O sacrifício do Servo de Javé:
A
profecia e sua interpretação no NT (especialmente Is 42,1-7 e Is 53; fazer
paralelos com o Novo Testamento
especialmente com o Apocalipse em sua figura de cordeiro); Sacrifício
espiritual (Miquéias 6,6-8; Salmo 50,7-15; 51,16-19; 40,7-9). Jesus
para os Sinóticos é o Servo de Javé, ou seja, é o Eleito como se encontra em Is 42, 1-7,
vejamos:
“Eis o meu servo que eu sustento, o
meu eleito, em quem tenho prazer. Pus sobre ele o meu espírito, ele trará o
direito às nações. Ele não clamará, não levantará a voz, não fará ouvir a voz
nas ruas; não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha bruxuleante, com
fidelidade trará o direito. Não vacilará nem desacorçoará até que estabeleça o
direito na terra; e as ilhas aguardem seu ensinamento. Assim diz Deus, Iahweh,
que criou os céus e os estendeu, que firmou a terra e o que ela produz que deu
o alento aos que a povoam e o sopro da vida aos que se movem sobre ela. Eu,
Iahweh, te chamei para o serviço da justiça, tomei-te pela mão e te modelei, eu
te constituí como aliança do povo, como luz das nações, a fim de abrires os
olhos dos cegos, a fim de soltares do cárcere os presos, e da prisão os que
habitam nas trevas”.
É o primeiro “cântico do Servo de
Javé”. Quem é esse Servo? Eis a pergunta: de início, provavelmente, uma pessoa;
depois essa pessoa foi tomada como figura coletiva, sendo aplicada a todo o
povo pobre e fiel. O Servo é a grande novidade que Javé prepara: o missionário
escolhido que, graças ao Espírito de Javé, recebe a missão de fazer que surja
uma sociedade conforme a justiça e o direito. Ele não submeterá os fracos ao
seu domínio, mas o seu agir acabará produzindo uma transformação radical: os
cegos enxergarão e os presos serão libertos. Os evangelhos aplicam a Jesus a figura do Servo. (cf. Mateus 3, 17
e paralelos; 12, 17-21 ; 17, 5).
Como vemos nos evangelhos o Servo eleito Jesus Cristo tem a missão
de fazer a vontade do Pai: viver transparente diante da humanidade, ser
humilde. Assim também é chamado a sua missão ser profeta, assim como nós somos
e especificamente no 1° ano de teologia, dimensão trabalhada aqui na casa, ser
profeta. Jesus é chamado a ser Profeta e Luz das nações, com a Missão de pregar
a todos os povos: os gentios e hebreus.
O Cântico do Servo de Javé é uma antecipação da boa notícia. Pois, é só com
Jesus Cristo que os primeiros cristãos se perguntam? Porque Jesus morreu?
Portanto, concluímos que todo o Evangelho de Jesus sofredor foi escrito
baseando-se no Servo de Javé. (Is 52;53). A relação mais importante do servo é
em relação ao pecado. O Servo de Javé
é um justo que corrige a iniquidade. Ele oferece a vida pela expiação dos
pecados, não é mais um cordeiro, mais se torna o cordeiro de Deus.
Vejamos em Isaías 53, 1-10 como já
aparece de forma messiânica o sofrimento daquele que iria passar pela expiação
dos pecados da humanidade:
“Quem creu naquilo que ouvimos, e a quem se revelou o
braço de Iahweh? Ele cresceu diante dele como renovo, como raiz em terra árida;
não tinha beleza nem esplendor que pudesse atrair o nosso olhar, nem formosura
capaz de nos deleitar. Era desprezado e abandonado pelos homens, homem sujeito
à dor, familiarizado como sofrimento, como pessoa de quem todos escondem o
rosto; desprezado, não fazíamos caso nenhum dele. E, no entanto, eram nossos
sofrimentos que ele levava sobre si, nossas dores que ele carregava. Mas nós o
tínhamos como vítima do castigo, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi
trespassado por causa das nossas transgressões, esmagado por causa das nossas
iniqüidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz, caiu sobre ele, sim, por
suas feridas fomos curados. Todos nós como ovelhas, andávamos errantes, seguindo
cada um o seu próprio caminho, mas Iahweh fez cair sobre ele a iniqüidade de
todos nós. Foi maltratado, mas livremente humilhou-se e não abriu a boca, como
cordeiro conduzido ao matadouro; como ovelha que permanece muda na presença dos
tosquiadores ele não abriu a boca. Após detenção e julgamento, foi preso.
Dentre os contemporâneos, quem se preocupou com o fato de ter sido cortado da
terra dos vivos, de ter sido ferido pelas transgressões do seu povo? Deram-lhe
sepultura como os ímpios, seu túmulo está com risos, embora não tivesse
praticado violência nem houvesse engano em sua boca. Mas Iahweh quis esmagá-lo
pelo sofrimento. Porém, se ele oferece a sua vida como sacrifício expiatório,
certamente verá uma descendência, prolongará seus dias, e por meio dele o
desígnio de Deus triunfará.
