MISSÃO DA FAMÍLIA CRISTÃ NO MUNDO DE HOJE
INTRODUÇÃO
Em meio a tantas transformações sociais e culturais, profundas e rápidas, muitas famílias ainda resguardam os valores fundamentais à instituição familiar. Todavia tantas outras estão confusas em relação aos seus deveres e ao sentido último da verdade da vida conjugal e familiar. A Igreja quer, pois, ajudar aos que procuram viver fielmente o valor do matrimônio, sustentando-os e iluminando a cada homem que trilha os caminhos do matrimônio e da família.
Preocupa-se particularmente com os jovens que iniciam a seu caminho para o matrimônio e com a família, mostrando-lhes novas perspectivas na descoberta da beleza e da grandeza da vocação ao serviço da vida e ao amor. A comunidade cristã (família) é verdadeiramente a primeira chamada a anunciar o Evangelho à pessoa humana e levá-la, mediante a catequese e a educação progressiva, à plenitude da maturidade humana e cristã.
Enquanto comunidade educativa, a família deve ajuda a o homem a discernir a própria vocação e a assumir o empenho necessário para que haja mais justiça, formando-o, desde o início, para relações interpessoais inspiradas na justiça e no amor. Enfim, a família é chamada a redescobrir sua identidade própria e a desenvolver na história as tarefas que brotam do seu próprio ser. Ela representa a Aliança entre Deus e os homens definitivamente realizados na Nova e Eterna Aliança no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo, Filho-Verbo, Encarnado na história. A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Familiaris Consortio de João Paulo II trata, pois, da missão da família no mundo contemporâneo.
Iluminada pela fé, a Igreja sente mais uma vez a necessidade de anunciar o evangelho a todos, indistintamente de modo especial a todos os que são chamados ao matrimônio ou aos que para ele se preparam. Só no acolhimento do Evangelho se dá a plena realização da esperança que o homem depõe legitimamente no matrimônio e na família.
O matrimônio e a família são interiormente ordenados a complementarem-se em Cristo e têm necessidade de sua graça para serem curados da ferida do pecado e conduzidos ao pleno conhecimento de Deus e à realização do desígnio de Deus. Nos tempos hodiernos a família recebe constantes investidas, tentativas de deformar e desestruturar o “modelo institucional” inspirado pelo próprio Deus e usado Poe Ele mesmo como modelo. Ele quis que seu Filho nascesse em meio ao aconchego de uma família, nela crescesse e dela absorvesse os valores e exemplos necessários para a formação do caráter da pessoa humana.
O conhecimento das situações em que o matrimônio e a família se encontram hoje é uma exigência indispensável para a evangelização. É na existência cotidiana da família que a Igreja deve levar o “imutável e sempre novo Evangelho de Jesus Cristo. Elas, por sua vez, são chamadas a acolher e viver este projeto de Deus. Todavia, constantemente são oferecidas ao homem e a mulher de hoje visões e propostas sedutoras, entretanto que comprometem a verdade e a dignidade da pessoa humana. Muitos se empenham na defesa da verdade pela preservação da pessoa humana. A Igreja une-se a estas, oferecendo-lhes seu serviço em favor da verdade, da liberdade e da dignidade de cada homem e de cada mulher.
O discernimento evangélico
A Igreja evangelicamente orienta que se salvaguarde e se realize a inteira verdade e a plena dignidade do matrimônio e da família. Ela não realiza o discernimento evangélico só por meio dos Pastores, mas também por meio dos leigos. Estes, em razão de sua vocação particular, têm o dever específico de interpretar à luz de Cristo a história deste mundo, enquanto chamados a iluminar as realidades temporais segundo o desígnio de Deus.
Seguindo a Cristo, a Igreja procura a verdade, que nem sempre coincide com a opinião da maioria. Na escuta da consciência e não do poder, defende os pobres e necessitados. Os Pastores devem promover o sentido da fé em todos os fieis, avaliar e julgar com autoridade a genuinidade das expressões, educar os crentes para um discernimento evangélico sempre mais amadurecido. Pois é dever do ministério apostólico assegurar a permanência da Igreja na verdade de Cristo.
