A QUARESMA
PREPARAÇÃO ANUAL PARA
CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA.
1.ORIGEM
E HISTÓRIA DA QUARESMA
A celebração da Páscoa, nos três primeiros séculos da Igreja, não tinha
um período de preparação. Limitava-se a um jejum realizado nos dois dias
anteriores. A comunidade cristã vivia tão intensamente o empenho cristão, até o
testemunho do martírio ( não
esqueçamos era o tempo de perseguição), que não sentia a necessidade de um
período de tempo para renovar a conversão já acontecida com o batismo. Ela
prolongava a alegria da celebração pascal por cinqüenta dias (pentecostes).
Após a paz de Constantino, quando a tensão diminuiu no empenho da vida cristã,
começou-se a perceber a necessidade de um período de tempo para admoestar os
fiéis sobre uma maior coerência o batismo. Nascem assim as prescrições sobre um
período de preparação à Páscoa. Não sabemos com certeza onde, por meio de quem
e como surgiu a Quaresma, sobretudo, em Roma; apenas sabemos que ela foi se
formando progressivamente. Ela tem uma pré-história, ligada a uma praxe
penitencial preparatória à Páscoa, que começou a firmar-se desde a metade do
século II. Até a metade do século IV, a única semana de jejum era aquela que
precedia a Páscoa.
Na metade do século IV, já vemos acrescentadas a esta semana outras três,
compreendendo assim quatro semanas. Vale salientar que a partir do fim do
século IV, a estrutura da Quaresma é aquela dos “quarenta dias” considerados à
luz do simbolismo bíblico, que dá a este tempo um valor salvífico-redentor.
Para concluir esta síntese histórica, podemos dizer, que, para o
desenvolvimento da Quaresma, contribuiu antes de tudo a prática do jejum, como
preparação à Páscoa, depois a disciplina penitencial; emfim as exigências
sempre mais crescentes do catecumenato para a preparação imediata ao batismo,
celebrado na noite da Páscoa.
2. A ESPIRITUALIDADE DA QUARESMA
A espiritualidade
da Quaresma está centrada no caráter essencialmente
cristocêntrico-pascal-batismal. Este tempo litúrgico é caminho de fé-conversão
para Cristo, que se faz servo obediente ao Pai até a morte de cruz.
ü A Quaresma é o “tempo
favorável” para redescoberta e aprofundamento do autêntico discípulo de Cristo.
“Se alguém quer me seguir renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mc
8,34). Neste tempo da Quaresma somos chamados à conversão, a metanóia, isto é,
a uma profunda reviravolta interior, a uma mudança de conduta, e não
simplesmente uma conversão moral, mas uma conversão para Deus, como se revela
nas escolhas messiânicas de Cristo (cf Mt 4,1-11), pois do contrário não s e
pensa segundo Deus, mas segundo os homens (cf Mt 16, 21-23).
A Quaresma torna se escola
vital de iluminação e purificação, pois se vive as palavras de Jesus: “
Convertam-se ao evangelho” ( Mc 1,15).
Esta é a substância da espiritualidade quaresmal, que não se trata simplesmente
de uma exortação à conciliação fraterna ou mudança de vida, mas trata-se do
reconhecimento e da acolhida da iniciativa de Deus que, por amor, reconcilia
consigo o mundo, nos fazendo participar do mistério Pascal de Cristo
ü A espiritualidade
da Quaresma é caracterizada também por uma mais atenta e prolongada
escuta da Palavra de Deus, pois é esta Palavra que ilumina o conhecimento dos
próprios pecados, chama à conversão e infunde confiança na misericórdia de
Deus. O exame de consciência é um elemento importante e enriquecedor, dentro da
espiritualidade da Quaresma, pois leva-nos a viver com mais intensidade e
profundidade a relação interpessoal com Deus; leva-nos a sentir o pecado antes
de tudo como ofensa a Deus (somente contra ti pequei) e ruptura da amizade com
ele; além de nos levar a uma atitude de partilha do amor misericordioso e da
alegria do Pai aos irmãos.
