É possível ser santo hoje?
Quando falamos em agir com santidade diante das coisas que o mundo nos oferece costumamos reagir incredulamente, afirmando que é um “luxo” de poucos, um privilégio de alguns, ou então que isso é anacrônico, utópico. Esses equívocos precisam ser desvelados; são frutos de nossa maneira de encarar a santidade como exceção, quando, na verdade, ela é a regra, ou seja, o caminho da santidade não é somente para alguns: é para todos.
Nossos dias carecem de luz, de calor, de testemunhos, de vida coerente. Cremos ter as respostas e as fórmulas prontas para todas as doenças e todos os problemas. Mas estamos doentes, padecendo sobre o leito de nossa existência. Criamos e experimentamos quase tudo, à procura de felicidade. E o que encontramos são efêmeros momentos de felicidade e um vazio interior. Todavia, mesmo cercado de soluções paliativas para nossos problemas, dos recônditos de nosso ser clama o desejo pelo sobrenatural: pelo sol capaz de iluminar e aquecer nossa fria existência.
A doença da qual padecemos é a falta de fé. Apostamos tudo na razão e criamos o tripé da pseudo-felicidade humana: ter, poder e prazer. Crendo que isso bastaria, pusemos a fé no armário da vida. Como conseqüência, adoecemos, mas sabemos onde encontrar o antídoto: é a fé. Ela nos permite redescobrir o sentido de nossa humanidade, que passa pela santidade-que é um projeto, sendo a fé a aceitação dele.
Ser santo é amar
Convém salientar que ninguém nasce santo, mas torna-se santo. Faz-se santo por sua conduta de vida. Esta deve ser norteada pelo amor a Deus e aos irmãos que se manifesta na maneira de ser, pensar e agir: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração de toda a tua alma, com toda a tua força e de todo o teu entendimento; e a teu próximo como a te mesmo” (Lc 10, 27). Isto é ser santo: Amar.
A Igreja declara algumas pessoas como santas. Mas essas não são a totalidade dos que alcançaram a bem-aventurança eterna. A maioria permanece no anonimato aos olhos humanos. E não devemos, ainda, associar santidade a algo que se imputa a alguém após a sua morte. Merecem menção todos os santos vivos de nosso tempo.
Delineia-se para nós o seguinte diagnóstico: carregamos a santidade de elementos tão excelsos que a distanciamos por demais de nós mesmos. Essa exacerbação pode afastar-nos de qualquer pretensão de alcançá-la. Contudo se temos uma vocação universal á santidade, como nos lembra o Concílio Vaticano II, é contraditório sermos chamados por Deus a algo a que não podemos responder. Temos, assim, que a santidade não tão distante quando julgamos. Ela consiste em, na situação e circunstância histórica em que vivemos encontrar um modo de viver o Evangelho de Jesus Cristo. Ao longo da história, temos muitos exemplos de pessoas que viveram esse evangelho até as últimas conseqüências, como os mártires, que deram a própria vida pela fé em Cristo.
O Caminho da santidade
A igreja nos apresenta esses santos como modelos de “Evangelho vivido”, pois souberam, em seu tempo e a seu modo, com uma originalidade própria, viver o amor a Deus e aos irmãos. Nem todos fizeram obras grandiosas não significa que devemos adotar como nosso o seu modo de vida. Nosso tempo exige modos diferentes de viver o mandamento do amor, visto que são diversas as circunstâncias em que nos encontramos. Aqui reside a grande dificuldade: concretizar e atualizar o preceito deixado por Cristo. Esbarramos no “Como ser santos”? Temos um chamado, a intenção e a disposição de respondê-lo, mas a insuficiência de nossa iniciativa pode frustrar-nos. Outro desafio é o da prepotência ou auto-suficiência, quando julgamos ter respostas para tudo. Para superar esses desafios, voltemos nosso olhar para os santos cujas biografias conhecemos. Em todas as épocas, contextos, lugares, há neles algo que os caracteriza: a profunda abertura à vontade de Deus. Esse é o diferencial dessas pessoas: em primeiro lugar, dedicavam-se a ouvir o que Deus delas pedia e confiavam-se inteiramente em suas mãos.
Eis o segredo da santidade: pelo cultivo profundo e constante da oração, abrir-se à graça divina. Só assim encontraremos força para percorrer o caminho da santidade, contornar os obstáculos com os quais nos depararmos auxiliar, os caídos às margens, indicar a outros esse caminho e, já aqui, mas, sobretudo na eternidade, desfrutar da alegria que brota desse percurso.
E não sejamos santos para sermos reconhecidos, postos nos altares do mundo, mas que possamos, ao término da caminhada, diante daquele que a motivou, dizer como o apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé”. (2tm. 4,7).
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.
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