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O CONTEXTO JUDAICO E SUAS CRENÇAS


O CONTEXTO RELIGIOSO DO NOVO TESTAMENTO

O século I da era cristã foi um século de tremendas mudanças e de profundas transformações da Palestina.

No inicio do século I
A dinastia herodiana gozava de certas prerrogativas. O templo aglutinava a vida religiosa do país. A sociedade judaica encontrava-se fracionada em inúmeras seitas e grupos.

No fim do século I
A realeza tinha desaparecido da Judéia, o país estava incorporado ao sistema provincial romano. O templo estava em ruínas, cessaram o culto sacrifical e as peregrinações festivas. O rabinismo apresentava-se como a única instituição florescente.

Neste século de mudanças, surgirá a primeira comunidade cristã, e nela, aparecerá boa parte dos escritos que constituirão o fundamento do cristianismo posterior. Porém, O NT não pode compreender-se só com o contexto palestino. A pregação cristã sai logo dos limites judaicos para enfrentar e ganhar aos poucos o mundo pagão. Assim, pois, para compreender o NT e situá-lo no quadro concreto é necessário apresentar tanto o contexto judaico quanto o contexto pagão.


I- O CONTEXTO JUDAICO

1.- O judaísmo palestino antes da destruição do templo:

b- Crenças

A religião judaica deste período continua e prolonga os aspetos essenciais da religião do AT. O elemento central é a profissão de fé no Deus único expresso no Shemá (Dt 6,4; cf. Mc 12,29). Porém, há também um desenvolvimento importante de vários aspectos que começaram a apontar na época pós-exílica. Os mais importantes são: messianismo, escatologia, anjos e demônios.

Messianismo. A antiga idéia messiânica implicava fundamentalmente a espera de futuro melhor para a nação, introduzido por um descendente de Davi. Neste período esta idéia messiânica aparece sensivelmente modificada nos diversos grupos, cada um dos quais a desenvolve de forma diferente, acentuando o elemento restaurador ou o elemento utópico. A esperança messiânica ampliar-se-á também interiorizando-se, passando do povo ao indivíduo.

Outro elemento importante da transformação da esperança messiânica é a passagem da esperança deste mundo para o mundo futuro. A vinda do messias significa o começo do mundo futuro; a esperança messiânica faz-se, assim, cada vez mais transcendente e transfere-se para o plano ultramundano.

Esta multiplicidade de crenças messiânicas aparece também no que diz respeito às figuras messiânicas esperadas: Elias, como precursor do messias (Mal 3,23-24; cf. Lc 7,24-28). E é igualmente esperada a vinda de “o profeta” (cf. Jo 1,19-24). Este profeta semelhante a Moisés (Dt 18,18-19) chega a adquirir posições propriamente messiânicas entre os samaritanos, que o designam como o taheb e lhe atribuem caráter sacerdotal, enquanto outros textos samaritanos parecem esperar junto a ele um messias leigo à imagem de Josué. Na comunidade de Qumrã está claramente atestada a espera de messias diferentes: um messias davídico e um messias sacerdotal e a vinda do profeta. A Regra da Comunidade diz; “Até que venham o profeta e os messias de Aarão e de Israel”.

Todas essas figuras messiânicas são humanas; porém em Qumrã espera-se também junto com elas a chegada de um libertador escatológico de caráter angélico ao qual se atribuem traços messiânicos. Em outros grupos ou correntes, é ao próprio messias que se atribui uma personalidade supraterrestre e se supõe preexistente: “Este é o ungido que o Altíssimo reserva para o fim” (Esdras 4). O livro das Parábolas incluído no Henoc etiópico é ainda mais explicito nestas especulações: o nome de messias que se designa como “Filho do homem” seguindo a tradição daniélica, foi pronunciado já antes da criação, e Henoc, em sua viagem celeste, pode visitar já este Filho do homem, cuja glória é superior à dos anjos e que possui toda a sabedoria e a justiça.

Escatologia. As idéias escatológicas do judaísmo do período intertestamentário prolongam e desenvolvem diversas linhas do pensamento do AT, sobretudo na escatologia profética, que anuncia a futura restauração do povo, a destruição dos inimigos e a volta a um estado paradisíaco. Em geral predomina o que se costuma designar como escatologia apocalíptica.