A situação da família no mundo de hoje
A família se apresenta como sinal da salvação operante no mundo, mas também como sinal da recusa do homem ao amor de Deus. Este último deve-se, muitas vezes à corrupção da idéia e da experiência de liberdade concebida não como capacidade de realizar a verdade do projeto de Deus sobre o matrimônio e a família, mas como força autônoma de afirmação para o próprio bem-estar.
Atente-se para o fato de que nos países pobres faltam as mais elementares condições de uma sobrevivência humana digna e nos países ricos,ao contrário, o bem-estar excessivo e a mentalidade consumista. Em ambos os casos vemos roubadas aos esposos a generosidade e a coragem de suscitarem novas vidas humanas: assim a vida é concebida muitas vezes não como uma bênção, mas como um perigo de que é preciso defender-se.
Percebe-se, por isto, que a história não é somente um progresso necessário para o melhor, mas antes um acontecimento de liberdade, e ainda um combate de liberdades que se opõem entre si; para Santo Agostinho, um conflito entre dois amores: o amor de Deus impelido até ao desprezo de si e amor de si impelido até ao desprezo de Deus.
Nem sempre os fieis souberam e sabem resguardar-se diante do obscurecimento dos valores fundamentais e manter a consciência crítica, como sujeitos da construção de um humanismo familiar autêntico.
Os Padres Sinodais enfatizaram, entre os sinais mais preocupantes:
◊ a difusão do divórcio e do recurso a uma nova união por parte dos mesmos fieis;
◊ a aceitação do matrimônio meramente civil;
◊ a celebração do sacramento do matrimônio sem uma fé viva;
◊ a recusa das normas morais que guiam e promovem o exercício humano e cristão da sexualidade no matrimônio.
Torna-se, então, necessário recuperar por parte de todos a consciência do primado dos valores morais, que são os valores da pessoa humana como tal. Podem aplicar-se aos problemas da família as palavras do Concílio Vaticano II: “Mais do que os séculos passados, o nosso tempo precisa de tal sabedoria, para que se humanizem as novas descobertas dos homens. Com efeito, o destino do mundo está ameaçado se não surgirem homens cheios de sabedoria”
Chamando homem à vida, Deus o chama concomitantemente ao amor. Pois Ele é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. O amor, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano.
Enquanto alma que se exprime no corpo informado por um espírito imortal, o homem é chamado ao amor nesta sua totalidade unificada. O amor abraça também o corpo humano e este se torna participante do amor espiritual.
A Revelação cristã conhece dois modos específicos de realizar a vocação da pessoa humana na sua totalidade ao amor: o Matrimônio e a Virgindade. Ambos são uma concretização da verdade mais profunda do homem, do seu “ser à imagem de Deus”
O matrimônio e a comunhão entre Deus e os homens
A comunhão de amor entre Deus e os homens, conteúdo fundamental da Revelação e da experiência de fé de Israel, encontra uma significativa expressão na aliança nupcial, que se instaura entre o homem e a mulher. Eis porque a palavra central da Revelação, “Deus ama seu povo”, é também pronunciada através das palavras vivas e concretas com que o homem e a mulher se declaram o seu amor conjugal. Todavia, nem mesmo a infidelidade de Israel destrói a fidelidade eterna do Senhor.
O amor sempre fiel de Deus põe-se como modelo das relações do amor fiel que deve existir entre os esposos.
Jesus Cristo, esposo da Igreja, e o sacramento do matrimônio
A comunhão entre Deus e os homens encontra o seu definitivo cumprimento em Jesus Cristo, o Esposo que ama e se doa como Salvador da humanidade, unindo-a a si como seu corpo. Ele revela a verdade do “princípio” e, libertando o homem da dureza de seu coração. Torna-o capaz de a realizar inteiramente. Acolhendo e meditando fielmente a Palavra de Deus, a Igreja tem solenemente ensinado que o matrimônio dos batizados é um dos sete sacramentos da Nova Aliança. Pelo batismo, o homem e a mulher estão definitivamente inseridos na nova e eterna Aliança.
