4 – São Paulo e os grandes traços
de sua personalidade
4.1 – A “pequenez” do homem e a
grandeza do Apóstolo
As cartas de Paulo são o caminho
possível para se aceder, ainda que apenas parcialmente, a importantes traços da
personalidade deste evangelizador por excelência. Acerca de sua pessoa muitas
interrogações podem ser formuladas. Que tipo de homem era, como pensava, como
vivia, como reagia? Era de caráter dócil ou inflexível? Como eram suas relações
com o mundo, com seus semelhantes? As perguntas poderiam se enumerar. As
epístolas, todavia, oferecem apenas pistas. Muitas questões permanecerão sempre
no âmbito das hipóteses. O que segue é uma tentativa de conjugar os grandes
traços de sua personalidade partindo do que ele mesmo deixou entrever.
De
muitas maneiras se poderia falar da fortaleza que movia Paulo a se manter
profundamente identificado com sua missão. Os enfoques podem ser multíplices.
Aqui se preferirá observá-lo a partir de realidades contrastantes vividas por
ele. E uma primeira anotação pode ser tomada da sua condição de enfermidade. Ao
que parece, Paulo não era favorecido pela saúde. Pouco dado a falar de questões
pessoais, por várias vezes suas páginas referem sua situação de doença. Em Gl
4,13-14 se pode ler: “Bem o sabeis, foi
por causa de uma doença que eu vos evangelizei pela primeira vez. E vós não
mostrastes desprezo nem desgosto...”.
Com certeza isso não passava desapercebido por parte das comunidades. O
“aguilhão na carne”, que ele sentia como “golpes de Satanás”, entre outras
possíveis interpretações, deixa entrever que se tratava de algum mal que lhe
causava muitas dores físicas.
É no quadro de sua enfermidade
aparece logo um dos fortes contrastes que marcaram admiravelmente sua
personalidade: apesar de suas debilidades físicas, foi extremamente forte na
realização de uma missão excepcional. É só pensar nos açoites, nas flagelações,
nos naufrágios, na lapidação; ou ainda nos caminhos difíceis, inóspitos e
escarpados que percorreu (Licaônia, Capadócia, Galácia), ou nos perigos que
atravessou (2Cor 11,26-27: “...Perigos
nos rios... perigos no deserto, perigos no mar... fadigas, duros trabalhos,
numerosas vigílias, fome e sede, múltiplos jejuns, frio e nudez”). Com
certeza, todos estes embates comprometiam sua vitalidade física. Com justeza
podia ele escrever: “Trago em meu corpo
as marcas de Jesus” (Gl 6,17). Mas nunca desanimava porque quando se
reconhecia fraco, então experimentava a força (2Cor 12,10).
Outros traços que revelam, por
via de contraste, a grandeza da personalidade de Paulo são suas atitudes frente
aos adversários. Jogavam-lhe em rosto que era modesto quando estava presente entre
os coríntios e corajoso somente quando estava distante (2Cor 10,1). Diziam que
suas cartas eram “severas e enérgicas,
mas ele, uma vez presente, é homem fraco e sua linguagem é desprezível”
(2Cor 10,10). A fraseologia poderosa sugeria uma personalidade vigorosa, mas
seu falar não suscitava impressão. Talvez no confronto com seus oponentes,
especialmente os de Corinto, tenha experimentado o gosto amargo da derrota.
Cabe supor que quando se tratava de fazer valer a própria pessoa, Paulo adotava
atitudes de modéstia. Quando se viu constrangido a enaltecer a si mesmo,
advertiu que falava “como um insensato,
certo de ter motivo de me gloriar” (2Cor 11,17). Com isso dava a entender
quanto lhe era incômodo evidenciar a si mesmo. Entretanto, quando se tratava de
defender o evangelho e de sustentar a causa de seu Senhor, então era
extremamente forte .
A tensão entre a modéstia pessoal
e a magnitude de sua missão expõe de maneira admirável a condição humana do
apóstolo. Ele não esconde este duplo aspecto. É só observar a fineza, quase
timidez, com que se apresenta à comunidade dos romanos, que ele desconhecia: “Realmente desejo muito ver-vos, para vos
comunicar algum dom espiritual... ou melhor, para nos confortar convosco pela
fé que nos é comum a vós e a mim” (Rm 1,11s). Ao final de sua ampla
reflexão formulou: “Contudo, vos escrevi,
e em parte com certa ousadia, mais no sentido de avivar a vossa memória, em
virtude da graça que me foi concedida
por Deus, de ser ministro de Cristo Jesus junto às nações, a serviço do
evangelho de Deus...” (Rm 15,15-16).
Aos coríntios não ocultou sua ansiedade: “Estive entre vós cheio de fraqueza, receio e tremor” (1Cor 2,3).
Mas também estava disposto a reagir com muita energia contra a auto-suficiência
de Corinto (2Cor 10,16), pois que entre eles atuou com os sinais do apóstolo: “paciência a toda prova, sinais milagrosos, prodígios e atos portentosos”
(12,12). Mas quando se tratava de salvaguardar o “Evangelho de Cristo” não se
poupava das palavras mais contundentes, como em Gl 1,8.9: “Se
alguém vos anunciar um evangelho diferente do que recebestes, que seja
consagrado à maldição”.
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
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