A
virgindade de Nossa Senhora
AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA, O SENHOR É CONVOSCO E BENDITO É
O FRUTO DO VOSSO VENTRE JESUS! SANTA
MARIA MÃE DE DEUS, ROGAI POR NÓS PECADORES, AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE.
AMÉM!
Uma
objeção comum dos protestantes é de que o Novo Testamento pouco fala de Nossa
Senhora. Logo, eles concluem que Maria Santíssima não tem tanta importância,
pois se tivesse as Epístolas dos Apóstolos com certeza ensinariam a respeito. O
fato do Novo Testamento, aparentemente, pouco falar de Nossa Senhora não
significa muita coisa. Os Evangelhos apenas tratam da "Vida Pública" de Nosso
Senhor, durante apenas 3 anos de sua vida. As Epístolas tratam da expansão da
Igreja de Cristo.
Pelo
raciocínio protestante, a chamada "vida
oculta" de Nosso Senhor (até os 30 anos de idade) significaria
que durante 30 anos de sua vida, Nosso Senhor não tinha muita importância... Ora,
Jesus Cristo passou 30 anos com Nossa Senhora e só 3 anos com o resto da
humanidade. Será que isso já não é sinal de que há muitas coisas que não
conhecemos da vida de Nosso Senhor e de Nossa Senhora? "Há ainda muitas coisas feitas por Jesus,
as quais, se se escrevessem uma por uma, creio que este mundo não poderia
conter os livros que se deveriam escrever" (Jo 21,25).
Pois
bem, já por aí se percebe a precipitação do raciocínio de alguns protestantes.
Agora
podemos analisar se, de fato, os Evangelhos falam pouco de Nossa Senhora. Os
católicos conhecem a obra prima de Deus, que é Nossa Senhora, a criatura mais
perfeita que foi criada, onde Deus escolheu como tabernáculo para si: "Cristo, porém, apareceu como um pontífice
dos bens futuros. Entrou no tabernáculo mais excelente e perfeito, não
construído por mãos humanas, nem mesmo deste mundo" (Hebr 9,
12).
Esse
tabernáculo mais excelente e perfeito foi saudado pelo Arcanjo S. Gabriel:
"Ave, cheia de graça. O
Senhor é convosco". Quanta grandeza apenas nessas palavras.
Nossa Senhora tinha a graça de Deus e Deus era com Ela ainda antes da concepção... Naquele
momento se cumpria todas as profecias da vinda do Messias. Era o momento da
encarnação do Verbo de Deus, onde tudo dependia de um consentimento de uma
"virgem",
o seu "sim"
nos trouxe o Messias esperado. A
maneira da saudação angélica transparece a grandeza de Nossa Senhora, pois o
Anjo a saúda com a "Ave,
Cheia de Graça". Ele troca o nome "Maria" pela qualidade
"Cheia de Graça",
como Deus desejou chamá-la.
Ela
era a criatura que havia "achado
graça diante de Deus" e, por isso, foi escolhida como a Mãe
Dele. E
continua o Arcanjo: "Bendita
sois vós entre as mulheres." Poucas
palavras - e palavras tão simples - para mostrar o fato central do
cristianismo: a encarnação do Verbo de Deus. Um fato esperado pelos séculos,
cujos profetas não viram... Apesar de tanto terem desejado. Todas as profecias
do Antigo Testamento inclinam-se diante dessas poucas palavras. Todo o Novo
Evangelho é conseqüência dessa encarnação, e todo o Antigo Testamento era o
prenúncio do que ocorria naquele momento, naquele pequeno cômodo da casa de
Nazaré, onde uma Virgem recebia a visita de um enviado de Deus.
Que
maravilha da graça se operava naquele momento, quando a Virgem Maria cooperava,
pelo livre consentimento de sua fé, de sua virgindade, de sua humildade, para o
mistério inicial do Cristianismo, coberta pela sombra do altíssimo, revestida
do Espírito Santo, e concebendo, em seu seio virginal, o próprio Filho de Deus! Logo
em seguida, que culto já não lhe prestou a própria Santa Izabel quando a
aclamou: "Mãe de meu
Senhor": "Donde
me vem a dita que a Mãe de meu Senhor venha visitar-me?" (Lc
1, 43). E, no ventre de Santa Izabel, exultava S. João Batista ao ouvir a voz
de Nossa Senhora. Santa
Izabel, repleta do Espírito Santo, exclama em alta voz, repetindo e completando
as palavras do Anjo: "Bendita
sois vós entre todas as mulheres; bendito é o fruto do vosso ventre!". E
a própria Nossa Senhora completa, inspirada pelo Espírito de Deus: "De hoje em diante todas as gerações me
chamarão bem-aventurada, porque Aquele que é todo poderoso fez em mim grandes
coisas!" (Lc 1, 48).
