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CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO

A experiência do encontro pessoal com Deus é algo tão misterioso; por mais que procuramos compreender não teremos respostas para essa experiência de amor. Com Santo Agostinho não foi diferente; quando uma espécie de luz inundou-lhe o coração, sua vida mudou completamente, ele que praticara prazeres impuros, glutonarias e embriagues. Nasceu no mês de agosto, no ano 386. Converteu-se ao cristianismo aos 32 anos; foi quando assumiu a vida de fé que há muito a sua mãe Mônica desejava, ele formou-se em filosofia, chegando até mesmo a ser professor de filosofia. Quando se converteu ao cristianismo usou toda a sua experiência de filósofo para resolver os problemas de doutrina que preocupava a Igreja na época. O Bispo da cidade de Hipona foi o principal adepto dessa maneira de pensar, fazendo da filosofia serva da teologia, à síntese que ele realizou, deu-a o nome de Filosofia Cristã. 

Em toda sua vida o Bispo Agostinho, procurou incansavelmente a felicidade, para ele toda a motivação de filosofar vinha da busca incessante de encontrar a felicidade chegando a afirmar que: “O homem não tem razão para filosofar, exceto para atingir a felicidade”. Antes da sua conversão ao cristianismo ele andou pelos caminhos dos Maniqueus e do Neoplatonismo de Plotino, esta experiência que obteve estudando conceito filosófico mesmo não sendo cristãos ajudou a racionalizar os dogmas cristãos com argumentos também filosóficos. Agostinho possuía um enorme desejo de atingir, pela fé nas Sagradas Escrituras a via de acesso à verdade eterna. Mas ele percebeu que a fé também precisava da razão, e conclui que; a razão, relaciona-se com a fé: precede-a e é sua conseqüência. “E necessário compreender para crer e crer para compreender”. 

No início de seus estudos, Agostinho procurou compreender a existência da Santíssima Trindade e comparou-a com um enigma. A palavra Deus, ele entendeu como (Pai) que criou todas as coisas; e pela palavra “princípio“ para ele siginificou o (Filho), no qual tudo foi criado pelo Pai. Mas ele entendeu mergulhado numa profunda reflexão que o Deus ao qual nós cremos, é Trino; procurou a existência da Santíssima Trindade nas Sagradas Escrituras e percebeu que o “Espírito de Deus pairava sobre as águas”. Uma emanação de Deus, o (Espírito Santo) o sopro de Deus planou como uma “ave“, sobre as trevas do caos. E definiu o Espírito como a fonte de amor e a origem de uma nova vida em Deus. Eis a Santíssima Trindade, o Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. O criador de todas as criaturas. Eis as perguntas que Santo Agostinho questionou: Quem é capaz de compreender a Trindade Onipotente? E quem não fala Dela, ainda que a não compreenda? Ninguém contempla esta visão sem paz interior. 


Quisera que os homens meditassem três coisas, dentro de si mesmo. As três coisas que digo são: existir, conhecer e querer. Existo, conheço e quero. Existo sabendo e querendo; e sei que existo e quero; e quero existir e saber. Repare, quem puder, como a vida, é inseparável nestes três conceitos: uma só vida, uma só inteligência, uma só essência, sem que seja possível operar uma distinção, que, apesar de tudo, existe. Cada um está diante de si mesmo. Estude-se, veja e responda-me. Mas se refletir nesta matéria e me responder o que tiver descoberto, não julgue que chegou a conhecer o que é Incomutável. Este, como tal, é superior a todas estas operações da alma. É Incomutável no Ser, Incomutável no conhecimento e Incomutável na vontade. Mas é por causa destas três faculdades que existe em Deus a Trindade? Ou estas três faculdades existem em cada uma das Pessoas Divinas, de tal maneira que todas as três se encontram em cada uma delas? Ou ambas as coisas se realizam misteriosamente, numa simplicidade que é justamente multiplicidade, sendo a Trindade o seu próprio fim infinito, pelo qual existe, se conhece e se basta imutavelmente na magnitude copiosa da Unidade? Quem facilmente o pensará? Quem o poderá explicar de algum modo? Quem se atreverá temerariamente a dar uma solução de qualquer modo? Ele percebeu que o fundamento do conhecimento precisava urgente de uma resposta racional. 