Os esposos são para a Igreja o chamamento permanente daquilo que aconteceu sobre a cruz; são um para outro, e para os filhos, testemunhas da salvação da qual o sacramento os faz participar. O matrimônio é um símbolo real do acontecimento da salvação de modo próprio. Trata-se de características normais do amor conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica e as consolida, mas eleva-as a ponto de torná-las a expressão de valores propriamente cristãos.
Os filhos, dom preciosíssimo do matrimônio
O matrimônio e o amor conjugal se ordenam à procriação da família e educação da prole, na qual encontram a sua coroação. Tornando-se pais, os esposos recebem de Deus o dom de uma nova responsabilidade. O seu amor paternal é chamado a tornar-se para os filhos o sinal visível do próprio amor de Deus, “do qual deriva toda paternidade no céu e na terra” (Cf. Gn 2,24).
Todavia, não devem esquecer-se de que, mesmo quando a procriação não é possível, nem por isso a vida conjugal perde o seu valor. A esterilidade física pode ser para os esposos ocasião de outros serviços importantes à vida humana, por exemplo, a adoção de filhos e as várias formas educacionais, a ajuda a outras famílias, às crianças pobres ou deficientes.
Matrimônio e virgindade
A virgindade e o celibato pelo Reino de Deus pressupõem e confirmam a dignidade do matrimônio. Quando não se tem apreço pelo matrimônio, não há lugar para a virgindade consagrada; quando a sexualidade humana não é considerada um grande valor dado pelo Criador, perde significado a renúncia pelo Reino dos Céus. A pessoa virgem antecipa assim na sua carne o mundo novo da ressurreição futura. Como para os esposos a fidelidade se torna às vezes difícil e exige sacrifício, mortificação e renúncia, também o mesmo pode acontecer às pessoas virgens. A fidelidade destas, mesmo na provação eventual, deve edificar a fidelidade daqueles.
OS DEVERES DA FAMÍLIA CRISTÃ
Família, torna-te aquilo que és!
A família descobre no plano de Deus Criador e Redentor, não só a sua identidade, mas também a sua missão, que é de se tornar cada vez mais aquilo que é: comunidade de vida e de amor, numa busca que, como para cada realidade criada e redimida, encontrará a plenitude no Reino de Deus. É-lhe confiada a missão de guardar, revelar e comunicar o amor.
A FORMAÇÃO DE UMA COMUNIDADE DE PESSOAS
O amor, princípio e força da comunhão
“O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não o experimenta e se não o torna algo próprio, se nele não participa vivamente” (Redemptor Hominis). O amor entre os membros de uma família é animado e impelido pelo dinamismo interior e incessante que conduz a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento da alma e da comunidade conjugal e familiar.
A unidade indivisível da comunhão conjugal
A poligamia contradiz radicalmente tal comunhão. Nega diretamente o plano de Deus como nos foi revelado nas origens, porque contrária à igual dignidade pessoal entre o homem e a mulher que no matrimônio se doam com um amor total, e por isso mesmo único e exclusivo. Como escreve o Concílio Vaticano II: “A unidade do matrimônio, confirmado pelo Senhor, manifesta-se também claramente na igual dignidade pessoal da mulher e do homem que se deve reconhecer no mútuo e pleno amor”.
