O CONTEXTO RELIGIOSO DO
NOVO TESTAMENTO
O século I da era cristã foi um século
de tremendas mudanças e de profundas transformações da Palestina.
No inicio do século I
A dinastia herodiana gozava de certas
prerrogativas. O templo aglutinava a vida religiosa do país. A sociedade
judaica encontrava-se fracionada em inúmeras seitas e grupos.
No fim do século I
A realeza tinha desaparecido da Judéia,
o país estava incorporado ao sistema provincial romano. O templo estava em
ruínas, cessaram o culto sacrifical e as peregrinações festivas. O rabinismo
apresentava-se como a única instituição florescente.
Neste século de mudanças, surgirá a
primeira comunidade cristã, e nela, aparecerá boa parte dos escritos que
constituirão o fundamento do cristianismo posterior. Porém, O NT não pode
compreender-se só com o contexto palestino. A pregação cristã sai logo dos
limites judaicos para enfrentar e ganhar aos poucos o mundo pagão. Assim, pois,
para compreender o NT e situá-lo no quadro concreto é necessário apresentar
tanto o contexto judaico quanto o contexto pagão.
I- O
CONTEXTO JUDAICO
1.- O
judaísmo palestino antes da destruição do templo
a.-
Pluralismo
A característica mais proeminente do
judaísmo palestino anterior à destruição do templo é talvez seu pluralismo,
acentuado pelo fato de que as diferenças doutrinais importavam menos que a
práxis religiosa comum. Flávio Josefo distingue quatro componentes importantes
(hairesis = seitas): fariseus,
saduceus, essênios, zelotas e indica outros vários grupos de menor importância.
Fariseus (“os
separados”). Representam o grupo de maior autoridade entre a população, por
causa de sua interpretação exata da Lei e das próprias tradições, às quais
atribuem grande autoridade e às quais se mantêm fieis. Influentes e diretamente
implicados na direção política do país no tempo dos asmoneus, sua influência
parece ser menor na época herodiana. Na época romana, alguns fariseus
participam da revolta enquanto outros ajudam aos sumos sacerdotes a manter a
ordem. Característico de seu pensamento é a crença na vida futura e a aceitação
simultânea do livre-arbítrio e da providência. Sua imagem no Nt é sempre
negativa enquanto adversários de Jesus. São frequentemente associados aos
escribas, e mais raramente aos grupos que controlam o poder em Jerusalém: os
sumos sacerdotes e os anciãos. São apresentados como mestres peritos na
interpretação da Lei e como observantes zelosos da mesma, com grande influência
sobre o povo, especialmente em relação ao dízimo, à pureza ritual e á
observância do sábado. A literatura rabínica é condicionada como a do NT pela
pretensão dos rabinos de se considerarem como os legítimos herdeiros dos
fariseus.
Partido organizado e politicamente
influente em dado momento, evolui depois até transformar-se em um grupo, cujos
interesses predominantes são puramente religiosos, convertendo-se em paladinos
da mais estrita interpretação da Lei, porta-vozes da tradição oral e
representantes da piedade popular judaica.
Saduceus
(“justos”). Entram em cena ao mesmo tempo em que os fariseus e essênios, em
meados do século II a.C. Flavio Josefo apresenta-os relacionados com as
famílias ricas e sacerdotais, entre as que exerciam grande influência, mas sem
ser seguidos pelo povo. Alguns estudiosos consideram os saduceus como um grupo
que representava os interesses das classes dominantes e da casta sacerdotal. No
NT aparecem frequentemente unidos aos fariseus como inimigos de Jesus, são
apresentados como ativos no templo e associados com os sacerdotes e com os
membros do sinédrio, e se insiste que não crêem na vida futura nem nos anjos ou
espíritos. Os pontos nos quais se diferenciam dos fariseus, segundo a
literatura rabínica, são problemas de pureza ritual, legislação civil, leis
sobre o culto e sobre a observância do sábado, elementos que dividiam os vários
grupos.
Trata-se de um grupo com fortes
enraizamentos sacerdotais e aristocráticos, com interesse particular no culto
do templo, com certas crenças diversificadas entre as quais se destaca a
negação da vida futura; compete com outros grupos pelo poder político, o qual
exerce uma função dirigente durante muito tempo e que, finalmente, desaparece
da cena com a destruição do templo e a transformação da sociedade judaica
resultante dessa destruição.