O combate foi contra os Céticos; para eles a fonte de todo conhecimento era a percepção sensível, os sentidos forneciam dados variáveis, portanto, imperfeitos. Para Agostinho o erro era as argumentações que se faziam em relação a sensações. Ele dizia que a sensação não é falsa. Falso é querer ver nela uma verdade externa. Exemplo: Ora se vejo uma folha de papel e esta parece-me que é branca: “Limito-me à minha percepção e encontro nela uma verdade que não me pode ser negada”. Agora se afirmo que o que vejo é branco neste caso o erro existiria por que eu estaria afirmando uma verdade absoluta, que implicaria no próprio ato de perceber. Pouco antes de sua conversão ele conheceu também a concepção de homem que provinha de Platão, o mesmo definiu que o homem tinha uma alma que se servia do corpo. O Bispo de hipona também manteve o conceito, dentre os quais foi à idéia da alma transcender hierarquicamente sobre o corpo. 

O Santo Agostinho também elaborou a doutrina da iluminação divina, através de um pensamento que Platão desenvolveu, num desenrolar metafórico de uma caverna, mostrando-nos com clareza; como o conhecimento chega até nós, no exemplo vemos um homem com um grande desejo de libertar-se e ir, em busca de uma força muito maior, considerando como um sol essa força que ilumina o mundo inteligível, a iluminação divina, portanto teria apenas a função de tornar o homem liberto para pensar corretamente em virtude de um desejo estabelecido por Deu. Antes de entregar-se ao cristianismo Agostinho que já era filósofo deixou-se seduzir pelo maniqueísmo. Os filósofos desta doutrina interrogava-o constantemente sobre a origem do mal, se Deus era ou não limitado por forma corpórea; ele ficava perturbado pois não conhecia o cristianismo e ainda não sabia que o mal era apenas a privação do bem, cujo termo é o nada; também ignorova que Deus é espírito e que não tem membros dotados de comprimento ou de largura e nem é matéria, porque a matéria é menor na sua parte do que do que no seu todo. Ainda que a matéria fosse infinita, seria menor em alguma das suas partes, limitada por um certo espaço, do que na sua infinitude! Nem se consentra toda inteira em qualquer parte, como o espiríto, isto é, como Deus. Desconhecia que princípio havia em nós já que na Sagrada Escritura diz que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Depois que Agostinho conheceu o cristianismo combateu fortemente a doutrina dos Maniqueus e buscou com segurança uma idéia nítida e clara sobre a causa do mal acreditando que não era mais verdadeira a doutrina que estes homens pregavam, pois descobrira a Deus ao qual entregou-se sem reservas. Ele começou a afirmar, e crer firmemente que Deus era incontaminável e que não está sujeito a nehuma alteração, que é absolutamente imutável e que é o verdadeiro criador de nossas almas; mas também dos nossos corpos, de todos os seres vivos e de todas as coisas que existem. Todavia ele não tinha uma idéia clara e nítida da causa do mal. Por isso, buscava uma resposta com segurança, isto é, concreta. Certo de que não era verdadeira a doutrina que os maniqueistas pregavam esforçava-se para entender (a questão) do livre-arbítrio, e da vontade, ser a causa de praticarmos o mal, e o vosso reto juízo o motivo de sofrermos. Mas era incapaz de compreender isso nitidamente ainda. Por isso quando o Bispo de Hipona queria ou não uma coisa, tinha certeza absoluta de que não era outro senão ele que queria, experimentando cada vez mais que era na sua vontade que estava a causa de seu pecado. 

Ficava perturbado e perguntava-se constantemente: Quem o tinha criado? De onde vinha o querer de fazer o mal e não querer o bem? Por isso refletia; porque um anjo bom se transformou em demônio? Qual é a origem da sua vontade má; tendo sido criado anjo perfeito por um criador tão bom? Sentia-se oprimido e sufocado por estes pensamentos.  A experiência de fé que o filósofo Agostinho obteve, foi de tal importância para o cristianismo, porque nessa época estavam surgindo inúmeras heresias, ele usou a sua experiência de filósofo para fundamentar, racionalizando o pensamento Cristão, chegando a afirmar que Deus é inefável e que é mais fácil dizer o que Ele não é do que defini-lo dizendo o que Ele é. Segundo ele a melhor definição é encontrada no livro do Êxodo, quando o próprio Deus falou com seu servo Moisés dizendo: “Eu Sou o que Sou”. Deus seria a realidade total e plena, a essência no mais alto grau. Se coloco atributos para Deus logo estou limitando-o, ou seja, Ele deixa de ser Deus. Se afirmo que Ele é amor, Deus vai se resumir em apenas amor, porém Ele está acima do amor, ao contrário Deus é, o ser por excelência, que é, que foi, e será, sempre imutável, Deus é a plenitude do ser, a perfeição máxima e o bem absoluto. Com esse pensamento filosófico sobre Deus, ele construiu a doutrina da metafisica do bem e do mal; ele que conhecia muito bem as doutrinas do Neoplatonismo de ( Plotino ) e o Maniqueismo de ( Mani ). 

