Vida de Santo Atanásio
Santo Atanásio foi,
simultaneamente, o Bispo mais amado e o mais odiado e perseguido do seu tempo. Nasceu
provavelmente no ano 295 e faleceu por volta de 373. Para os seus defensores,
Atanásio era a garantia da ortodoxia católica, o salvador da Fé, um autêntico
sucessor dos Apóstolos; para os seus adversários, Atanásio era um orgulhoso,
teimoso, intransigente, rebelde, insolente, inimigo da paz e da concórdia entre
os cristãos.
Para salvar a fé na divindade de Cristo, Santo
Atanásio sofreu calúnias, juízos iníquos, perigo de morte, cinco desterros
durante 17 anos, ódios de muitos bispos e dos imperadores filiados à heresia, e
finalmente a “excomunhão” pelo Papa Libério. Contudo, a Igreja proclamou-o
santo, Padre da Igreja, Doutor e salvador da fé católica. A história reconhece
que, sem a resistência e os sofrimentos heróicos de Santo Atanásio e dos seus
companheiros bispos e sacerdotes, assim como do povo fiel, a fé católica teria
naufragado no século IV.
Este autêntico protagonista da tradição cristã, poucos
anos depois da sua morte, foi celebrado como "a coluna da Igreja"
pelo grande teólogo e Bispo de Constantinopla Gregório Nazianzeno (Discursos
21, 26), e foi sempre considerado como um modelo de ortodoxia, tanto no Oriente
como no Ocidente. Portanto, não foi por acaso que Gian Lorenzo Bernini colocou
uma sua estátua entre a dos quatro santos Doutores da Igreja oriental e
ocidental juntamente com Ambrósio, João Crisóstomo e Agostinho que na
maravilhosa abside da Basílica vaticana circundam a Cátedra de São Pedro.
Obras de Santo Atanásio
A obra doutrinal mais famosa do santo Bispo
alexandrino é o tratado Sobre a encarnação do Verbo, o Logos divino que se fez
carne tornando-se como nós para a nossa salvação. Atanásio diz nesta obra, com
uma afirmação que se tornou justamente célebre, que o Verbo de Deus "se fez homem para que nos tornássemos
Deus; ele fez-se visível no corpo para que tivéssemos uma idéia do Pai
invisível, e ele próprio suportou a violência dos homens para que nós
herdássemos a incorruptibilidade" (54, 3). De fato, com a sua
ressurreição o Senhor fez desaparecer a morte como se fosse "palha no
fogo" (8, 4). A idéia fundamental de toda a luta teológica de Santo
Atanásio era precisamente a de que Deus é acessível. Não é um Deus secundário,
é o Deus verdadeiro, e através da nossa comunhão com Cristo podemos unir-nos
realmente a Deus. Ele tornou-se realmente "Deus conosco".
Entre as obras deste grande Padre da Igreja que em boa
parte permanecem ligadas às vicissitudes da crise ariana recordamos depois as
quatro cartas que ele enviou ao amigo Serapião, Bispo de Thmuis, sobre a
divindade do Espírito Santo, que foi afirmada com determinação, e cerca de
trinta cartas "festivas", dirigidas no início de cada ano às Igrejas
e aos mosteiros do Egito para indicar a data da festa de Páscoa, mas, sobretudo
para garantir os vínculos entre os fiéis, fortalecendo a sua fé e preparando-os
para essa grande solenidade.
Por fim, Atanásio é também autor de textos meditativos
sobre os Salmos, depois muito difundidos e sobretudo de uma obra que constitui
o best seller da antiga literatura cristã: a Vida de Antão, isto é, a biografia
do abade Santo Antão, escrita pouco depois da morte deste santo, precisamente
enquanto o Bispo de Alexandria, exilado, vivia com os monges do deserto
egípcio. Atanásio foi amigo do grande eremita, a ponto que recebeu uma das duas
peles de ovelha deixadas por Antão como sua herança, juntamente com a capa que
o próprio Bispo de Alexandria lhe tinha oferecido. Tendo-se tornado depressa muito
popular, traduzida quase imediatamente em latim por duas vezes e depois em
diversas línguas orientais, a biografia exemplar desta figura querida à
tradição contribuiu muito para a difusão do monaquismo, no Oriente e no
Ocidente.
Defensor da Fé, pai da
Ortodoxia
Atanásio foi sem dúvida um dos Padres da Igreja antiga
mais importantes e venerados. Mas, sobretudo este grande santo é o apaixonado
teólogo da encarnação do Logos, o Verbo de Deus, que como diz o prólogo do
quarto Evangelho "se fez carne e veio habitar entre nós" (Jo 1,
14).