Já
na manjedoura os Reis Magos foram adorar o Menino-Deus "nos braços de Maria, sua mãe"
(Mt 2, 11), como fazem todos os católicos do mundo inteiro.
E
o velho Simeão, profetizando, associa a Virgem Mãe de Deus a todas as
contradições a que estaria sujeito o seu Filho, e de modo particular ao gládio
de dor que deverá uní-lo no grande suplício (Lc 2, 34). E
como poderia ser menor a grandeza Daquela que tinha autoridade sobre o próprio
Deus, que a obedecia na intimidade do lar: "... mostrando-se submisso a ela em tudo"
(Lc 2, 51).
Nas
Bodas de Caná transparece de modo fulgurante o poder da Santíssima Virgem, que
é capaz de "alterar" a hora de Deus, que a adianta pelo pedido de sua
Mãe, fazendo o seu primeiro milagre e confirmando a fé em seus apóstolos,
mudando a água em vinho (Jo 2, 1- 11). É
por isso que nos diz o Evangelho, narrando a grandeza de Maria Santíssima: "Bem-aventurada as
entranhas que te trouxeram e o seio que te amamentou" (Lc 11,
27). Eis
o culto de Nossa Senhora fundado no Evangelho, dele dimanando como de sua
"fonte divina", e dali se irradiando séculos afora. Eis o culto de
Maria Santíssima, não escondido nas trevas, nem envolto no silêncio, mas
divinamente proclamado à face do universo.
Os
séculos ouvirão e compreenderão estes exemplos e lições evangélicas. E é para
lhes corresponder que os cristãos de todos os tempos irão prostrar-se aos pés
de Maria, implorando-lhe auxílio e proteção.
Os
Evangelhos, afinal, falam pouco de Nossa Senhora? Só se déssemos primazia à
quantidade em detrimento das palavras... Maior foi o milagre da encarnação do
que todas as ressurreições operadas por Nosso Senhor Jesus Cristo. Se não
houvesse a encarnação, não haveria a Redenção. É
certo que Nossa Senhora, durante toda a sua vida, procurou ficar no anonimato,
escondida dos homens e amada por Deus. Era
tanto o esplendor da Santíssima Virgem que S. Dionísio, o areópagita, declara
que teria considerado Maria como uma divindade, se a fé não lhe houvera
ensinado ser ela a mais perfeita imagem que de si formara a Onipotência.
Santo
Irineu dizia: "Os laços,
pelos quais Eva se deixou acorrentar, por sua credulidade, Maria rompeu-os pela
sua fé". Referindo-se, é claro, à passagem do Gênesis: "Ei de por inimizade entre ti e a mulher,
entre sua raça (semente) e a tua; ela te esmagará a cabeça"
(Gen 3, 15). O que Eva perdeu por orgulho, Nossa Senhora ganhou por humildade. São
tantos os mistérios da Maternidade de Maria Santíssima... É
certo que os Evangelistas evitaram falar muito de Nossa Senhora, ou por pedido
Dela, ou para evitar um culto equivocado à Mãe de Deus junto a um povo que era
politeísta. Mas o pouco que falam, falam muito! Ela é verdadeiramente Mãe de um
Deus que é Homem e de um Homem que é Deus. Ela é verdadeiramente nossa mãe
quando, aos pés da cruz, Nosso Senhor a confiou a S. João. Ela é a onipotência
suplicante que é capaz de mudar a "hora" de Deus. Ela é
verdadeiramente Imaculada, isenta do Pecado Original, sendo o "tabernáculo" puríssimo
que Deus escolheu para si.
Os
evangelistas em suas liturgias, entretanto, muito falaram de Nossa Senhora,
como veremos nos tópicos seguintes, que demonstram, inequivocamente, a grandeza
do nome da Virgem de Nazaré, a Mãe de Deus, a Imaculada Conceição, a
Onipotência suplicante, a Medianeira universal de todas as Graças, assunta ao
Céu de corpo e alma, Rainha dos homens e dos anjos.
Em
diversos lugares, o Evangelho fala desses 'irmãos'.
