EXÍLIO
E RESTAURAÇÃO (587-539 a. C.)
A destruição de
Jerusalém e o exílio subseqüente marcam a grande linha divisória da história de
Israel. Chegara ao fim a antiga comunidade de culto nacional. Sua história,
entretanto não terminou, apesar de tudo. No exílio e depois do exílio nasceu o
Judaísmo. É tarefa muito difícil escrever a história de Israel. Nossas fontes
bíblicas são as mais inadequadas.
O
PERÍODO DO EXÍLIO (587-539 a .C).
A situação dos judeus depois de 587.
A ruptura da vida em
Judá: O exército de Nabucodonosor
deixou Jerusalém em
ruínas. Todas as cidades, ou a maior parte, foram destruídas.
Além dos que foram deportados para a Babilônia, milhares devem ter morrido nos
campos de batalha, de fome ou doença, outros executados e fugitivos. A derrota
de 587 deixou o território do antigo Estado do norte ileso. Antes de 721 a
religião do norte de Israel tinha sido infiltrada por características pagãs e
ainda mais diluída com misturas importadas por elementos assírios.
Os exilados na Babilônia: Os judeus que viviam na Babilônia representavam a
nata política, eclesiástica e intelectual de sua terra. Jr 52, 28-30 afirma
ser, para as três deportações (597, 587 e 582), uma soma de 4.600. Eram os que
iriam formar o futuro de Israel. Ficaram em colônias especiais. Permitiam-lhes
construir casas, dedicar-se à agricultura e ganhar o seu sustento. Alguns se
envolviam em distúrbios. Os judeus no Egito e alhures: além dos levados à Babilônia,
muitos judeus deixaram a pátria e foram para o Egito. Muitos deles fugiram para
Moab, Edom e Amon. (Dt 28, 64).
O exílio e a religião de
Israel
Tamanha calamidade sobre Israel não conseguiu exterminá-lo, acabar com a
identidade do povo. Por quê? A religião, que lhe deu existência, mostrou-se
capaz de tal prodígio. Isso com muita meditação e profundo reajuste. A natureza
da emergência: Com a queda de Jerusalém o dogma sobre o qual se baseavam o
Estado e o culto tinha recebido um golpe mortal, ou seja, entra-se em crise por
causa da certeza da escolha eterna de Sião por parte de Iahweh e sua promessa
de um culto e governo eternos. Por isso, a nação rejeitou as admoestações
proféticas como tremendas heresias. Mas como explicar esses acontecimentos com
Israel? Não seriam os deuses poderosos realmente? Alguns se questionavam assim,
outros viam como a vontade de Iahweh (Lm 5, 7). Passaram por um choque
cultural. Templos magníficos de deuses pagãos entre outras coisas levavam ao
questionamento: Deus é o único e supremo Deus?
A tenacidade da religião
de Israel: Jeremias e Ezequiel já
haviam dado uma solução para o problema, uma explicação teológica do desastre
nacional. O exílio seria um justo julgamento de Iahweh devido ao pecado da
nação. O exílio poderia ser visto um expurgo que preparava Israel para um novo
futuro. Afirmava-se, portanto, que Iahweh não estava longe dele, mesmo na terra
do exílio (a visão religiosa de Israel era nacionalista – “como cantar os
cantares do Senhor nesta terra estrangeira”). Mudanças começaram a surgir: a
comunidade começava a ser marcada pela adesão a uma tradição e a uma lei. A
observância do Sábado tornou-se cada vez mais o sinal distintivo do judeu fiel.
(Jr 17, 19-27). Durante o exílio documentos e tradições do passado foram
zelosamente preservados. As palavras dos profetas foram igualmente preservadas,
oralmente e por escrito. As leis do culto, chamado código sacerdotal (P), bem
como a narrativa sacerdotal do Pentateuco foram compiladas em forma definitiva
mais ou menos pro esse tempo.
A esperança da
restauração: alguns se resignaram com a
vida da Babilônia; a parte principal não aceitava como definitiva. Os profetas
anunciavam que a intenção de Iahweh era a restauração final de seu povo (Jr 32,
6-15). O exílio seria uma espécie de intervalo. O povo, saudoso, suspirava por
Sião distante (Sl 137).
Os últimos dias do
Império Babilônico
O Império era instável, e teve seu fim 25 anos depois da queda de
Jerusalém. O fim do reinado de Nabucodonosor (m. 562): O maior inimigo externo
era o rei medo Ciaxares, que foi aliado da Babilônia na destruição da Assíria,
que construiu um Estado cuja capital era Ecbátana. Com a morte de
Nabucodonosor, o poder da Babilônia declinou rapidamente. Em apenas sete anos,
o trono foi ocupado três vezes por diferentes monarcas. Os babilônios se
revoltaram contra o rei Nabonidus, contra sua política religiosa (o rei acabou,
provavelmente, com o Festival de Ano Novo – clímax do ano litúrgico babilônio).
