2.2 – São Paulo e sua “Formação
na escola de Gamaliel”
Se a
cultura helênica deixou suas marcas na formação e no pensamento de Paulo, sua
personalidade foi ainda mais sulcada pela força das tradições e da herança
familiar judaica, nele incutidas desde o berço. Por isso mesmo, em Tarso, tudo
faz pensar assim, freqüentou assiduamente a sinagoga. Foi exposto, desde os
seus primeiros dias, e ao longo de toda a sua formação, ao judaísmo helenizado,
que deixou fortes traços no seu modo de se expressar. Por várias vezes
encontramo-lo reafirmando, com sentimentos elevados, sua originária pertença à
nação judaica.
A mais vigorosa está em Filipenses 3,5: “Circuncidado
ao oitavo dia; da raça de Israel, da tribo de Benjamim; hebreu, filho de
hebreus; quanto à Lei, fariseu”.
Seguindo
estas palavras do apóstolo, é possível observar quanto segue: alguém
circuncidado ao oitavo dia pode ser filho de um prosélito. Paulo, porém, é da
“raça de Israel”. Nem todos os descendentes de Israel, especialmente os da
diáspora, tinham condições de expor sua genealogia. Mas Paulo asseverava que
era da tribo de Benjamim. Mas mais ainda, quando alguém afirma que é “hebreu, filho de hebreus” está
reivindicando, não apenas a nacionalidade judaica. A afirmação indica a
descendência de uma família palestina, ainda que esta viva fora de sua terra. Nada surpreende, pois, que um “hebreu, filho de hebreus”, fosse enviado
por sua família, para progredir no judaísmo, em Jerusalém.
Aliás,
já como cristão, em suas cartas, Paulo deixa transparecer um antigo e grande
apreço pela cidade de Jerusalém. Para ele é aquela cidade o ponto de partida
para anunciar o Evangelho (Rm 15,19). Também promoveu uma coleta em favor dos “pobres de Jerusalém” (2Cor 8,14s). Paulo
nos fala ainda das viagens que fez a Jerusalém (1,18; 2,1). Foi lá que ele se
envolveu profundamente com o farisaísmo, sob os auspícios de Gamaliel, de quem,
dificilmente, algum fariseu escaparia à sua influência. Com seu grande mestre
Paulo mergulhou profundamente no farisaísmo, marcando decisivamente sua
identidade em relação com a Lei. E Jerusalém era o principal centro,
provavelmente o único, do farisaísmo.
Na
tradição rabínica o estudo surge como uma das características fundamentais dos
fariseus. Textos de Flávio Josefo, de Fílon e dos mestres rabinos mais
respeitados realçam com muito vigor a atenção deste grupo à causa do estudo da
Lei. O caminho da santidade estava ligado ao conhecimento meticuloso da mesma.
Para melhor preservar sua pureza ritual, tendiam a viver em grupos. Isso também
favorecia o debate sobre as questões mais diversas sobre a Lei, e a busca
afanosa da interpretação mais precisa. A atmosfera era ardorosa, com discussões
acaloradas, bem ao modo dos grupos de elite. As altercações, as vezes, eram
intermináveis, com produção excessiva de sutilezas secundárias, que ocupavam grande
parte da atividade dos sábios.
É
contra este fundo que melhor se podem ler as palavras de Paulo acerca de sua
juventude: “...e como eu progredia no
judaísmo mais do que muitos compatriotas da minha idade, distinguindo-me no
zelo pelas tradições paternas” (Gl 1,14). Há um tom típico dos fariseus na
expressão “zelo pelas tradições paternas”. Também a comparação e superação em
relação aos companheiros de mesma idade, também empenhados no judaísmo, sugere
um contexto de competição, de destaque e de elite. E Paulo se orgulhava de ser
tão bem sucedido. Era de personalidade combativa.
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
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