Assim, S. Marcos e S. Lucas referem que 'estando
Jesus a falar, disse-lhe alguém: eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos
que querem ver-te" (Mt 12, 46-47; Mc 3, 31-32; Lc 8,
19-20). S. João, por sua vez, fala de tais 'irmãos' (Jo 7, 1-10). A
bela objeção protestante apenas mostra uma ignorância da própria Bíblia que
dizem conhecer... As
línguas, a hebraica e aramaica não possuem palavras que traduzam o nosso 'primo' ou 'prima', e serve-se da palavra
'irmão' ou 'irmã'. A
palavra hebraica 'ha',
e a aramaica 'aha',
são empregadas para designar 'irmãos'
ou 'irmãs' do mesmo
pai, não da mesma mãe (Gn 37, 16; 42, 15; 43, 5; 12, 8-14; 39, 15), sobrinhos,
primos irmãos (1 Par 23, 21), e primos segundos (Lv 10, 4) - e até 'parentes'
em geral (Job 19, 13-14; 42, 11). Os
trechos acima demonstram, inequivocamente, que a palavra 'irmão' era uma expressão
genérica, geral.
Há
muitos exemplos na Sagrada Escritura. Lê-se no Gêneses que 'Taré era pai de
Abraão e de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn 11, 27), que, por conseguinte,
vinha a ser sobrinho de Abraão. Contudo, no mesmo Gênesis, mais adiante, chama
a Lot 'irmão de Abraão'
(Gn 13, 3). 'Disse Abraão a Lot:
nós somos irmãos" (Gn 14, 14) Jacó
se declara irmão de Labão, quando, na verdade, era filho de Rebeca, irmã de
Labão (Gn 29, 12-15).
No
Novo Testamento, fica claríssimo que os 'irmãos
de Jesus' não eram filhos de Nossa Senhora. Os
supostos 'irmãos de Jesus'
são indicados por S. Marcos: "Não
é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e
de Simão e não estão aqui conosco suas irmãs?" Tiago
e Judas, conforme afirma S. Lucas, eram filhos de Alfeu e Cleófas: 'Chamou Tiago, filho de Alfeu... e Judas,
irmão de Tiago" (Lc 6, 15-16). E ainda: "Chamou Judas, irmão de Tiago"
( Lc 6, 16) Quanto
a 'José', S. Mateus diz que é irmão de Tiago: "Entre os quais estava... Maria, mãe de Tiago e de José"
(Mt 27, 56).
Em
S. Mateus se lê: "Estavam
ali (no calvário), a observar de longe...., Maria Mágdala, Maria, mãe de Tiago
e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu". Essa Maria, mãe de
Tiago e José, não é a esposa de S. José, mas de Cleofas, conforme S. João (19,
25). Era também a irmã de Nossa Senhora, como se lê em S. João (19, 25): "Estavam junto à Cruz de Jesus sua mãe, a
irmã de sua mãe, Maria (esposa) de Cleofas, e Maria de Mágadala". Simão,
irmão dos três outros, 'Tiago,
José e Judas' são verdadeiramente irmãos entre si, filhos do mesmo
pai e da mesma mãe. Alfeu (ou Cleophas) é o pai deles. Da
mesma forma, se Nossa Senhora tivesse outros filhos, ela não teria ficado aos
cuidados de S. João Evangelista, que não era da família, mas com seu filho mais
velho, segundo ordenava a Lei de Moisés.
Eis
um dilema sem saída para os protestantes, pois os 'irmãos de Jesus' são filhos de Maria Cléofas e
Alfeu. Também
decorre uma pergunta: Por que nunca os evangelhos chamam os 'irmãos de Jesus' de 'filhos de Maria' ou de 'José', como fazem em relação
à Nosso Senhor? E
como, durante toda a vida da Sagrada Família, o número de seus membros é sempre
três? A fuga para o Egito, a perda e o encontro no templo, etc... Desta
forma, fica provado o equívoco levantado por alguns protestantes.
Desde
o início do cristianismo Nossa Senhora era cultuada como "Áiepartenon", isto é, a
"sempre Virgem". A
virgindade eterna de Maria é facilmente demonstrável, quer seja pela Sagrada
Escritura ou pela Tradição, quer seja pela lógica. O
que devemos provar: a) Nossa Senhora era Virgem antes do parto; b) Nossa
Senhora permaneceu Virgem durante o parto e c) Nossa Senhora permaneceu virgem
após o parto. Três
asserções que vou provar aqui com a Bíblia na mão, e um pouco de lógica na
cabeça. Aliás, a terceira já está provada pela própria explicação dos irmãos de
Jesus. Todavia, vamos aprofundar mais um pouco a análise.