A ascensão de Ciro: o novo rei medo era agora Astíages, filho de
Ciaxares. Houve uma revolta nesse império e, certamente, Nabonidus alegrou-se.
O líder da revolta era Ciro, o persa, rei vasalo de Anshan (sul do Irã).
Nabonidus apoiou Ciro, mas depois se arrependeria de tê-lo feito. Em 550 Ciro
tomou o vasto Império Medo. Nabonidus aliou-se a Amasis, faraó do Egito. Tudo em vão. Em 547 ou 546 varreu
a Alta Mesopotâmia, tirando do controle babilônico. A aliança com o Egito foi
por terra e a Babilônia ficou só e indefesa.
Na véspera da
libertação. Reinterpretação profética da religião de Israel
Estes acontecimentos suscitaram a maior excitação entre os judeus. Mas
eles exigiam uma reinterpretação mais profunda da religião de Israel. A
história passada de Israel e seu sofrimento presente podiam ser explicados à
luz da vontade soberana de Iahweh? Exatamente antes de a tempestade cair sobre
a Babilônia, levantou-se entre os exilados a voz de outro grande profeta, o
maior de todos. Ele é chamado de o Segundo Isaías e daria à religião de Israel
a adaptação necessária.
Iahweh, o único Deus, Senhor Soberano da história: a mensagem do novo
profeta era de conforto para com seu humilhado e vencido povo. Iahweh teria
aceitado a penitência de Israel e muito em breve, com uma ternura infinita,
iria recolher seu rebanho e leva-lo para a pátria. Foi ele quem deu ao
monoteísmo sempre implícito na religião de Israel sua expressão mais clara e
mais consistente. Iahweh é um Deus de incomparável poder: criador de todas as
coisas sem auxílio ou intermediário, nenhum poder terrestre lhe pode resistir.
Satirizou com ironia selvagem os deuses pagãos como pedaços de madeira e de
metal. Nada eram. (Is 44, 6; 45, 18). Teve a coragem de chamar Ciro de
instrumento inconsciente de Iahweh para o restabelecimento de Sião. Convocou
Israel a confiar neste Deus onipotente e criador. Declarou que algo novo estava
para acontecer. Declarou que o domínio de Iahweh seria universal, estendendo-se
também aos gentios. As nações reconheceriam Iahweh como Deus (Is 49, 6).
A
RESTAURAÇÃO DA COMUNIDADE JUDAICA NA PALESTINA
O
começo do novo dia
A Babilônia logo caiu diante de Ciro, rapidamente e com admirável
facilidade. Dentro do Império havia pânico e extremas desavenças, províncias e
territórios perdidos. O golpe estava
sendo desfechado. Os exércitos persas já tinham se concentrado na fronteira e,
com a chegada do verão, desfecharam o ataque. A batalha decisiva se deu sobre o
Tigre. Algumas semanas depois, Ciro entrou triunfalmente na cidade. Os
babilônios esperavam mesmo mudança. Nem Babilônia nem qualquer outra cidade
foram danificadas. Os soldados persas receberam ordens de respeitar a
sensibilidade religiosa da população e evitar aterrorizar as pessoas.
A política de Ciro. O Édito de restauração: no primeiro ano de reinado,
Ciro proclamou um decreto ordenando a restauração da comunidade judaica e do
culto na Palestina. (Esd 1, 2-4). Ordenou que o fosse feito com despesas pagas
pelo tesouro real e devolvidos os vasos trazidos por Nabucodonosor. Os judeus
que ficaram na Babilônia ajudaram com contribuições. O intento de Ciro era
permitir que os povos sujeitados, na medida do possível gozassem de autonomia
cultural dentro da estrutura do império. O seu governo, embora burocrático, não
era violento. Dava, quando possível, responsabilidade aos príncipes nativos.
Uma vez que a Palestina está perto da fronteira egípcia, seria vantajoso para o
rei ter uma leva de súditos leais.
A primeira volta: provavelmente, não foram muitos os que voltaram. A
Palestina era uma terra longínqua e só os mais velhos lembravam, além de ser
uma viagem difícil e perigosa. Muitos judeus já estavam bem sucedidos na
Babilônia. Iniciou-se, de imediato, a reconstrução do templo e certo culto
regular.