Concordou com o pensamento de Plotino; o mesmo afirmava que o mal era a ausência de Deus. Mas o grande desafio era como explicar isto? Ora, se Deus só criou o bem, então o mal surgiu de onde? Deus é a bondade absoluta e o homem é condenado à maldição eterna que é só recuperável mediante a graça divina. Para o Bispo de Hipona, o homem é uma criatura privilegiada, feito à imagem e semelhança de Deus, desdobra-se em correspondência com as três pessoas da Trindade, através das três “faculdades da alma”. A memória (enquanto persistência de imagens produzidas pela percepção sensível corresponderia à essência “Deus Pai”, aquilo que é e que nunca deixará de ser). A inteligência (seria o correlato do verbo, razão ou verdade “Filho”). Finalmente à vontade (constituiria a expressão humana do amor o “Espírito Santo”) responsável pela criação do mundo. De todas essas faculdades, a mais importante segundo Agostinho é, à vontade, intervindo em todos os atos do espírito e constituindo o centro da personalidade humana. A vontade seria essencialmente criadora e livre, nela, tem raízes a possibilidade de o homem afastar-se de Deus. Tal afastamento significa, porém, distanciar-se do ser e caminhar para o não-ser, isto é, aproximar-se do mal. Nisto reside à essência do pecado, que de maneira alguma é necessário e cujo único responsável seria o próprio livre-arbítrio da vontade humana. O pecado é segundo Agostinho, uma desobediência a lei divina, na medida em que a alma foi criada por Deus para reger o corpo, o homem, fazendo o mau uso do livre-arbítrio, inverte essa relação, subordinando a alma ao corpo e caindo na concupiscência e na ignorância. 

A graça é necessária para que o homem possa lutar eficazmente contra as tentações da concupiscência. Sem ela o livre-arbítrio pode distinguir o certo do errado, mas não pode tornar o bem um fato concreto. Agostinho tudo fez para conciliar as duas teses opostas. Por um lado a vontade é livre para escolher o pecado e aquele que peca é inteiramente responsável por isso, e não Deus; da mesma forma, aquele que age segundo o bem divino não deve esquecer que sua própria vontade concorreu para essa boa obra. Por outro lado, a graça seria soberanamente eficaz, pois a vontade não é capaz de nenhum bem sem o seu concurso. A graça e a liberdade não se excluem, antes, completam-se. O doutor da graça esforçava-se para entender e encontrar as respostas, para as perguntas que lhe sufocavam, ele já tinha descoberto as maravilhas do incorruptível (o bem) que era melhor do que o corruptível (o mal). Estudou profundamente estes conceitos e descobriu que de modo nenhum a corrupção pode alterar o nosso Deus, por meio de qualquer vontade e de necessidade ou de acontecimento imprevisto, porque Ele é o próprio Deus, porque tudo o que deseja é bom e Ele é o mesmo Bem. Para Ele estar sujeito a corrupção não é um bem e sim um mal. Logo Deus não é obrigado, por força alguma, seja ela qual for, porque a sua vontade não é maior do que o seu poder. Porém, seria maior, se Ele mesmo fosse maior em si mesmo. 

A vontade de Deus e o seu poder são o mesmo Deus. Portanto a substância de Deus não é corruptível, já que, se o fosse, não seria Deus? Agostinho fora tocado fortemente pela Sagrada Escritura, usou a sua experiência de filósofo para estudar, tentando responder na sua época as várias questões que surgiam como, por exemplo: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se nada realizava, porque não ficou sempre assim? Se existiu em Deus um novo movimento, uma vontade nova para dar o ser as criaturas que nunca antes criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’ELE aparece uma vontade que antes não existia?”. À vontade de Deus segundo o Bispo Agostinho não é uma criatura. Está antes de toda criatura, pois nada seria criado se antes não existisse a vontade do criador. Essa vontade pertence à própria substância de Deus. Se alguma coisa surgisse na substância de Deus que antes lá não estivesse, não podíamos, com verdade, chamar a essa substância eterna. Mas, se desde toda a eternidade é vontade de Deus que existam criaturas, porque razões não são as criaturas eternas? Santo Agostinho elaborou esta resposta a quem o perguntou: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?” Ele começou dizendo que: Deus era o criador de tudo o que foi criado. Se pelo nome de céu e terra se compreendeu todas as criaturas, não teve medo ao afirmar que antes de criar o céu e a terra Deus não fez coisa alguma. Pois, se tivesse feito alguma coisa, que poderia ser senão as suas criaturas. E continuou Oxalá se eu soubesse tudo o que me importa conhecer, como sei que Deus não fazia nenhuma criatura antes que se fizera alguma criatura. Ele procurou compreender nitidamente porque Deus criara o mundo e todas as coisas que nele existe (a criação) e chegou a conclusão que: Deus criou livremente, por um ato eterno de sua vontade. As idéias das coisas sempre existiram na inteligência Divina desde toda a eternidade. Porém, os termos ou objetos que Deus produzira só apareceu no momento determinado pela sua vontade. 