Em Isaías 53, 1 provavelmente aqui é
a comunidade quem fala e anuncia o destino do Servo, revelação nova e quase
inacreditável. Todavia, a surpresa e a incompreensão iniciais (vv. 3b. 4b. 6.8)
darão lugar a inteligência melhor: tais sofrimentos não têm outra finalidade a
não ser a salvação de muitos (vv. 11-12). Tanto em Isaías 53, 2 como em Isaías
11, 11.10 vemos as imagens do renovo e da raiz acompanhavam o anúncio do
festivo do Messias davídico. Aqui, elas apenas evocam o aspecto humilde e
mísero do Servo. “Foi maltratado, mas
livremente humilhou-se e não abriu a boca, como cordeiro conduzindo ao
matadouro”. É provavelmente a este v., conjugado com o v. 4, que alude João Batista quando apresenta Jesus
como “o Cordeiro de Desus, que tira o
pecado do mundo” (Jo 1, 29). Observou-se que em aramaico a mesma palavra
talya’ designa cordeiro e servo. É possível que o Precursor haja empregado
intencionalmente a palavra, mas o evangelista, que escreve em grego, teve de
escolher.
Mediante isto, o
profeta Isaías proclamou que a obra de Deus em relação ao messias no AT, foi
realizada pelo Servo de Javé: “Vejam o meu Servo, a quem eu sustento: ele é o meu escolhido, nele tenho o meu agrado. Eu coloquei sobre ele o meu espírito, para que promova o direito entre as nações” (Is
42,1; cf. 61,1-11). O Servo justificará as multidões, isto é, estabelecerá a justiça
por seus sofrimentos (Is 53,11); não só anunciará a justiça de Deus, mas a
estabelecerá, cumprindo o papel de rei. E Deus aceita “com agrado” (Is 42,1) o
sacrifício do Servo, que atua como sacerdote. Deste modo, na figura do Servo, a
profecia do Antigo Testamento nos mostra os traços de Jesus, o Servo de Javé.
Isaías profetiza a Glorificação e a Paixão do Salvador no triunfo e nos
sofrimentos do Servo de Javé (cf. Is 52,13–53,12) com muita clareza: “Ele estava sendo transpassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas feridas é que veio a cura para nós. Todos nós estávamos perdidos como ovelhas, cada qual se desviava pelo seu próprio caminho, e Javé fez cair sobre ele os crimes de todos nós, (...) foi contado entre os pecadores, ele carregou os pecados de muitos e intercedeu pelos pecadores” (Is 53,5-6.12).
O paralelo com o NT: Nos
Sinóticos, já desde o Batismo, Jesus é chamado pelo Pai: “Tu és o meu de Filho, onde encontro toda a minha satisfação” (Mc
1,11; Mt 3,17), numa interpretação de Is 42,1; esta mesma apresentação do Servo
de Javé aplica-se agora ao Filho (ainda mais clara em Mt 12,18-21). Também no
relato da instituição da Eucaristia, há paralelo bastante significativo com o
AT: “E Jesus lhes disse: ‘Isto
é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos’” (Mc 14,24).
Na
literatura joanina, denota-se a predileção pela figura do Cordeiro, “que sofre
em silêncio pelos outros” (Is 53,7); e que é “sacrifício pascal, memorial da
libertação do Egito” (Ex 12,3-7). João, assim, faz sua teologia para exprimir o
sacrifício de Cristo com riqueza de conteúdo, e quando o Batista apresentou
Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), o
evangelista tinha em mente o cordeiro sem mancha, destinado ao sacrifício
pascal, figura do sacrifício do Servo em favor de seu povo (Is 53,7-8).
Ora,
já no livro do Apocalipse exprime-se a idéia de que, Jesus Cristo, o Cordeiro,
após a Ressurreição, não é o Cordeiro destinado ao sacrifício, porque alcançou
a plena maturidade; por isso agora é o Cordeiro que está em pé, vitorioso, se
bem que conserve para sempre os sinais de sua paixão (Ap 5,6), e assim preside
à liturgia celeste dos salvos. Ele é “quem nos libertou com seu sangue”; e, se
nesta liturgia definitiva os libertos celebram com ele a sua redenção vestidos
com vestes brancas, sacerdotais, é porque “lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). E ainda é o Cordeiro
que vai à frente do Rebanho, porque “todos
juntos farão guerra contra o Cordeiro. Mas o Cordeiro os vencerá, porque o Cordeiro é Senhor dos senhores e Rei dos reis. E com ele, vencerão também os chamados, os escolhidos e os fieis” (Ap 17,14).
BIBLIOGRAFIA:
Bíblia de Jerusalém – São Paulo – Editora: Paulus,
2002.
Bíblia do Peregrino – São Paulo: Editora Paulus – 2ª
ediação – 2002.
Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, São Paulo –
Editora: Paulus, 1990.
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