A todos os que em nossos dias consideram difícil ou mesmo impossível ligar-se a uma pessoa por toda a vida e aos que subvertidos por uma cultura que rejeita a indissolubilidade do matrimônio e que ridicularizam abertamente o empenho de fidelidade dos esposos, é necessário reafirmar o alegre anúncio da forma definitiva daquele amor conjugal, que tem em Jesus Cristo o firmamento e o vigor. “O que Deus uniu o homem não separe”. (Mt 19, 6). Mas é imperioso reconhecer o valor do testemunho daqueles cônjuges que, embora tendo sido abandonados pelo consorte, com a força da fé e da esperança cristã não contraíram uma nova união. Estes cônjuges dão também um autêntico testemunho da fidelidade de que o mundo tanto necessita
Direitos e função da mulher
A história da salvação é um contínuo e claro testemunho da dignidade da mulher. Deus manifesta ainda na forma mais elevada possível a dignidade da mulher, ao assumir ele mesmo a carne humana da Virgem Maria, que a Igreja honra como Mãe de Deus, chamando-a Nova Eva.
Os anciãos na família
A vida dos anciãos ajuda-nos a esclarecer a escala dos valores humanos; mostra a continuidade das gerações e demonstra maravilhosamente a interdependência do povo de Deus. Os anciãos têm além disso carisma de encher os espaços vazios entre gerações, antes que sublevem.
A doutrina e a norma sempre antigas e sempre novas da Igreja
A Igreja tem consciência de ter recebido a missão especial de guardar e de proteger a altíssima dignidade do matrimônio e a gravíssima responsabilidade da vida humana.
Alguns se perguntam se viver é bom ou se não teria sido melhor nem sequer ter nascido. Duvidam da liceidade de chamar outros à vida, que talvez amaldiçoarão sua existência num mundo cruel.
A Igreja condena como ofensa grave à dignidade humana e à justiça todas aquelas atividades dos governos ou de outras autoridades públicas que tentam limitar por qualquer modo a liberdade dos cônjuges na decisão sobre os filhos.
PASTORAL FAMILIAR: ETAPAS, ESTRUTURAS, RESPONSÁVEIS E SITUAÇÕES
Sublinha-se, portanto, uma vez mais a urgência da intervenção pastoral da Igreja em prol da família. É preciso empregar todas as forças para que a pastoral da família se afirme e desenvolva, dedicando-se a um sector verdadeiramente prioritário, com a certeza de que a evangelização, no futuro, depende em grande parte da Igreja doméstica.
A solicitude pastoral da Igreja não se limitará somente às famílias cristãs mais próximas, mas, alargando os próprios horizontes à medida do coração de Cristo, mostrar-se-á ainda mais viva para o conjunto das famílias em geral e para aquelas, em particular, que se encontram em situações difíceis ou irregulares.
Preparação
A preparação dos jovens para o matrimônio e para a vida familiar é necessária hoje mais do que nunca. Em alguns países são ainda as mesmas famílias que, segundo costumes antigos, se reservam transmitir aos jovens os valores que dizem respeito à vida matrimonial e familiar, mediante uma obra progressiva de educação ou iniciação. A preparação para o matrimônio deve ver-se e atuar-se como um processo gradual e contínuo. Compreende, de fato, três momentos principais: uma preparação remota, outra próxima e outra imediata.
A preparação remota tem início desde a infância, naquela sábia pedagogia familiar, orientada a conduzir as crianças a descobrirem-se a si mesmas como seres dotados de uma rica e complexa psicologia e de uma personalidade particular com as forças e fragilidades próprias. É nesta base que, em seguida e mais amplamente, se porá o problema da preparação próxima, que - desde a idade oportuna e com adequada catequese, como em forma de caminho catecumenal - compreende uma preparação mais específica, quase uma nova descoberta dos sacramentos. A preparação imediata para a celebração do sacramento do matrimônio deve ter lugar nos últimos meses e semanas que precedem as núpcias quase a dar um novo significado, um novo conteúdo e forma nova ao chamado exame pré-matrimonial exigido pelo direito canônico.
