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Vale a pena
lembrar de novo...
O que é O TEMPO QuaresmaL?
“A Quaresma é um tempo ‘forte’ de
oração, jejum e atenção aos necessitados, oferece a todo cristão a
possibilidade de se preparar para a Páscoa fazendo um sério discernimento da
própria vida, confrontando-se de maneira especial com a Palavra de Deus, que
ilumina o itinerário cotidiano dos fiéis”. A Quaresma dura 40 dias; começa na
Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. A duração da Quaresma
está baseada no símbolo do número quarenta encontrado na Bíblia várias vezes.
Nesta, é falada dos 40 dias do dilúvio, dos 40 dias de Jesus Cristo que passou
no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio
dos judeus no Egito.
A prática da Quaresma data do século
IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de
renovação para toda a igreja, com a prática do jejum e da abstinência. A cor
litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de
reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o
Mistério Pascal. A Quaresma é um tempo litúrgico que nos convida a conversão;
configurado pela teologia eclesial como grande preparação para a internalização
da Páscoa. Trata-se de um período privilegiado, onde o coração do crente é
levado, à luz dos textos bíblicos, a viver um processo de santificação e
mudança interior.
É tempo de arrependimento que conduz
ao esvaziamento de si mesmo à luz do mistério da pessoa de Jesus de Nazaré que,
por sua vez, vértice de mudanças fontais, ressignifica a vida humana, dando um
sentido profundo à nossa existência enquanto “soma” de Cristo presente na história. A Quaresma dura 40 dias (09
de março a 17 de abril de 2011) começa na quarta-feira de cinzas e termina no
domingo de Ramos. Ao longo deste período, sobretudo na liturgia do domingo,
fazemos um esforço para resgatar valores fundamentais que exprimem a vida
cristã em sua autenticidade profunda. Também é convite ao silêncio, ao escondimento,
a internalização de conceitos que dão identidade, corpo, alma e sangue as
atitudes que plastificam a nossa história do dia a dia.
Na quaresma, o cristão mergulha no
deserto de si mesmo, percebendo-se como sujeito, misto de beleza e fragilidade.
Aqui o ser humano encontra-se com suas limitações, contradições, ambigüidades,
que fazem-lho perceber que as estruturas mais profundas da vida humana resvalam
a mera realidade factual de um vaso de argila que, por sua vez, esconde um
mistério santo: a presença do Espírito de Jesus. O Espírito que nos envia a
colocar a mão no pulso da história e o ouvido interno no coração de Deus.
A cor litúrgica deste tempo é o
roxo, que significa penitência. É um tempo de reflexão, expiação, conversão
radical; tempo e preparação para o mistério pascal, realidade profunda que
dilata o coração humano fazendo-se semelhante ao coração do Transpassado. Logo,
somos levados a encarnar a espiritualidade da cruz que convida ao compromisso
radical com Deus e com o próximo. Tal convite pressupõe consciência das
exigências e conseqüências fontais de um Reino que implica ousadia e
intrepidez, identificação com a causa do Pai que se revela no rosto dos pobres
e marginalizados. Logo, na quaresma, o Espírito de Jesus nos conduz a encarnar
um rosto eclesial samaritano e acolhedor.
Todavia, toda teologia que pervade o
espírito quaresmal desemboca na certeza da ressurreição. Pois, o lugar
teológico e existencial do cristão não coincide com a morte em absoluto, mas
assumindo a realidade da morte enquanto tal faz da mesma uma condição de
possibilidade que conduz à grande experiência pascal que é vida, vida em
abundância.
A Quaresma, preparação á celebração anual da Páscoa.
O Tempo da Quaresma tem por finalidade preparar a Páscoa:
a liturgia quaresmal conduz à celebração do mistério pascal sejam os
catecúmenos, através dos diversos graus da iniciação cristã, sejam os fiéis,
mediante a lembrança do batismo e da penitência. O Tempo da Quaresma decorre da
Quarta-feira de Cinzas até a missa na Ceia do Senhor, exclusive. Do início da
Quaresma até a Vigília pascal não se canta o aleluia. Na quarta-feira, com a
qual se inicia a Quaresma e que em todo lugar é dia de jejum, são impostas as
cinzas. Os domingos deste tempo são chamados de I, II, III, IV e V domingos da
Quaresma. O sexto domingo, no qual se inicia a Semana Santa, chama-se “Domingo
de Ramos ou da Paixão do Senhor”. A Semana Santa tem como finalidade a
veneração da Paixão de cristo, desde a sua entrada messiânica em Jerusalém. Na
quinta-feira Santa, pela manhã, o bispo, concelebrando a missa com o seu
presbitério, benze os óleos santos e consagra o crisma.
