O PRIMADO DE PEDRO
A
vocação de Pedro está associada a uma mudança de nome: Jesus lhe dá o nome de
Kephas, Rocha. Na antiguidade, o nome exprimia a realidade íntima do respectivo
sujeito. No Antigo Testamento, Deus mudou o nome de Abrão por Abraão, o de
Sarai por Sara, o de Jacó por Israel; de cada vez a mudança de nome implicou
uma promessa, promessa que dizia respeito aos fundamentos do povo de Deus. Ao
trocar o nome de Simão, Jesus quis significar que, no novo Povo de Deus, Pedro
terá o papel de fundamento sólido como a rocha.
Muito
significativo é o texto de Mt 16,13-19, cuja autenticidade literária é
reconhecida por bons exegetas protestantes. Pedro confessou a messianidade e a
filiação divina de Jesus; em resposta, o Senhor lhe declarou: “Tu és Rocha e
sobre essa Rocha edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela”. A imagem de rocha significa a solidez de que gozará
“a minha Igreja”. “A
minha Igreja” traduz o hebraico gahal, palavra que designava a assembléia do
povo de Deus no Antigo Testamento. Verdade é que Cristo também é Pedro (pedra)
fundamental da Igreja (Mt 21,42; Sl 117,22). Isto, porém, não impede que Pedro
seja o fundamento visível instituído por Cristo invisível; Jesus também é luz
do mundo (Jo 8,12), o que não impede que os Apóstolos sejam a luz do mundo (Mt
5,14); “só Deus é Bom” (Mc 10,18), mas os homens, também podem ser bons (Mt
5,45; Mt 12,35).
Jesus
confere a Pedro “as chaves do Reino dos Céus”. Estas significam a autoridade
para governar uma casa ou um palácio, autoridade que compete a um mordomo ou a
um Primeiro-Ministro, como se pode depreender de Is 22, 19-23 “Depor-te-ei de
teu cargo e arrancar-te-ei do teu posto. Naquele dia chamarei meu servo
Eliacim, filho de Helcias. Revesti-lo-ei com a tua túnica, cingi-lo-ei com o
teu cinto, e lhe transferirei os teus poderes; ele será um pai para os habitantes
de Jerusalém e para a casa de Judá. Porei sobre seus ombros a chave da casa de
Davi; se ele abrir, ninguém fechará, se fechar, ninguém abrirá; fixá-lo-ei como
prego em lugar firme, e ele será um trono de honra para a casa de seu pai”.
A expressão “ligar e desligar” era usual entre os
rabinos e significava:
ü
-declarar
lícito ou ilícito (desligando ou ligando)
ü
-condenar
ou absolver, excluir da comunidade ou reintegrar na comunidade.
Assim Pedro recebeu
faculdades para decidir e legislar ou para administrar a Igreja de modo geral.
Verdade é que Jesus disse semelhantes palavras aos doze reunidos: “Em verdade
vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que
desligardes sobre a terra será também desligado no céu” (Mt 18,18). Esta
declaração quer dizer que o colegiado dos Apóstolos com Pedro terá as mesmas
faculdades que Pedro a sós.
Em
Lc 22,31-32 lê-se “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar
como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e
tu, por tua vez, confirma os teus irmãos”. Jesus prevê um assalto de Satanás
contra os justos – o que é bem conhecido dos escritores sagrados - “O Senhor mostrou-me o sumo sacerdote
Josué, de pé diante do anjo do Senhor; Satã estava à sua direita como acusador.
O (anjo do) Senhor disse a Satã: O Senhor te confunda, Satã! Confunda-te o
Senhor que escolheu Jerusalém. (Josué) não é porventura um tição escapado ao
incêndio?” (Zc 3,1-2); “Levantou-se Satã contra Israel, e excitou Davi a fazer o
recenseamento de Israel” 1Cr 21,1); “É por inveja do demônio que a morte entrou
no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão” (Sb 2,24).
Jesus
faz alusão a tal assalto diabólico e ora pela fé de Pedro, que foi constituído
fundamento de uma comunidade contra a qual as potências malignas não poderão
prevalecer. Pedro deverá exercer a função de fortalecer a fé dos irmãos. Pedro,
porém, fraquejou e negou o Senhor; mas arrependeu-se e chorou amargamente. Isto
bem mostra que é a assistência do Senhor Jesus, que garante aos cristãos a
incolumidade da fé.
Jo
21, 15-17 “Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de
João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te
amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez:
Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez:
Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela
terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te
amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas”
É
a entrega do mandato que foi prometido a Pedro; Jesus pede a Pedro uma tríplice
afirmação de amor e fidelidade para apagar a tríplice negação de Pedro. Jesus
constituiu Pedro pastor do seu rebanho. Não há dúvida, os demais Apóstolos
foram também chamados ao pastoreio do rebanho de Cristo; como quer que seja,
Pedro recebeu de modo pessoal, singular, e em termos ilimitados, a faculdade
que seria conferia aos outros Apóstolos. Mais uma vez se verifica que Pedro
possui pessoalmente, por concessão do próprio Cristo, aquilo que os demais
Apóstolos receberam colegialmente.
Deve-se
notar ainda o papel desempenhado por Pedro tanto no decorrer da vida pública de
Jesus quanto após a Ascensão:
Pedro
responde pelos Apóstolos: Lc 5,4-11; Pedro fala em nome do colegiado: Jo
6,68-69; Mt 16,16; Mt 15,15; Mt 19,27; Mt 18,21; Lc 12,41. “Pedro e os que
estavam com Pedro” é expressão que põe em relevo o nome de Pedro, fazendo eco a
sentenças bíblicas em que o nome posto em realce é o do chefe.
ü
Mc
16,7 “Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro...”
ü
At
2,14 “Pedro então, pondo-se de pé em companhia dos Onze...
ü
At
5,29 “Pedro e os apóstolos replicaram...”
ü
1Cor
9,5 “...a exemplo dos outros apóstolos, os irmãos do Senhor e Pedro...”
ü
Pedro,
após a Ascensão, preside, levanta-se e fala... At 1,15;
ü
Pedro
é o primeiro a abrir as portas da Igreja aos pagãos sem lhes impor a
circuncisão, à revelia do que desejava a facção judaizante da comunidade
nascente. (At 10,9-43).
Destas
citações pode-se concluir que o colegiado dos doze é estruturado; tem uma
chefia na pessoa do Apóstolo Pedro. Isto significa que os sucessores dos
Apóstolos constituem um colégio no qual permanece a função primacial petrina,
porque a Igreja é concebida por Cristo como uma instituição que deverá durar
até o fim dos tempos (Mt 28,20).
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.
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