Agostinho estudou o problema do tempo apenas sob o aspecto psicológico. Ele definiu que Deus não está sujeito ao tempo como as criaturas vossa, porque Ele é eterno e imutável; mas não houve tempo nenhum em que Ele não fez coisa alguma, pois logo Ele fez o próprio tempo. Nenhum tempo é coeterno de Deus, porque Ele permanece imutável (não muda) e se algum tempo assim permanecesse, já não seria tempo. Mas ele questionava-se bastante, procurando sempre uma resposta definitiva no seu filosofar: Que é, pois, o tempo? Quem poderá explica-lo clara e brevemente? Quem o poderá aprender, mesmo só com o pensamento  para depois nos traduzir por palavras o conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Ele declarou sem receio de contestação, que, se nada sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo presente. De que modos existem os dois tempos. Sobre eles, o passado e o futuro o doutor da graça definiu que: se o passado já não existe e o futuro ainda não veio? E quanto ao presente, se fosse sempre presente, e não passasse para o pretérito, já não seria tempo, mas eternidade. Mas se o presente, para ser tempo, tem necessariamente de passar para o pretérito, como podemos afirmar que ele existe, se a causa de nossa existência é a mesma pela qual deixará de existir? Para que digamos que o tempo verdadeiramente existe, porque tende a não ser? O tempo não pode medir a eternidade, logo a eternidade não está no tempo e se ela estivesse já não seria eternidade. 

Ao estudar a eternidade, Santo Agostinho refletiu-a com a seguinte pergunta: “Quem poderá prender-se e fixar-se, para que pare um momento e arrebate um pouco do esplendor da eternidade perpetuamente imutável ela é incomparável, se a confronta com o tempo, que nunca pára? Para ele na eternidade, ao contrário, nada passa, tudo é presente, ao passo que o tempo nunca é todo presente, o passado é impelido pelo futuro e que todo o futuro está precedido de um passado, e todo o passado e futuro são criados e dimanam d’Aquele que sempre é presente (Deus). Quem poderá prender o coração do homem, para que pare e veja como a eternidade imóvel determina o futuro e o passado, não sendo ela nem passado nem futuro?” Estudando profundamente o conceito de Tempo; o doutor da graça chegou a conclusão e dividiu o tempo em longo ou breve, mas com uma condição só pode-se afirmar tal conceito para o futuro ou passado. Chamou de “longo” o tempo passado, se é anterior ao presente, por exemplo, cem anos. Do mesmo modo disse que o tempo futuro é “longo”, se é posterior ao presente também cem anos. Chamou “breve” ao passado, se dizemos, por exemplo “há dez dias”, e ao futuro, se dizemos “daqui a dez dias”. Mas como pode ser breve ou longo o que não existe? Com efeito, o passado já não existe e o futuro ainda não existe. Não digamos: “é longo”; mas digamos do passado: “foi longo”; e do futuro: “será longo”. 