Duração da Quaresma
Na determinação da duração de quarenta dias, a fim de que
os cristãos se preparem para celebrar a solenidade pascal, é mais do que certo
que teve grande peso a tipologia bíblica dos quarenta dias, isto é, o jejum de
quarenta dias de nosso Senhor Jesus Cristo: os quarenta anos transcorridos pelo
povo de Deus no deserto; os quarenta dias em que Moiséis esteve no Monte Sinai;
os quarenta dias em que Golias, o gigante filisteu, desafiou Israel, até que
Davi avançou contra ele, abateu-o e o matou; os quarenta dias durante os quais
Elias, fortificado pelo pão cozido sob cinzas e pela água, chegou ao monte de
Deus, o Horeb; os quarenta dias nos quais Jonas pregou a penitencia aos
habitantes de Nínive.
Origem e história da Quaresma
A Celebração da Páscoa, nos três primeiros séculos da
Igreja, não tinha um período de preparação. Limitava-se a um jejum realizado
nos dois dias anteriores. A comunidade cristã vivia tão intensamente o empenho
cristão, até o testemunho do martírio, que não sentia a necessidade de um
período de tempo para renovar a conversão já acontecida com o batismo. Ela
prolongava, porém, a alegria da celebração pascal por cinqüenta dias
(Pentecostes).
Após a Paz de Constantino, quando a tensão diminuiu no
empenho da vida cristã, começou-se a perceber a necessidade de um côngruo
período de tempo para admoestar os fiéis sobre uma maior coerência com o
batismo. Nascem assim as prescrições sobre um período de preparação à Páscoa. Não
sabemos com certeza onde, por meio de quem e como surgiu a Quaresma, sobretudo
em Roma; apenas sabemos que ela foi se formando progressivamente. Ela tem uma
pré-história, ligada a uma praxe penitencial preparatória à Páscoa, que começou
a firma-se desde a metade do século II.
Até o século IV, a única semana de jejum era aquela que
precedia a Páscoa. Na metade do século IV, já vemos acrescentadas a esta semana
outras três, compreendendo assim quatro semanas. A partir do fim do século IV,
a estrutura da Quaresma é aquela dos “quarenta dias”, considerados à luz do simbolismo
bíblico, que dá a este tempo um valor salvífico-redentor, cujo sinal é a
determinação “sacramentum”. Podemos concluir, portanto, que, para o
desenvolvimento da Quaresma, contribuiu antes de tudo a prática do jejum, como
preparação à Páscoa; depois, a disciplina penitencial, à qual, desde 306, a Epístola
canônica de São Pedro Alexandrino faz aceno; enfim, as exigências sempre mais crescentes
do catecumenato para a preparação imediata ao batismo, celebrando na noite de
Páscoa.
A quaresma nos textos do
lecionário e do missal
O rico conteúdo da Quaresma é determinado pela sua
finalidade: a celebração da Páscoa. De fato, este tempo já faz parte do
“paschale sacramentum” e só será corretamente entendido à luz do momento
culminante do seu ponto de chegada: a Vigília pascal. Isso ficará mais claro
através dos textos bíblicos do atual Lecionário e dos textos eucológicos do
Missal. O trabalho mais precioso da reforma está presente nos textos
litúrgicos, bíblicos, eucológicos. Consideremo-los por partes.
As leituras bíblicas quaresmais
O novo lecionário dominical dos dias de semana exerce
grande importância na orientação pastoral e na incidência espiritual. Nos cinco
domingos que precedem a Semana Santa, no ciclo trienal, são proclamados
quarenta e cinco textos bíblicos.
As leituras do Antigo
Testamento podem ser reduzidas a três grupos:
1) Textos que apresentam a
história da salvação (a aliança original; a vocação de Abraão; o êxodo; o
deserto e a história de Israel);
2) Textos que proclamam a
lei, portanto, os deveres morais impostos pela aliança;
3) Os apelos dos profetas à
conversão e ao arrependimento.
As epístolas foram escolhidas tanto para
prolongar a mensagem contida nas leituras do Antigo Testamento e mostrar a
profundidade das essas, como para preparar a escuta do Evangelho. Os evangelhos
dos dois primeiros domingos, nos três anos, estão sempre centrados em Cristo
tentado e transfigurado; os outros três domingos preparam mais diretamente para
o batismo ou à renovação das promessas na noite de Páscoa.