Essênios (do
Aramaico “piedosos/fieis” ou “curandeiros”; ou do hebraico “fazedores”). Este
grupo não é mencionado no NT. Josefo atesta-lhes a existência já em meados do
século II a.C. e no século Id.C. Como grupo tinha desaparecido no final da
revolta contra Roma. As características mais acentuadas o grupo eram a vida comunitária,
fortemente estruturada, a posse de bens em comum, segregação dos demais judeus,
o celibato, a retidão moral, a modéstia, as abluções, as refeições em comum e
as roupas brancas. Quanto às doutrinas, grande parte delas é d cunho
tipicamente judaico (solicitude extrema de pureza obtida mediante repetidas
abluções, observância rigorosa do sábado, estima especial a Moisés etc.),
enquanto outras parecem de inspiração alheia (determinismo, culto ao
sol,retribuição ultraterrena sem ressurreição).
Hoje graças aos descobrimentos de
manuscritos em Qumrã, temos conhecimento mais preciso do essenismo e
especialmente de uma das ramificações do movimento: a seita qumrâmica.
Outro grupo conhecido de origem
aparentemente essênia é o dos terapeutas que teriam habitado
sobretudo no Egito; eram contemplativos e dedicavam a vida a oração e ao estudo
da Bíblia. Abstinham-se da carne e do vinho, e não comiam nada antes do
pôr-do-sol. O grupo era formado tanto por homens como por mulheres, porém,
todos eram celibatários.
Zelotas (“os
Zelotas”). A maneira tradicional de compreender o surgimento dos zelotas pode
resumir-se assim: a revolta contra roma tinha sido fundamentalmente obra de um
só partido: os outros grupos que conhecemos (os sicários, os partidários de
João de Giscala, os seguidores de Simão bar Giora) haviam sido facções que se
desenvolveram no seio deste partido único ou seriam nomes distintos de uma
mesma realidade, o partido dos zelotas, fundado por Judas o Galileu, no ano 6
d.C.
Hoje predomina a compreensão dos
zelotas como grupo formado no ano 66 d.C. e que desapareceu com a destruição de
Jerusalém. Entre as características ideológicas dos zelotas, talvez a mais
acentuada seja a sua fervorosa espera escatológica.
Os
sicários. Embora antes fossem confundidos frequentemente com os zelotas, hoje
são reconhecidas as suas características próprias e sua possível vinculação com
as idéias de Judas o Galileu e do movimento de resistência que organizou
motivado pelo censo romano. Seu nome proveio do emprego da sica, punhal que levavam escondido debaixo da capa e com o qual
atacavam os inimigos durante as concentrações populares. Suas origens parecem
situar-se na Galileia e de fato a família de Judas o Galileu proporcionou-lhes
uma série de chefes quase messiânicos até sua destruição final em Massada.
Formam um partido socialmente revolucionário, cujo ideal político é a teocracia
absoluta, que pretendem introduzir pela força. Atacando, por isso, tanto os
ocupantes romanos como os colaboradores judaicos. Após o assassinato de Menaém,
desaparecem de Jerusalém e refugiam-se em Massada, onde resistirão até a morte
aos ataques romanos.
Os
herodianos (Mc 3, 6;12,13; Mt 22,16). Alguns Padres da Igreja vêem neste grupo uma
heresia messiânica na qual Heodes o Gande teria sido considerado o Mesias
esperado ou, devido a sua origem iduméia incompatível com a idéia messiânica,
como o silo (Gn 49,10) que acabaria
com a realeza judaica. São Jerônimo oferece duas alternativas: em uma seria um
apelido para designar os partidários do pagamento do tributo a Roma; na outra,
se identificam com os soldados de Herodes Agripa. A partir de E. Bickermann, é
comum entender “herodianos” como uma designação coletiva dos domésticos de
Agripa, ou também como referencia aos partidários do tetrarca. Depois dos
descobrimentos de Qumran, não tem faltado autores que identificam os
“herodianos” com os essênios, os quais não são mencionados no NT e que gozaram,
como grupo, do respeito de Herodes.
A referencia do nome de Herodes o
Grande (“partidários de Herodes o Grande”) é preferível à sua vinculação a
Herodes Antipas e não se deveria excluir da designação uma referencia
messiânica,entendendo este messianismo como um “messianismo à romana”, segundo
A. Schalit, para quem a soteria que
Herodes traz a seus súbditos é parte e participação da salvação que Augusto
trouxe ao Império Romano.
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.
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