como "a festa dos doze", a qual, entre uma
revolução e outra, governou na cidade de Sena desde 1355 a 1368.
Catarina não teve uma educação formal, desde a mais
tenra idade mostrou seu gosto pela solidão e pela oração, e mesmo sendo menina,
aos sete anos, se consagrou à mortificação e fez voto de castidade. Aos doze anos
seus pais começaram a fazer planos de matrimônio para Catarina, mas ela reagiu cortando
todo seu cabelo e se trancando, com um véu sobre sua cabeça.
Para poder persuadir Catarina seus pais a obrigaram
a realizar tarefas domésticas muito pesadas, no entanto Catarina se fechou mais
ainda, totalmente convencida do que queria. Somente um acontecimento inusitado,
uma pomba que pousou na cabeça de Catarina enquanto orava, convenceu Jacobo da
sincera vocação de sua filha. Aos dezoito anos entrou para a ordem
Terceira da Santa Mãe e ali foi de todos os modos, provada em sua vocação
para a Igreja. Praticava longos períodos de jejum e alimentava-se somente da
Eucaristia.
Juventude
Provavelmente no carnaval de 1366 viveu o que
descreveu em suas cartas como um "Casamento Místico" com Jesus, na
basílica de São
Domingos de Sena, tendo diversas visões como a de Jesus Cristo no seu
trono com São Pedro e São Paulo, depois das
quais começou a adoecer cada vez mais e a demonstrar ainda mais seu amor aos
pobres. Neste mesmo ano seu pai morreu em Sena e se iniciou um golpe de Estado.
Os escritores defendem que em 1370 recebeu uma
série de visões do inferno, do purgatório e do céu,
depois disso escutou uma voz que lhe mandava sair de seu retiro e entrar na
vida pública. Começou
a escrever cartas a homens e mulheres de todas as condições sociais, mantendo
correspondências com as principais autoridades dos atuais territórios da Itália, rogando
pela paz entre as repúblicas da Itália e o regresso do papa a Roma. Manteve
prontamente correspondência com o Papa Gregório XI,
aconselhando-o a reformar o clero e a administração dos Estados
Pontifícios.
Durante o tempo que durou a peste de 1374, Catarina
ajudou a socorrer muitos dos que adoeceram sem mostrar nenhum cansaço, e ainda,
de acordo com os historiadores de sua época, se pode dizer que operou alguns
milagres. Pouco depois, em 1º de abril de 1375 na cidade
de Pisa, Catarina
recebeu os denominados estigmas invisíveis,
de modo que sentia dores, mas suas chagas não eram visíveis externamente.
Em junho de 1376, Catarina
foi enviada para Avinhão na França como embaixadora da República
de Florença com a finalidade de alcançar a paz daquela república com os Estados
Pontifícios e o Papa. A
impressão que Catarina causou no Papa significou o retorno da administração
eclesial para a cidade de Roma em 17 de janeiro de 1377.
Mais feliz em outras cidades da Itália, afirmou nelas
a sua fidelidade à Santa Sé. Respondeu
a questões capciosas de alguns sábios e de vários bispos, de um modo que os
confundia. Com muito esforço e imensas dificuldades, reconciliou os florentinos
com o Papa Urbano VI, sucessor
de Gregório XI, pendurando
em 18 de julho de 1378 um ramo de
oliveira no Palácio como sinal de paz.
Morte
Retirou-se logo a mais profunda solidão, porém o
problema do cisma dos
anti-Papas a fez sair para intervir neste caso. Apoiou o Papa romano Urbano VI, o qual a
convocou a comparecer a Roma, onde viveu até o dia de sua morte em 29 de abril de 1380, com a idade
de trinta e três anos. Foi sepultada na Igreja de Santa Maria Minerva em Roma, e o seu crânio foi levado à Igreja de São
Domingos de Sena em 1384 e um pé se
encontra em Veneza.