A celebração
O matrimônio cristão exige, por norma, uma celebração litúrgica que exprima de forma social e comunitária a natureza essencialmente eclesial sacramental do pacto conjugal entre os batizados. Enquanto gesto sacramental de santificação, a celebração do matrimônio - inserida na liturgia, cume de toda a ação da Igreja e fonte da sua força santificadora - deve ser por si válida, digna e frutuosa. Abre-se aqui um campo vasto à solicitude pastoral a fim de que sejam plenamente cumpridas as exigências derivantes da natureza do pacto conjugal elevado a sacramento, e seja de igual modo fielmente observada a disciplina da Igreja sobre a liberdade do consentimento, os impedimentos, a forma canônica e o próprio rito da celebração. Este último deve ser simples e digno, de acordo com os princípios das competentes autoridades da Igreja
A comunidade eclesial e a paróquia em particular
Sendo ao mesmo tempo comunidade salva e salvadora, a Igreja deve considerar-se aqui na sua dupla dimensão universal e particular: esta se exprime e atua-se na comunidade diocesana, pastoralmente dividida em comunidades menores entre as quais se distingue, pela sua importância peculiar, a paróquia.
Bispos e presbíteros
O primeiro responsável da pastoral familiar na diocese é o bispo. Como Pai e Pastor, ele deve estar atento de um modo particular a este sector da pastoral, sem dúvida prioritária. Deve consagrar-lhe uma grande dedicação, solicitude, tempo, pessoal, recursos; sobretudo, porém, apoio pessoal às famílias e a quantos, nas diversas estruturas diocesanas, o ajudam na pastoral da família. Empenhar-se-á particularmente no propósito de fazer com que a sua diocese se torne sempre mais uma verdadeira «família diocesana» modelo e fonte de esperança para tantas famílias que a integram.
Religiosos e religiosas
O contributo que os religiosos e as religiosas, e as almas consagradas em geral, podem dar ao apostolado da família encontra a primeira, fundamental e original expressão exatamente na consagração a Deus que os torna «diante de todos os fiéis... chamada daquele admirável conúbio realizado por Deus e que se manifestará plenamente no século futuro, pelo que a Igreja tem Cristo como único esposo», e testemunhas daquela caridade universal que por meio da castidade abraçada pelo Reino dos céus, os torna sempre mais disponíveis para se dedicarem generosamente ao serviço divino e às obras do apostolado.
Leigos especializados
Podem prestar grande ajuda às famílias os leigos especializados (médicos, juristas, psicólogos, assistentes sociais, consulentes, etc...) quer individualmente quer empenhados em diversas associações e iniciativas, com trabalho de esclarecimento, de conselho, de orientação, de apoio.
Circunstâncias particulares
Um empenho pastoral ainda mais generoso, inteligente e prudente, na linha do exemplo do Bom Pastor, é pedido para aquelas famílias que - muitas vezes independentemente da própria vontade ou pressionadas por outras exigências de natureza diversa - se encontram em situações objetivamente difíceis.
Tais são, por exemplo, as famílias dos emigrantes por motivos de trabalho; as famílias de quantos são obrigados a ausências longas, como, por exemplo, os militares, os marinheiros, os itinerantes de todo o tipo; as famílias dos presos, dos prófugos e dos exilados; as famílias que vivem praticamente marginalizadas nas grandes cidades; aquelas que não têm casa, as incompletas ou «monoparentais»; as famílias com filhos deficientes ou drogados; as famílias dos alcoólatras; as desenraizadas do seu ambiente social e cultural ou em risco de perdê-lo; as discriminadas por motivos políticos ou por outras razões; as famílias ideologicamente divididas; as que dificilmente conseguem ter um contacto com a paróquia; as que sofrem violência ou tratamentos injustos por causa da própria fé; as que se compõem de cônjuges menores; os anciãos, não raramente forçados a viver na solidão e sem meios adequados de subsistência.
Matrimônios mistos
O número crescente dos matrimônios entre católicos e outros batizado exige uma peculiar atenção pastoral à luz das orientações e das normas, contidas nos mais recentes documentos da Santa Sé e das Conferências episcopais, para uma aplicação concreta às diversas situações.