A
primeira asserção é admitida pelos próprios protestantes, pois se encontra
positivamente no Evangelho: "O
Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma virgem desposada... e o nome da Virgem
era Maria". (Luc. I, 26).
Mais
positivo ainda é o testemunho da própria Virgem objetando ao anjo: "Como se fará isso, pois eu não conheço
varão?". Nenhuma dúvida subsiste - Maria Santíssima era
Virgem.
A
segunda asserção, mostrando que a Mãe de Jesus ficou virgem no parto, pode
deduzir-se dos mesmos textos. O que é concebido por milagre deve nascer por
milagre; o nascimento é a conseqüência da concepção; sem esta conseqüência, o
milagre seria incompleto. Em outras palavras, Deus teria operado um milagre
incompleto ao desejar manter a virgindade de Nossa Senhora e não tendo levado
essa promessa até o final. "Como
se fará isso, pois eu não conheço varão?" "O Santo, que há de nascer de ti, será
chamado Filho de Deus, porque a Deus nada é impossível" (Luc
1, 35). A Deus nada é impossível, a virgindade de Nossa Senhora seria
preservada, mesmo ela "não
conhecendo varão".
Continuamos
na argumentação.
O Evangelho nos mostra que Maria, tendo chegado ao termo
ordinário da natureza, "deu
à luz o seu filho. E estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia
dar à luz" (Luc. 1, 6). Ora,
"conceber"
e "dar à luz"
são dois termos de uma ação única. A mãe concebe, para dar à luz - é uma só
ação: gerar filhos. O parto e a conceição são inseparavelmente ligados, sendo o
primeiro o preço doloroso da segunda (perder a virgindade); sendo Maria
Santíssima libertada da segunda parte, por meio do milagre de Deus, deve sê-lo
da primeira, pois para Deus não é mais custoso fazer "nascer" virginalmente do
que fazer "conceber"
virginalmente.
Ademais,
se a ação virginal havia começado, pela ação do Espírito Santo, Deus
completaria essa ação no momento em que esta chegasse ao seu final. É uma
conseqüência lógica e necessária, sob pena de negar o milagre completo de Deus
manifestado em sua vontade e na resolução de Nossa Senhora de manter a
virgindade. A
própria dúvida de Nossa Senhora em relação à concepção deixa claro a posição
dela perante a virgindade: "Como
se fará isso, pois eu não conheço varão?". O Anjo resolve o
problema: "O Santo, que há
de nascer de ti, será chamado Filho de Deus, porque a Deus nada é impossível"
(Luc. 1, 35).
A
conceição da Virgem Santíssima é, pois, obra do Espírito Santo: "O Espírito Santo descerá sobre ti e a
virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. E por isso mesmo o santo que há
de nascer de ti será chamado Filho de Deus." (Luc. 1, 35). "Conceber" Jesus e "dá-lo à luz" são,
textual e literalmente, um só milagre, o milagre da encarnação. Separar estes
dois termos, que o Evangelista resumiu de propósito numa única frase, é
adulterar de maneira visível o texto e a significação da palavra de Deus. Sendo
Nossa Senhora virgem antes do parto, deve sê-lo também durante o parto, pois o
milagre da encarnação é uno e completo. E isto é muito conforme à profecia:
"uma virgem conceberá e
dará à luz". É o próprio Evangelho que faz a aplicação desta
profecia: "Ora, tudo
aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor, por meio do profeta"
(Mat. 1, 22). Ou seja, conceber e dar à luz, virginalmente!
A
Virgindade de Nossa Senhora antes e durante o parto é uma verdade que não se
pode negar, senão espezinhando-se todas as regras da lógica e da hermenêutica.
Deus quis manter a virgindade de Nossa Senhora antes e durante o parto, não o
precisava, mas assim o fez.
Sobre
a virgindade de Nossa Senhora após o parto, já provamos anteriormente. Todavia,
para dar mais realce à explicação, façamos um pequeno exercício de hermenêutica. Quando
Nossa Senhora afirma, categoricamente, "eu
não conheço varão", ela não está dizendo que "até o momento eu não conheço",
mas que ela, por opção pessoal, não "conhece
varão", o que dá uma extensão geral à sua afirmação.
Segundo
a tradição, Nossa Senhora havia feito um voto de castidade perpétua e assim o
manteve, mesmo vivendo com S. José, como fica clara pela própria afirmação dela
("Eu não conheço
varão"), quando já estava desposada de S. José.