Entre os principais seguidores de Catarina, se
encontram seu confessor e biógrafo, posteriormente provincial dos dominicanos, Frei
Raimundo das Vinhas de Cápua (falecido
em 1399) e Estéfano
Maconi (falecido em 1424), o qual
foi um de seus secretários, e se converteu logo em Prior Geral dos Cartuchos. O livro de
Raimundo sobre a vida de Catarina, a "lenda", foi terminado em 1395. Uma
segunda versão da vida de Catarina, o "suplemento", foi escrito
alguns anos depois por outro de seus seguidores, Frei Tomás Caffarini (falecido
em 1434), o qual
posteriormente escreveu também a "Lenda Menor", livro que foi
traduzido para o italiano por Estéfano
Maconi.
CATARINA
DE SENA:
DOUTORA
DAS VIRTUDES
No livro As Cartas de Santa Catarina
de Sena, podemos perceber o seu pensamento a respeito das virtudes e como, de
maneira muito espontânea, ela fala livremente sobre o modo pelo qual cada um
deve viver virtuosamente em sua vida cotidiana.
Para Catarina, a paciência e a
humildade são as mais importantes virtudes que um cristão deve praticar
constantemente para poder crescer espiritualmente, pois o próprio Cristo foi
paciente e humilhou-se até sua morte de cruz. Ela diz em uma de suas cartas que
“a virtude nasce do desprezo de si, e o desprezo de si nasce do amor. Nossa
alma é como ferro; somente no fogo se purifica”.
Além disso, escrevendo aos
encarcerados de Sena, Catarina aponta para o sangue de Cristo como remédio para
alcançar toda a paciência. Por isso vai dizer-lhes: “colocai o sangue de Cristo
crucificado no vosso pensamento, como ponto de meditação. Se o fizerdes,
atingireis uma perfeita paciência”.
Catarina não se cansa de mostrar as
virtudes como meio para alcançar a salvação, por isso, para ela, a caridade é
mãe de todas as virtudes e nenhuma virtude é viva sem a caridade, pois “quem
está na caridade, está em Deus e Deus nele” (1Jo 4,16). Portanto, a caridade
traz para a alma o desejo de uma vida totalmente em Deus.
Escrevendo às monjas de um mosteiro
da sua cidade, Catarina enaltece a obediência como virtude primordial para uma
vida religiosa fundamentada no amor de Cristo, e aconselha principalmente a
madre a ser exemplo de obediência para as outras irmãs. Por este motivo
Catarina aconselha que se possam espelhar no exemplo dos santos procurando
imitá-los. E ainda, mostra a razão pela qual devemos ser obedientes: “sede,
então, obedientes por amor daquele dulcíssimo e amantíssimo jovem Filho de
Deus, que foi obediente até a morte”.
É impressionante o modo como ela lida
com as pessoas através de suas cartas. Procura orientar todos a uma contínua
conversão, mostrando sempre como caminho uma vida virtuosa e corrigindo a todos
com amor maternal. E diz ainda que “a justiça é uma bela virtude, que realiza a
paz entre o homem e seu Criador, entre cidadão e cidadão. A justiça brota da
fonte do amor, brota da perfeita união que se alicerça em Deus e no homem”. Então,
como se deveria responder a tanto amor recebido da parte de Deus? Ela responde
com muita simplicidade: “é conveniente que uma pessoa amada, também ame”.
O
ITINERÁRIO ESPIRITUAL DE CATARINA DE SENA
O amor à virtude em Catarina é o que faz com que a alma alcance a perfeição.
Por isso, em suas cartas, exorta continuamente aqueles que aconselha a
procurarem uma vida pautada nas virtudes, como o percebemos em uma de suas
cartas ao Frei Bartolomeu Dominici: “pela mesma razão, eu exijo e quero que
permaneçais firme em Cristo, extirpando os vícios e promovendo a virtude, à
semelhança de Jesus e dos Santos, que seguiram seus passos”.
