O CONTEXTO RELIGIOSO DO
NOVO TESTAMENTO
O século I da era cristã foi um século
de tremendas mudanças e de profundas transformações da Palestina.
No inicio do século I
A dinastia herodiana gozava de certas
prerrogativas. O templo aglutinava a vida religiosa do país. A sociedade
judaica encontrava-se fracionada em inúmeras seitas e grupos.
No fim do século I
A realeza tinha desaparecido da Judéia,
o país estava incorporado ao sistema provincial romano. O templo estava em
ruínas, cessaram o culto sacrifical e as peregrinações festivas. O rabinismo
apresentava-se como a única instituição florescente.
Neste século de mudanças, surgirá a
primeira comunidade cristã, e nela, aparecerá boa parte dos escritos que
constituirão o fundamento do cristianismo posterior. Porém, O NT não pode
compreender-se só com o contexto palestino. A pregação cristã sai logo dos
limites judaicos para enfrentar e ganhar aos poucos o mundo pagão. Assim, pois,
para compreender o NT e situá-lo no quadro concreto é necessário apresentar
tanto o contexto judaico quanto o contexto pagão.
I- O
CONTEXTO JUDAICO
3.- O
judaísmo da diáspora
A “diáspora” ou dispersão é
conseqüência das antigas deportações em massa da época do exílio ou das mais
recentes, como o deslocamento de numerosos prisioneiros de guerra para Roma e,
sobretudo, das grandes migrações voluntárias.
a.-
Organização e situação jurídicas
Em geral, sua posição jurídica era
semelhante à das outras associações de imigrantes. Eram considerados como
estrangeiros dentro da cidade (metecos), porém desfrutando de certos
privilégios e de jurisdição própria.
A comunidade de Alexandria constituía
uma entidade política autônoma, um politeuma,
dirigido por um etnarca, com sua gerusia e seus arcontes, formando uma cidade
dentro da cidade, com funções administrativas, financeiras e judiciais
próprias. Ao contrário, a comunidade judaica de Roma, tão numerosa como a de
Alexandria, não desfrutava de mais direitos que aqueles reconhecidos às
associações religiosas privadas. Assim como o estatuto jurídico, também a
estrutura interna das comunidades poderia ser diferente nas diversas
comunidades e mudar com o passar do tempo.
b.-
Liberdade religiosa e privilégios
O desenvolvimento desta florescente
diáspora judaica foi possível graças à liberdade religiosa da qual seus membros
desfrutaram. Os privilégios concedidos às diferentes comunidades
asseguravam-lhes a prática livre da religião. O reconhecimento do direito à
prática da religião judaica levava consigo o direito de administrar as finanças
da comunidade, um direito necessário para garantir o envio, ao templo de
Jerusalém, dos dízimos exigidos pela lei e do imposto de duas dracmas para o
culto do templo. Igualmente importante era o direito de ministrar justiça de
acordo com as prescrições da lei mosaica (At 9,2; 18,12-16; 22,19; 26,11).
Conseqüência desta liberdade era a isenção do serviço militar, pela
incompatibilidade com a observância sabática, assim como outra série de
privilégios relacionados com o sábado.
c.-
Helenização, apologética e proselitismo
O contato contínuo com o mundo pagão
marcou profundamente ávida religiosa do judaísmo da diáspora. Boa parte dos
escritos do judaísmo da diáspora caracterizou-se por marcada tendência
apologética. Neles tentava-se provar que os judeus não são inferiores aos
outros povos, nem chegaram mais tarde à civilização, mas fizeram contribuições
notáveis à mesma, que não são de modo algum “ateus”, mas cuja negativa a participar
nos cultos pagãos nasce da superioridade do monoteísmo; e que os preceitos da
lei têm justificação de ordem superior que faz da lei mosaica o mais puro e
levado ideal humano.
Em estreita relação com este caráter
apologético acha-se a tendência proselitista e missionária de várias das obras
do judaísmo da diáspora. Grande número de pagãos sentiu-se atraído pelo
judaísmo, muitos deles se converteram, aceitando a circuncisão e a totalidade
dos preceitos da lei (os prosélitos) e outros muitos simpatizantes (“tementes a
Deus”), sem se converterem completamente ao judaísmo, aceitavam o Deus único,
observavam o sábado, praticavam alguns dos preceitos e atendiam aos serviços
sinagogais. Ao lado da propaganda ativa por meio dos escritos, a irradiação
concreta por meio das sinagogas deve ter sido um dos fatores do êxito
proselitista do judaísmo da diáspora.
d.-
Relações com o judaísmo palestino
A diferença entre o judaísmo da
diáspora com o judaísmo da Palestina é mais questão de matizes que de essência;
os elementos comuns a ambos são muito mais importantes que as diferenças. O
judaísmo da diáspora encontrava-se em continuo contato com a Palestina, contato
intensificado pela presença, em Jerusalém, de sinagogas dedicadas especialmente
ao serviço dos judeus procedentes da diáspora.
A remessa dos dízimos e do imposto das
duas dracmas para o templo, assim como as peregrinações a Jerusalém por motivo
das festas, eram dois canais principais através dos quais se mantinham os laços
de união com a cidade santa,permitindo-lhe exercer influência sobre o judaísmo da diáspora.
Neste judaísmo da diáspora helenizado e
missionário, com seus prosélitos e theosebeis,
o cristianismo nascente encontrará o terreno mais propício para a expansão.
4.- Os
samaritanos
A interpretação hierosolimitana das
origens samaritanas é a que se reflete em 2Re 17,24-41: os assírios tinham
implantado uma população estrangeira que se havia misturado com os israelitas.
Na própria interpretação da história,
os samaritanos consideram-se, pelo contrário, os únicos israelitas fiéis à
religião mosaica, tal como aparece na Torah e como foi estabelecida em Siquem
por Josué. O cisma tinha começado com o estabelecimento, por Eli, santuário de
Silo, tinha sido perpetuado com a construção, por Salomão, do templo de
Jerusalém e havia-se consumado com a falsificação de Escritura feita por
Esdras.
A investigação atual inclina-se a
buscar as origens dos samaritanos no século II a.C., e considera como fator
mais importante a incorporação ao Pentateuco, do preceito sobre o culto no
monte Garizim. Os samaritanos consideram-se os únicos portadores da verdadeira
tradição religiosa israelita, de maneira que não difere essencialmente da de
outros grupos sectários, como a comunidade de Qumrã.
A espera samaritana pela chegada de um
profeta como Moisés, o taheb (“o que
volta”), de caráter messiânico (Jo 4,25), exercerá forte influência no
cristianismo nascente, e dentro do NT podemos encontrar ecos não só de oposição
judaico-samaritana, mas também da existência de grupos diferentes dentro do
samaritanismo.
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.
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