Precisamente por este motivo Atanásio foi também o
mais importante e tenaz adversário da heresia ariana, que então ameaçava a fé
em Cristo, reduzido a uma criatura "intermediária" entre Deus e o
homem, segundo uma tendência recorrente na história e que vemos concretizada de
diversas formas também hoje. Nascido provavelmente em Alexandria, no Egito, por
volta do ano 300, Atanásio recebeu uma boa educação antes de se tornar diácono
e secretário do Bispo da metrópole egípcia, Alexandre. Estreito colaborador do
seu Bispo, o jovem eclesiástico participou com ele no Concílio de Nicéia, o
primeiro de caráter ecumênico, convocado pelo imperador Constantino em Maio de
325 para garantir a unidade da Igreja. Os Padres nicenos puderam assim
enfrentar várias questões, e principalmente o grave problema causado alguns
anos antes pela pregação do presbítero alexandrino Ário.
Ário e o Concílio de Nicéia
Ário (260-336), influente pároco de Alexandria, no
Egito, dizia que Cristo era a primeira das criaturas de Deus e, como todas as
demais, tirada do nada. Por ser a primeira criatura, chamava-se-Lhe Filho de
Deus, mas não Deus verdadeiro, igual ao Pai. Era uma criatura divinizada,
mediante a qual Deus criou as demais coisas, inclusive o Espírito Santo. Desse
modo, por meio da defesa e da divulgação desta doutrina, a fé católica estava
ameaçada. Atacava a verdadeira natureza do
Cristianismo, ao atribuir a Redenção a um deus que não era verdadeiro Deus e
que, por isso mesmo, era incapaz de redimir a humanidade. Assim, a
fé era despojada de seu caráter essencial, posto que o Logos não seria verdadeiro Deus, mas um Deus
criado, um ser "intermediário" entre Deus e o homem e assim o
verdadeiro Deus permanecia sempre inacessível para nós.
Os Bispos reunidos em Nicéia responderam preparando e
fixando o "Símbolo de fé" que, completado mais tarde pelo primeiro
Concílio de Constantinopla, permaneceu na tradição das diversas confissões
cristãs e na liturgia como o Credo niceno-constantinopolitano. Neste texto
fundamental que expressa a fé da Igreja indivisa, e que recitamos também hoje,
todos os domingos, na Celebração eucarística encontra-se a palavra grega
homooúsios, em latim consubstantialis: ele pretende indicar que o Filho, o
logos, é "da mesma substância do Pai, é Deus de Deus, é a sua substância,
e assim é posta em realce a plena divindade do Filho, que tinha sido negada
pelos arianos.
Tendo falecido o Bispo Alexandre, Atanásio tornou-se,
em 328, seu sucessor como Bispo de Alexandria, e logo depois se demonstrou
decidido a recusar qualquer compromisso em relação às teorias arianas
condenadas pelo Concílio niceno. A sua intransigência, tenaz e por vezes muito
dura, mesmo se necessária, contra quantos se tinham oposto à sua eleição
episcopal e, sobretudo contra os adversários do Símbolo niceno, atraiu a
implacável hostilidade dos arianos e dos filo-arianos. Apesar do inequívoco
êxito do Concílio, que tinha afirmado com clareza que o Filho é da mesma
substância do Pai, pouco depois destas idéias erradas voltaram a prevalecer
nesta situação até Ário foi reabilitado e foram defendidas por motivos
políticos pelo próprio imperador Constantino e depois pelo seu filho Constâncio
II. Ele, aliás, que não se interessava tanto pela verdade teológica como pela
unidade do Império e dos seus problemas políticos, pretendia politizar a fé,
tornando-a mais acessível segundo a sua opinião a todos os seus súbditos no
Império.
A crise ariana, que se pensava estar resolvida em Nicéia,
continuou por decênios, com vicissitudes difíceis e divisões dolorosas na
Igreja. E por cinco vezes durante um trintênio, entre 336 e 366 Atanásio foi
obrigado a abandonar a sua cidade, transcorrendo 17 anos no exílio e sofrendo
pela fé. Mas durante as suas forçadas ausências de Alexandria, o Bispo teve a
oportunidade de defender e difundir no Ocidente, primeiro em Trier e depois em
Roma, a fé nicena e também os ideais do monaquismo, abraçados no Egito pelo
grande eremita Antão com uma opção de vida à qual Atanásio sempre esteve
próximo. Santo Antão, com a sua força espiritual, era a pessoa mais importante
na defesa da fé de Santo Atanásio. Insediado de novo e definitivamente na sua
sede, o Bispo de Alexandria pôde dedicar-se à pacificação religiosa e à
reorganização das comunidades cristãs. Faleceu a 2 de Maio de 373, dia em que
celebramos a sua memória litúrgica.
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA
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