O itinerário espiritual de
Catarina é marcado por uma vida de intensa penitência e ascese, na qual a
oração é o fundamento que a conduz para ser exemplo de virtude a todos aqueles
que a ouvem através de suas cartas e conselhos.
Neste sentido, podemos dizer que Catarina entregou-se totalmente ao
amor, recusando até mesmo alimentar-se, preferindo somente a comunhão
Eucarística. Assim, ela exorta a muitos dizendo: “lembra-te que és mortal,
deves morrer e não sabes quando. Um dia terás de dar conta a Deus de tudo o que
fizeres”.
Dessa maneira, mostra que o homem não deve ocupar-se com coisas vãs, nem
pôr nas coisas passageiras a glória que só é devida a Deus. Convida os homens a
governarem-se antes de querer governar os outros e assim poderão alcançar a
sabedoria para governar. E o segredo para governar-se Catarina expõe
claramente: com a luz da razão, põe ordem nas três faculdades e assim organiza
bem toda tua vida espiritual e corporal. Regra tua memória, regra a
inteligência e regra a vontade.
Além disso, podemos também destacar uma das coisas mais marcantes que
percebemos em Catarina que é a sua presença iminente na sociedade italiana e
sua influência fundamental nos assuntos que dizem respeito às questões
políticas, mostrando-se sempre interessada em todos os assuntos que afetam a
realidade daquela época. Ela soube como ninguém resolver os diversos conflitos,
principalmente dentro da Igreja, que se desencadearam na sua época em sua
cidade e em toda a Itália, mediante sua presença e suas cartas. Mas tudo isso
estava sempre apoiado por sua constante vigilância na oração.
Escreveu e tratou diretamente com o Santo Padre desejando vê-lo como bom
pastor de todas as suas ovelhas pelo exemplo de Jesus Cristo, e exortando-o a
usar de misericórdia para reconquistar os que se afastaram da Igreja, além de
intervir diretamente para que a sede da Igreja voltasse a ser em Roma. Tudo
isto, mostra o seu lado extremamente humano, pois não deixa de atuar no mundo
como uma mulher de profunda oração, inspirada constantemente pelos conselhos
evangélicos. Desse modo, segue por um caminho de prática do amor que permite
sintonizar a fé com as obras.
Pode-se afirmar, portanto, que Santa Catarina de Sena foi uma
visionária, mulher que não encerrou o mundo somente em seu tempo, mas teve uma
visão além de sua época, o que permitiu alcançar uma vida de santidade como
leiga em meio a tantas dificuldades pelas quais passou.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A vida de Catarina de
Sena é um tanto inspiradora a uma vida de santidade para qualquer pessoa que
deseja encontrar em um santo um exemplo de seguimento a Jesus Cristo. Por isso,
encontramos nela um modo de vida consumida totalmente por amor ao outro, e
vemos um exemplo a ser imitado.
Suas cartas permanecem ainda hoje muito
atuais, e trazem para nós uma riqueza espiritual inigualável, pois seu modo de
fala da fé de modo muito claro e objetivo procurando tornar a vida em Cristo
algo muito simples. Isto é traduzido particularmente no apelo à vivência das
virtudes, o que caracteriza o seu pensamento único e válido para todas as
épocas, inclusive para os dias atuais, tão carentes de pessoas virtuosas.
A experiência de ler e meditar as
cartas de Catarina inspira qualquer leitor seu a um desejo de profunda oração,
além de levar ao questionamento de si mesmo a respeito da maneira com se tem
vivido. Segundo o evangelho, ou segundo as próprias vontades? Por fim, por tudo isso, dizemos que Catarina é
realmente autêntica, mística, poética, encantadora, sensível e ardentemente
amável.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
SENA, Catarina de. As Cartas. Trad.: João Alves Basílio. 4ª ed. São
Paulo: Paulus, 2011.
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.
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