Se
não fosse propósito de Nossa Senhora manter a castidade perpétua, sua afirmação
não teria propósito, pois o Anjo poderia lhe responder: "se ainda não conhece, conhecê-lo-á logo;
não é José teu esposo? ". A sua afirmação só faz sentido,
dentro do contexto, tendo Nossa Senhora feito o voto de castidade perpétua.
S.
Marcos, na mesma linha, chama Jesus "O
filho de Maria" - "uiós
Marias" - (Marc. 6, 3), e não um dos filhos de Maria, como
querendo mostrar que ele era o seu filho único. Tudo
isso ficará mais claro quando tratarmos da Imaculada Conceição segundo a
tradição, onde os evangelistas descrevem a virgindade perpétua de Maria
Santíssima.
Desfazendo objeções protestante: "antes de coabitarem", "filho primogênito" e "não a conhecia até que
ela desse à luz"
S.
Mateus: "Maria, sua Mãe,
estava desposada com José. Antes de coabitarem, ela concebeu por virtude do
Espírito Santo" (Mt 1, 18). Ora, "antes de coabitarem"
significa apenas "antes de
morarem juntos na mesma casa". Isso aconteceu quando
"José fez como o anjo do
Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa (Maria)"(Mt
1, 24);
S.
Lucas: "Maria deu à luz o
seu filho primogênito" (Lc 2, 7). Explicação: É errado
concluir que devia seguir o segundo filho. A lei de mosaica exige que todo o
primogênito seja consagrado a Deus, quer seja filho único ou não: "Consagrar-me-ás todo o primogênito
(primeiro gerando) entre os israelitas, tanto homem como animal: ele é meu"
(Ex 13, 2). Um exemplo elucidativo encontrado no Egito, retirado de uma
inscrição judaica: "Arisoné
entre as dores do parto morreu ao dar à luz seu filho primogênito".
Ou no Êxodo, quando Deus disse: "Todo
o primogênito na terra do Egito morrerá" (Ex 11, 5). E assim
aconteceu. "Não havia casa
em que não houvesse um morto" (Ex 11, 30). Necessariamente,
havia, como em todos os países, casais de um só filho; por exemplo, todos os
que se tinham casado nos últimos anos...;
Depois,
em outro trecho, Deus ordena: "contar
todos os primogênitos masculinos dos filhos de Israel, da idade de um mês para
cima" (Num 3, 40). Ora, se há primogênito de um mês de idade,
como é que se pode exigir que, para haver primeiro, haja um segundo? Logo,
há primogênito sem que haja, necessariamente, um segundo filho. A
primogenitura era um título de dignidade e de honra entre os Judeus.
Geralmente, o filho, primeiro, tinha direito a certos privilégios, como os de
herdeiro etc, ficando sujeito a certas obrigações, como vemos na Bíblia. (Lc 2,
23) É,
portanto, de propósito e com razão que o Evangelista chama Jesus: "primogênito" - "ton protótokon".
Designa-o, deste modo, como herdeiro de David, como tendo um direito
privilegiado sobre esta herança (cf Gen 10, 15 - 21, 12).
E
é isso que se pode verificar na apresentação de Jesus no templo: "Depois que foram concluídos os dias da
purificação de Maria, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o
apresentarem ao Senhor: Todo o varão primogênito será consagrado ao Senhor"
(Lc 2, 22) Essa
passagem é muito clara e resolve de uma vez a discussão sobre a "primogenitura" de Nosso
Senhor, pois a apresentação no templo ocorreu apenas 40 dias após o seu
nascimento, como filho único de Nossa Senhora.
Em
algumas traduções, aparece em S. Mateus: "José não conheceu Maria (= não teve relações com ela) até
que ela desse à luz um filho (Jesus)". (Mt 1, 25). Explicação:
Seria errado insinuar que depois daquele "até" José devia "conhecer" Maria".
"Até", na
linguagem bíblica, refere-se apenas ao passado. Exemplo: "Micol, filha de Saul, não teve filhos até
ao dia de sua morte" (II Sam 6, 23). Ou então, falando Deus a
Jacob do alto da escada que este vira em sonhos, disse-lhe: "Não te abandonarei, enquanto não se
cumprir tudo o que disse" (Gen 28, 15). Quererá isso dizer que
Deus o abandonaria depois? Em outra passagem, Nosso Senhor diz aos seus Apóstolos:
"Eis que eu estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20). Ora,
o texto sagrado deixa claro que a palavra "até" é um reforço do milagre operado, a
saber, a encarnação do verbo por obra do Espírito Santo, e não por obra de um
homem (S. José).
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