O tempo longo, já passado, foi longo depois de passado ou quando ainda era presente? Só então podia ser longo (nesse momento presente), quando existia alguma coisa capaz de ser longa. O passado já não existia; portanto não podia ser longo aquilo que totalmente deixara de existir. Não digamos, portanto: “O tempo passado foi longo”, porque não encontraremos aquilo que tivesse podido ser longo, visto que já não existe desde o instante em que passou. Digamos antes: “aquele tempo presente foi longo”, porque só enquanto foi presente é que foi longo. Ainda não tinha passado ao não-ser, portanto existia uma coisa que podia ser longa. Mas, logo que passou, simultaneamente deixou de ser longo, porque deixou de existir. Vejamos como Agostinho refletiu: ó alma humana, se o tempo presente pode ser longo. Foi-te concedida á prerrogativa de perceberes e medires a sua duração. Que me responderás? Porventura cem anos presentes são muitos tempos? Considera primeiro se cem anos podem ser presentes. Se o primeiro ano está decorrendo, este é presente, mas os outros noventa e nove são futuros, portanto ainda não existem. Se estiver decorrendo o segundo ano, um é passado, outro é presente e os restantes futuros. Se apresentarmos como presente qualquer dos anos intermediários da série centenária, notamos que os que estão antes dele são passados, e os que estão depois são futuros. Pelo que cem anos não podem ser presentes. Examina, pelo menos, se o ano que está transitando pode ser presente. Com efeito, se o primeiro mês está passando, os outros são futuros. Se estivermos no segundo mês, o primeiro já passou e os outros ainda não existem. Logo, nem o ano que está decorrendo pode ser todo presente, e, se não é todo presente, não é um ano presente. 

O ano compõe-se de doze meses; um mês qualquer é presente enquanto decorre; os outros são passados ou futuros. Nem sequer, porém, o mês que está decorrendo é presente, mas somente o dia. Se for o primeiro dia, todos os outros são futuros; se for o último, todos os outros são passados; se for um dia intermediário, está entre dias passados e futuros. O tempo presente – o único que julgávamos poder chamar longo -, ei-lo reduzido apenas ao espaço de um só dia. Mas discutamos também acerca dele, porque nem sequer um dia é inteiramente presente. O dia e a noite compõem-se de vinte e quatro horas, entre as quais a primeira tem as outras todas como futuras, e a última tem a todas como passadas. Com respeito a qualquer hora intermediária são pretéritas aquelas que a procedem, e futuras as subseqüentes. Uma hora compõe-se de fugitivos instantes. Tudo o que dela já debandou é passado. Tudo o que ainda resta é futuro. Se pudermos conceber um espaço de tempo que não seja suscetível de ser subdividido em mais partes, por mais pequeninas que sejam, só a esse podemos chamar tempo presente. Mas este voa tão rapidamente do futuro ao passado, que não tem nenhuma duração. Se a tivesse, dividir-se-ia em passado e futuro. Logo, o tempo presente não tem nenhum espaço. 

Onde existe, portanto o tempo que podemos chamar longo? Será o futuro? Mas deste tempo não dizemos que é longo, porque ainda não existe. Dizemos: “será longo”. E quando será? Se esse tempo ainda agora está para vir, nem então será longo, porque ainda não existe nele aquilo que seja capaz de ser longo. Suponhamos que, ao menos, no futuro será longo. Mas só o poderá começar a ser no instante em que ele nasce desse futuro – que ainda não existe – e se torna tempo presente, porque só então possui capacidade de ser longo. Mas com as palavras que acima deixamos transcritas o tempo presente clama que não pode ser longo. Ao estudar a concepção de Tempo percebeu os seus intervalos comparando-os entre si, afirmou que uns eram mais longos e outros mais breves. Analisou que é possível medir quando o tempo é mais comprido ou mais curto do que outro, dizendo que um é duplo ou triplo, ou que a relação entre eles é simples, ou que este é tão grande como aquele. Mas definiu que não temos a capacidade de medir os tempos que passaram, quando tentamos medi-lo com a nossa sensibilidade

Quem pode medir os tempos passados que já não existem ou os futuros que ainda não chegaram? Só se alguém se atrever a dizer que pode medir o que não existe! Quando está decorrendo o tempo, pode percebê-lo e medi-lo. Quando, porém, já tiver decorrido, não podemos percebê-lo nem medi-lo, porque esse tempo já não existe. À medida que os anos passavam e a velhice começava a chegar, Agostinho preocupava-se em reservar mais tempo para dedicar-se ao trabalho de escrever. Em 414 esforçou-se para eliminar as ocupações exteriores e conseguiu, pelo menos, não ter que se deslocar para a sede da igreja africana em Catargo. Pôde, então, passar alguns anos mais tranquilos. 




Enfim, só em 426, já com 72anos de idade, obteve permissão para ficar livre durante cinco dias por semana. Pôr-se, então, a colocar os seus livros em ordem, catalogando-os para a posteridade. O fim da vida estava chegando, Agostinho adoeceu e morreu no dia 23 de agosto de 430.

FIQUEM NA PAZ DE DEUS! SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA. 

Bibliografia:

PESSANHA, José Américo Mota. “Confissões de Santo de Agostinho“. In: “Colecão os Pensadores“. São Paulo, SP: Editora Nova Cultural Ltda. Edicão 1999.



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