Os
primeiros anos da comunidade da restauração
A situação mundial
(538-522): não havia sinais de grandes
mudanças prometidas pelo profeta. Não havia fluxo de judeus para Sião, Ciro e
as nações não adoravam Iahweh. Ciro morreu e lhe sucedeu seu filho, Cambises,
que anexou o Egito ao império, em 525. Os judeus egípcios não se queixavam do
rei, já que ele poupou o seu templo em Elefantina.
A comunidade judaica.
Anos de dificuldades e frustração: a situação era mais aflitiva. A comunidade era, no começo, muito
pequena. Por volta de 522 a
população de Judá não passava de 20 mil pessoas. Setenta e cinco anos mais
tarde ainda seria, Jerusalém, uma grande ruína, populacionalmente. Sofriam com
as estações, com perdas de colheitas, com fome e nudez. As obras do templo
pararam. A preocupação era existência.
A emergência espiritual
da comunidade: havia o perigo de a
restauração vir fracassar. As esperanças do povo tinham chegado muito alto, mas
a realidade era outra. Havia tensões econômicas, possivelmente resultantes da
luta pela terra. Havia práticas sincretistas, muitos não eram mais javistas
dedicados e fiéis. Havia dois segmentos opostos: a maioria dos exilados estavam
impregnados dos elevados ideais proféticos e fiéis à tradição de seus pais; o
outro lado, o grosso da população nativa, tinham absorvido muito do ambiente
pagão e a religião não era mais o Javismo em sua forma pura. Como havia uma
desilusão frente à promessa do profeta e à realidade que os cercava, o
sincretismo crescia. A comunidade necessitava de um templo, mesmo que os
profetas falassem de Deus como Aquele que nenhum templo cabe, superior a
qualquer obra humana. A comunidade não poderia ficar indiferente à forma
externa.
O acabamento do templo: Dezoito anos depois da vinda dos primeiros
exilados, convenceram a população a retomar a obra. Quatro anos depois o templo
estava terminado. A partir de 522 o império persa foi palco de uma série de
rebeliões, o que fez desmembrá-lo. Houve muitas rebeliões e tomadas de poder
nas províncias. Cambises suicidou-se. O Império Persa estava caindo aos
pedaços. As esperanças adormecidas do povo de Israel despertaram. Seria agora o
estabelecimento triunfante de Iahweh?
O despertar da era
messiânica. Ageu e Zacarias: serviram-se dessa esperança para estimular o povo retomar a construção
do templo. Ageu censurava a lassidão e a indiferença do povo em relação à casa
de Iahweh, que jazia em meio a ruínas. Insistiu que se cortasse todos os
contatos com os sincretistas religiosos da terra. (Ag 2, 10-14). Como Ageu,
Zacarias via nas rebeliões correntes sinais da iminente intervenção de Iahweh.
Incitava os judeus da Babilônia a voltarem para Sião, antes da ira de Iahweh. O
término da reconstrução do templo era urgente, pois lá devia ser a sede do
domínio real de Iahweh. O Espírito de Deus ajudaria a concluir a obra (Zc 4,
6b-10a).
É claro que Ageu e Zacarias afirmavam a realização das esperanças
inerentes à teologia oficial do estado pré-exílico. Suas palavras eram
inflamadas, altivas e perigosas, a ponto de os líderes do povo terem medo de
que o conteúdo chegasse ao conhecimento do Império. O templo foi acabado em 515
e foi consagrado com grande alegria (Esdras 6, 13-18). O templo, patrocinado
pelo império, oferecia orações e sacrifícios para o rei. As esperanças
anunciadas por Ageu e Zacarias não se concretizaram. O trono de Davi não foi
restabelecido e a época da promessa não teve sua aurora. Parece que Judá
continuou como uma grande espécie de comunidade teocrática, sob autoridade do
Sumo Sacerdote Jesus e de seus sucessores, administrado como subdivisão da
província de Samaria. Vendo suas esperanças por terra, talvez tenham sentido a
mais profunda desilusão.
Por fim, é bem verdade que alguns vêem a história do Antigo Testamento
como uma história de Salvação sim, mas com desilusões e fracassos. No entanto, a
história do Antigo Testamento assume um novo significado para os
cristãos, pois se trata de uma parte de um drama histórico rela e redentor
que tem a sua conclusão em Cristo, por Cristo, e por causa de Cristo.
FONTE CONSULTADA:
BRIGHT, John – História de Israel – Editora Paulus – São Paulo –
Brasil – 2003.
DROLET, Gilles – Compreender o Antigo Testamento: um projeto que
se tornou promessa – Editora Paulus – São Paulo – Brasil – 2008.
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