O matrimônio à experiência
Uma primeira situação irregular é dada pelo que se chama «matrimônio à experiência», que hoje muitos querem justificar, atribuindo-lhe certo valor. A razão humana insinua já a sua não aceitação, mostrando quanto seja pouco convincente que se faça uma «experiência» em relação a pessoas humanas, cuja dignidade exige que sejam elas só e sempre, o termo do amor de doação sem limite algum nem de tempo nem de qualquer outra circunstância.
Uniões livres de fato
Trata-se de uniões sem nenhum vínculo institucional, civil ou religioso, publicamente reconhecido. Este fenômeno - cada vez mais freqüente - não deixará de chamar a atenção dos pastores, exatamente porque existindo na sua base elementos muito diversos, será possível atual sobre eles e limitar-lhes as conseqüências.
Católicos unidos só em matrimônio civil
Difunde-se sempre mais o caso de católicos que, por motivos ideológicos e práticos, preferem contrair só matrimônio civil, rejeitando ou pelo menos adiando o religioso. A sua situação não se pode equiparar certamente à dos simples conviventes sem nenhum vinculo, pois que ali se encontra ao menos um empenhamento relativo a um preciso e provavelmente estável estado de vida, mesmo se muitas vezes não está afastada deste passo a perspectiva de um eventual divórcio.
Separados e divorciados sem segunda união
Motivos diversos, quais incompreensões recíprocas, incapacidade de abertura a relações interpessoais, etc. podem conduzir dolorosamente o matrimônio válido a uma fratura muitas vezes irreparável. Obviamente que a separação deve ser considerada remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis.
Divorciados que contraem nova união
A experiência quotidiana mostra, infelizmente, que quem recorreu ao divórcio tem normalmente em vista a passagem a uma nova união, obviamente não com o rito religioso católico. Pois que se trata de uma praga que vai, juntamente com as outras, afetado sempre mais largamente mesmo os ambientes católicos, o problema deve ser enfrentado com urgência inadiável. Os Padres Sinodais estudaram-no expressamente. A Igreja, com efeito, instituída para conduzir à salvação todos os homens e sobretudo os batizado, não pode abandonar aqueles que - unidos já pelo vínculo matrimonial sacramental - procuraram passar a novas núpcias. Por isso, esforçar-se-á infatigavelmente por oferecer-lhes os meios de salvação.
Os sem-família
Desejo ainda acrescentar uma palavra para uma categoria de pessoas que, pela situação concreta em que se encontram - e muitas vezes não por sua vontade deliberada - eu considero particularmente junto do Coração de Cristo e dignas do afeto e da solicitude da Igreja e dos pastores.
Infelizmente há no mundo muitíssimas pessoas que não podem referir-se de modo algum ao que poderia definir-se em sentido próprio uma família. Grandes sectores da humanidade vivem em condições de enorme pobreza, em que a promiscuidade, a carência de habitações, a irregularidade e instabilidade das relações, a falta extrema de cultura não permitem praticamente poder falar de verdadeira família. Há outras pessoas que, por motivos diversos, ficaram sós no mundo. Também para todos estes há um «bom anúncio da família».
O futuro da humanidade passa pela família!
É, pois indispensável e urgente que cada homem de boa vontade se empenhe em salvar e promover os valores e as exigências da família. Sinto-me no dever de pedir aos filhos da Igreja um esforço especial neste campo. Conhecendo plenamente, pela fé, o maravilhoso plano de Deus, eles têm uma razão mais para se dedicar à realidade da família neste nosso tempo de prova e de graça.
Devem amar particularmente a família.
É o que concreta e exigentemente vos confio. Amar a família significa saber estimar os seus valores e possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a família significa descobrir os perigos e os males que a ameaçam, para poder superá-los. Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento. E, por fim, forma eminente de amor à família cristã de hoje, muitas vezes tentada por incomodidades e angustiada por crescentes dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas próprias que lhe advém da natureza e da graça e na missão que Deus lhe confiou. «É necessário que as famílias do nosso tempo tomem novamente altura! É necessário que sigam a Cristo».
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