3. AS OBRAS PENITENCIAIS DA
QUARESMA
As obras da penitencia quaresmal são
realizadas na consciência da fé do seu valor sacramental, isto é, como
participação do mistério de Cristo.
3.1 O JEJUM
O Jejum, mesmo que, limitado à
Quarta-feira de Cinzas e à Sexta-feira Santa, e a abstinência de carne todas as
sextas-feiras, devem expressar a intima relação entre este sinal externo
penitencial e a conversão interior. Seria inútil abster-se de alimentos se não
se abstivesse do pecado, isto é, se não buscássemos a mudança de vida. Toda a
ascese quaresmal, da qual o jejum é uma expressão típica, não se limita a
gestos ou ações exteriores, mas alargasse a tudo aquilo que fira e denigra a
dignidade humana.
O principio fundamental da ascese
cristã é Cristo e sua paixão, ele é “ a ressurreição e a vida” (Jo11,25), ele é
o “grão de trigo que morre para produzir fruto” (Jo 12,24), é “aquele que nada
tinha a ver com o pecado, e Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que
por meio dele sejamos reabilitados por Deus” ( 2Cor 5,21). Desse modo a ascese
cristã aparece como “pobreza de coração”, isto é, total disponibilidade
interior ao Deus vivo, que não nos pede tanto a oferta das coisas, mas a oferta
de um “coração contrito”. Por isso, o apelo à conversão encontra o seu
obstáculo mais forte nas diversas formas de auto-suficiência humana, no que
poderíamos chamar de segurança farisaica.
Pois não é o fariseu, seguro de suas obras, que é justificado, mas o
publicano , que bate no peito dizendo: “ Deus, tem piedade de mim, que sou
pecador”.
3.2 A ORAÇÃO
A Quaresma é este tempo de uma
assídua e intensa oração, sempre à luz do Cristo. Esta oração está
intrinsecamente relacionada à dimensão do Jejum citada anteriormente.
A oração deve ser entendida não como alguma
tentativa de manipular Deus, mas sim uma relação dialogal, entre criatura e
Criador, por isso a oração deve ser compreendida como plena disponibilidade à
vontade divina.
A oração do individuo e da
comunidade cristã, que s externa na expressão de louvor, de ação de graças e da
súplica, deve ser a concretização da plena oferta de si a Deus. A oração,
sobretudo no tempo quaresmal, será feita também em comunidade, para significar
que a Igreja é essencialmente comunidade orante e, por isso mesmo penitente.
Diz a SC 109: Finalmente não
devemos esquecer a oração para obter a conversão dos pecadores.
3.3 A CARIDADE
A Quaresma é tempo de um mais
forte empenho de caridade para com os irmãos. A liturgia fala de “assiduidade
na caridade operante”, de “uma vitória sobre o nosso egoísmo que nos torne
disponíveis às necessidades dos pobres” Não há verdadeira conversão a Deus sem
conversão ao amor fraterno (cf 1Jo4, 20-21). A privação à qual o cristão é
chamado durante a Quaresma, inclusive o jejum, exige caridade para com os
irmãos. De fato, o jejum não tem significado em si mesmo, mas deve ser um sinal
de toda uma atitude de justiça e caridade (Cf Is 1,16-17; 58,6-7).
4. A QUARESMA E A LITURGIA.
O tempo da Quaresma dentro do Ano
Litúrgico expressa um rico conteúdo, que tem como intuito a preparação a
celebração da Páscoa. O lecionário dominical e dos dias da semana exerce grande
importância na orientação pastoral e incidência espiritual. Nos cincos domingos
que precedem a Semana Santa, no ciclo trienal, são proclamados quarenta e cinco
textos bíblicos.