O ano A = tem um caráter mais
batismal.
O ano B = propõe uma série de textos
centrados no mistério da cruz gloriosa de Cristo segundo João.
O ano C = nos textos de Lucas, ele coloca
em relevo a misericórdia de Deus e o convite para acolhê-la.
Neste rico Lecionário dominical
podemos entrever três itinerários:
1) Uma Quaresma batismal
(ano A);
2) Uma Quaresma
cristocêntrica (ano B);
3) Uma Quaresma penitencial
(ano C)
Partindo
dos textos do Antigo Testamento pode ser apresentada a história da aliança de
Deus com a humanidade e suas relativas exigências atuais para a vida da
comunidade cristã. Uma síntese da mensagem contida na liturgia da palavra de
cada domingo pó ser encontrada nas coletas acrescentadas na segunda edição
italiana do Missal Romano.
O
lecionário ferial é bastante variado na escolha das perícopes. Nas primeiras
três semanas, sem especial ordem sistemática, são apresentados os grandes temas
quaresmais: a caridade, a oração, o jejum, o perdão, o serviço, a humildade
etc. Os textos do Antigo Testamento estão sempre em relação com o evangelho.
Nas
duas últimas semanas, com a leitura descontínua do evangelho de João (capítulos
4 – 11), a temática está centrada na pessoa de cristo, nas suas palavras e
obras (os milagres) que manifestam a sua divindade. As discussões com os judeus
e a crescente oposição e incredulidade deles conduzem à morte de Jesus e à
morte de cruz. A escolha destes textos do quarto evangelho, combinados com os
do Antigo Testamento que apresentam a figura do justo perseguido, orientam os
fiéis a celebrar a paixão do Senhor.
Os textos eucológicos
do tempo quaresmal
Encontramos também um rico conteúdo
teológico e ascético nos textos eucólogicos. Na reforma do Missal foi eliminada
das orações a insistência no jejum e na mortificação corporal que, nas
transformadas condições de tempo e de disciplina, constituía estridante
anacronismo, com o risco até de reduzir a ascese quaresmal à exclusiva
frulalidade nos alimentos. Foram sublinhados, então, também aspectos positivos,
como a oração e o exercício da caridade. Analisando os diversos textos eucológico,
emergem alguns temas: a conversão, o caminho para a Páscoa, o exercício da
caridade, do perdão aos irmãos, da oração e do jejum do pecado. Desde o
primeiro dia da Quaresma, a Igreja pede ao Senhor para “começar com este jejum
um caminho de verdadeira conversa, a fim de enfrentar vitoriosamente, com as
armas da penitência, o combate contra o espírito do mal. Devemos dar também particular atenção aos
prefácios, com os quais foi enriquecido o Missal romano, com a reforma do tempo
da Quaresma, da semana Da Paixão e Semana Santa. Temos, depois, os cinco prefácios dominicais,
um para cada domingo da Quaresma, que desenvolvem, em seus simbolismos, os
temas das leituras evangélicas.
A quaresma “sacramento”
A
Igreja vive este tempo de quarenta dias como ação estruturada em gestos e
palavras, cujo significado é dado pela palavra de Deus e pela presença operante
de Cristo. Todo ato sagrado realizado pela comunidade cristã, reunida em
assembléia litúrgica, é “sacramento”, isto é, sinal expressivo daquela
realidade sagrada realizada por Deus e em continuidade como os eventos
salvíficos culminados em Cristo. A Quaresma no seu conjunto de palavras que
anunciam os eventos da salvação, ritos e práticas ascéticas, é um grande sinal
sacram3ental, mediante o qual a Igreja participa, na fé-conversão, do mistério
de cristo que faz para nós a experiência do deserto, jejum e vence a tentação,
escolhendo o caminho do messianismo do servo humilde e sofredor até a cruz. Conseqüentemente,
a Quaresma tem um caráter crístico-sacramental-eclesial, porque é celebração
litúrgica e, como tal, é ato de Cristo e da sua esposa, a Igreja. Quando a
liturgia fala de “sacramento pascal” inclui aí não só a morte-ressurreição do
Senhor como o dom do Espírito, mas também a Quaresma, como sinal da primeira
vertente do mistério pascal.
Fiquem na paz de Deus!
Seminarista Severino da Silva.
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