O Sacrifício de Abraão
(Gênesis 22, 1-13)
Deus tira a todas as seguranças de
Abraão, para lhe fazer sua promessa e entregar-lhe seu dom (cf. Gn 12, 1-9 e
nota). Muitos obstáculos parecem tornar impossível a realização desse dom e
promessa (velhice, esterilidade). Quando a promessa começa a cumprir-se com o
nascimento de Isaac, Abraão poderia acomodar-se e perder de vista o grande
projeto, para o qual Deus o chamara. Por isso, Deus lhe pede um novo ato de fé
que confirme sua obediência. Deus não promete nova segurança para o homem se
acomodar; pelo contrário, desafia o homem a estar sempre alerta, a fim de
relacionar-se com Deus e criar uma nova história. Só assim o projeto de Deus
não será confundido com as limitações dos projetos humanos.
O CONTEXTO HISTÓRICO
A
primeira etapa da história dessa tradição data da época pré-bíblica. A “lenda cultual” de um lugar de culto
cananeu se resumia da seguinte forma: “um
dia o grande deus El tinha salvado a vida de um menino que estava para ser
imolado; em lugar do menino foi sacrificado um animal; depois desse dia os
sacrifícios humanos desapareceram desse lugar”.
O
nome do santuário que conservava essa tradição sagrada desapareceu com o passar
dos anos. “A lenda cultual” pode ter
pertencido a algum lugar santo ao sul de Canaã. O certo é que o deus El era conhecido
em Bersabeia pelo nome de El Olan que quer dizer Deus de eternidade segundo
Genesis 21, 33. A segunda etapa da história
da tradição conhecidia com a chegada do clã de Isaac à região de Bersabeia. É
possível imaginar os fenômenos de ordem sociológica e cultual que levaram então
à identificação do Deus de Isaac com El Olan, e à doção da lenda cultual
conhecida na região de Bersabeia.
A
terceira etapa da evolução da tradição é necessariamente posterior à fusão do
clã de Isaac com o de Abraão. Da mistura dos dois clãs resultou em primeiro
lugar a mistura de suas respectivas tradições e depois à apresentação de Abraão
como Pai de Isaac. A quarta etapa foi
contemporânea da monarquia, mas só foi vista com clareza depois da separação do
reino davídico em duas partes rivais (reino do norte e reino do sul).
Mesmo
que tivesse escrito somente a narração do sacrifício de Isaac, o Eloísta, o
teólogo do reino do norte já teria direito ao reconhecimento universal. Oito
séculos depois do Eloísta o sacrifício de Jesus salvou a humanidade inteira:
era a realização inesperada das promessas feitas outrora aos patriarcas.
O CONTEXTO EXEGÉTICO
A intervenção de Deus, no
princípio e no final, é o marco que envolve e ilumina a narração. A ignorância
do protagonista é parte da prova. Lido à luz da história das religiões este
texto registra a descoberta de que Deus não quer sacrifícios humanos. (Dt. 12,
31; 2Rs. 3, 27; 16,3; Jr. 7, 31; 32-35; Ez. 16, 20; 20, 25; Sl. 107, 38).
O autor define o relato como uma prova: o homem é posto
em uma situação na qual deve agir livremente. Ao superar a prova já é outro.
Pela prova se comprova. A prova de Abraão não é simplesmente o sacrifício de um
filho, mas de Isaac o dom de Deus, prova de seu amor incondicional, Isaac é a
promessa realizada em carne e osso. Ele terá que sacrificar o próprio filho que
tanto ama e precisará a continuar crendo na realização da promessa feita por
Deus. O silencio dos personagens pesam mais do que as palavras. A resposta de
Abraão aos seus servos dizendo “voltaremos”
do lugar onde Deus o tinha indicado é um artifício para não despertar
suspeitas.
O lugar que Deus o indicou para o sacrifício se chamava
Moriá; (Gn. 22,2) é um monte que segundo o livro 2 crônicas 3: 1 identifica
como sendo o lugar onde Salomão construiu o templo de Jerusalém.
O CONTEXTO TEOLÓGICO
Por fim, Isaac é considerado pelos padres da
Igreja como um protótipo de Cristo
que se deixa sacrificar pela salvação dos homens. O Cristo sobe silencioso rumo
ao monte no qual será imolado pela salvação de todos. Ele definitivamente “entrou
uma vez por todas no santuário, e não com sangue de bodes e novilhos, mas com o
seu próprio sangue, depois de conseguir para nós uma libertação definitiva”
(Hebreus 9, 12). Deus
aceita a oblação sacrifical de seu Filho, não o poupando, como poupou Isaac
outrora, para a salvação de todos. (Jo. 3, 16;
Rm. 8, 32). Uma tradição coloca o local do sacrifício de Abraão como sendo o Calvário. O filho de Abraão Isaac carrega a lenha às costas tornando-se figura de Cristo o Filho
de Deus, que por sua vez carregou por nós o lenho às costas para que fosse imolado na cruz.
BIBLIOGRAFIA:
Bíblia de Jerusalém – São Paulo – Editora: Paulus,
2002.
Bíblia do Peregrino – São Paulo: Editora Paulus – 2ª
ediação – 2002.
Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, São Paulo –
Editora: Paulus, 1990.
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