O final dos tempos é imaginado como conseqüência de uma grande deflagração, precedida de um período de tribulações e de perseguição de justos, assim como por uma série de sinais anunciadores do fim. Em certos textos, a vinda do rei messias marca o começo do final dos tempos, e é o messias que destrói os ímpios, enquanto em outros, é Deus unicamente que intervém. Tampouco são homogêneos os textos que descrevem o juízo divino. A idéia veterotestamentária do “dia do Senhor”, no qual Deus castigará as nações ou os indivíduos ímpios e recompensará seu povo e os justos, desenvolve-se sobretudo na direção de um juízo pessoal que se efetuará no fim dos tempos e servirá para dar a cada um a retribuição definitiva que suas obras mereceram.

A valorização do individualismo religioso, cada vez mais dissociado do destino do povo, coincide com a abertura universalista; o juízo acabará sendo o julgamento de todos os homens; mais que um juízo que separará judeus de gentios, o que se afirma é um juízo que separará os bons dos maus. O juízo precederá e marcará o começo da era messiânica; e em certos textos é o próprio messias que julga. Em alguns casos, o juízo supõe a ressurreição, reservada unicamente aos justos ou estendida a todos os homens. Ao juízo seguirá a destruição ou o castigo dos espíritos malignos, e o prêmio ou castigo definitivos de todos os homens.
São igualmente variadas as idéias sobre a situação do mundo futuro. Grande parte de textos afirma a ressurreição. Certos textos tratam de uma única ressurreição dos justos; em outros, são todos os homens que ressuscitam para serem julgados, ora no começo, ora no fim da era messiânica. Outras vezes para refletir-se a idéia da imortalidade da alma. Aponta-se algumas vezes até uma diferença nos respectivos estados entre justos e pecadores e situam-se os justos numa espécie de paraíso indeterminado à espera da ressurreição.

Anjos e demônios. A anjeologia e demonologia desta época acham-se muito desenvolvidas em relação ao AT, desenvolvimento no qual parecem haver influído tanto a maior consciência da transcendência divina quanto as influências estrangeiras. Caracteriza-se pela multiplicidade das funções que se atribuem aos anjos e aos demônios, por uma implicação cada vez maior de seres celestes nos assuntos humanos, por uma personificação progressiva, por uma hierarquização das funções e por uma contra posição do mundo angélico e demoníaco.

Por hipótese, os anjos continuam sendo aqueles que acompanham a Deus na moradia celeste e nas suas teofanias terrestres. Os nomes com os quais são designados indicam-nos a multiplicidade de funções que lhes são atribuídas. Nos escritos apocalípticos encontramos, com freqüência, a figura do “anjo interprete”, encarregado de explicar a revelação ao vidente. Outros textos nos mostram os anjos como encarregados de governar os vários fenômenos naturais, de celebrar a liturgia celeste, de redigir as tábuas celestes e os diferentes livros nos quais se anotam as ações dos homens etc.

Junto a esta multiplicação das funções, encontramos uma intervenção cada vez maior dos anjos aos assuntos dos homens. Os anjos intervém sobretudo no final da história. A literatura rabínica desenvolverá amplamente a figura do anjo da guarda de cada pessoa. A intervenção angélica na vida dos homens aparece igualmente em relação ao destino de cada homem. A intervenção angélica é continua no NT, não só em relação a Jesus, a também a todos os fiéis.

Como conseqüência da diversificação de funções e da progressiva personalização dos anjos, aparece uma acentuada hierarquização das coortes angélicas, que refletem tanto a hierarquia militar como a sacerdotal, atribuindo-se um estatuto particularmente elevado a determinados anjos como Miguel, o Metraton.

O desenvolvimento da demonologia é estritamente paralelo à da anjeologia. A explicação sobre a origem dos demônios,proporcionada pelos textos, oscila entre a rebelião de certos anjos no céu, realçando as características negativas que leva a uma apresentação aproximada das concepções dualistas de origem persa. São apresentados como inimigos de Deus; porém sobretudo como adversários dos homens, aos quais tentam, atacam e procuram destruir. Sua influência sobre os homens é profunda; são considerados como causadores de enfermidades e desgraças, e inclusive de provocar desastres naturais. Sua ação maléfica é em parte neutralizada pela ação benéfica dos anjos, e a luta entre os dois exércitos só terminará no final dos tempos, quando os demônios forem destruídos ou castigados para sempre.

Uma das maneiras de se livrar de suas influências constitui-se nos exorcismos, dos quais o NT tem abundantes exemplos. Outros textos recorrem a fórmulas de encantamento para obter o mesmo efeito ou para prevenir a ação maléfica dos demônios. A julgar pelos textos mágicos de épocas posteriores, a influencia dos demônios na vida religiosa da época, pelo menos a nível popular, deveria ser  ainda maior que aquela que os textos conservados nos permitem precisar.

FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.

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