As leituras do AT podem ser
reduzidas a três grupos:
1)Textos que apresentam a historia da salvação: a
aliança, a vocação de Abraão; o êxodo, o deserto e a história de Israel;
2)Textos que proclamem a lei, e, portanto, os
deveres morais impostos pela aliança;
3) Os apelos dos profetas à conversão e ao
arrependimento.
As Epístolas prolongam a mensagem contidas nas
leituras do AT, e mostram a profundidade das mesmas, como para preparar a
escuta do Evangelho.
Os Evangelhos dos dois primeiros
domingos, nos três anos, estão centrado no Cristo tentado e transfigurado; e os
outros domingos preparam para o batismo ou á renovação das promessas na noite
de Páscoa.
4.1 ESTRUTURA DA QUARESMA NO
MISSAL DE PAULO VI
O Tempo da Quaresma se inicia com a
Quarta-feira de Cinzas, e conclui-se com os cinco primeiros dias da Semana
Santa, especificamente com a missa, na “Ceia do Senhor”.
Os domingos deste tempo sao
chamados I, II, III, IV,V domingos da Quaresma. O sexto domingo, no qual se
inicia a Semana Santa, chama-se Domingo de Ramos ou da Paixão.
DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO
Com este domingo inicia-se a Semana
Santa, neste dia a Igreja faz memória da entrada de cristo Senhor em Jerusalém para aí realizar o seu mistério pascal. Na liturgia revivem e se revelam os
dois aspectos fundamentais da Páscoa:
A entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, como
anúncio e figura do triunfo da sua ressurreição, e a memória de sua paixão, que
marcará a libertação da humanidade do pecado e da morte.
Este é o único domingo no qual se faz tal memória da Paixão do Senhor.
4.2 TRÍDUO PASCAL
QUINTA-FEIRA SANTA
A Instituição da Eucaristia como
rito memorial da nova Aliança é certamente o aspecto mais evidente desta
celebração, além da instituição do sacerdócio ministerial e o serviço fraterno
da caridade.
Jesus lava os pés dos seus
discípulos: é um gesto de amor
O sacerdócio nasce da
eucaristia; dom para a unidade.
SEXTA-FEIRA SANTA
Na celebração da Paixão do Senhor
fazemos memoria dos dois aspectos do ministério da cruz, o sofrimento, que
prepara a alegria da páscoa, e a humilhação e opróbrio de Jesus, dos quais
promana sua glorificação.
VIGÍLIA PASCAL NA
NOITE SANTA (SÁBADO SANTO)
Por antiquíssima tradição, esta é
“noite de vigília em honra do Senhor” (Ex 12, 42). Os fieis, trazendo na mão –
segundo a exortação do evangelho (Lc12, 35ss) – a vela acesa, assemelham-se aos
que esperam o Senhor ao voltar, para que, quando ele chegar, os encontre ainda
vigilantes e os faça sentar a sua mesa. A partir desta noite da ressurreição,
Cristo está presente entre os seus por meio, dos sacramentos e, principalmente
da Eucaristia. A celebração da Vigília pascal se deserola toda durante a noite,
deve, pois, começar depois do inicio da noite, ou terminar antes do amanhecer
do domingo.
5. VIVÊNCIA OU PASTORAL DA
QUARESMA.
Viver o tempo da Quaresma não
se trata de fazer sobreviver um mundo medieval de austeridade e de jejuns, mas
é o momento de repensar os pontos fundantes da nossa fé. A quaresma é o tempo litúrgico para reconhecermos nossas faltas, incoerências e desvios de rumo; é esse o tempo de pedir perdão e de recomeçar tudo.
A Ação Pastoral concentrará
todo o seu esforço em fazer com que a Quaresma seja orientada à celebração da
Páscoa, não reduzida a uma confissão e a uma comunhão, mas como participação no
mistério de Cristo morto-sepultado-ressuscitado, celebrado no Tríduo Pascal,
tendo como ápice A Vigília do sábado.
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