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EVANGELIUM VITAE - EVANGELHO DA VIDA

INTRODUÇÃO
           
            “Estando o Evangelho da vida no centro da mensagem de Jesus. É missão da Igreja, ser fiel e corajosamente anunciá-lo como Boa Nova aos homens de todos os tempos e culturas”. Motivado por essa compreensão, o Papa João Paulo II, juntamente com os Cardeais, depois do Consistório Extraordinário, realizado em Roma de 04 a 07 de abril de 1991, frente às ameaças à vida humana sente a necessidade de dar uma resposta por parte da Igreja, no que compete ao valor e inviolabilidade da vida, a luz das circunstâncias vigentes. Para tanto no ano de 1995, no décimo ano de seu Pontificado escreve a Carta Encíclica Evangelium Vitae – sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana. Tal documento está inserido num cenário mundial de profundas transformações no âmbito técnico - científico bem como na consciência individual e coletiva acerca dos valores éticos e morais, e de sua organização social, econômica e política.
            Diante de tal cenário, desenvolve duas analises principais: a primeira ressalta os aspectos sombrios do atual momento social afirmando que estamos diante de uma “cultura de morte”, a segunda procura os sinais de esperança dentro de tal contexto, procurando desenvolver uma “cultura da vida”. Procura evidenciar os aspectos das ameaças no âmbito da biomédico como o aborto, eutanásia, manipulação de embriões, diagnósticos pré-natais, contracepção, técnicas de reprodução assistidas e semelhantes. Como também, traz a toma a problemática da relação entre lei moral e lei civil, afirmando a responsabilidade do Cristão que inserido no contexto sócio-político deve preservar, defender e promover a vida numa orientação ética desenvolvida por meio dos valores fundamentais a partir do reconhecimento da vida humana como dom de Deus

Principais abordagens

Cap. II: A voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim.
As tuas ameaças à vida humana
 “Caim levantou a mão contra o irmão Abel e matou-o” ( Gn 4, 8): na raiz da violência contra a vida.
            O capítulo I nos coloca dentro de um horizonte de luzes e trevas, bem e mal, morte e vida. Na perspectiva do relato bíblico de Gn 4, 8 onde Caim levantou a mão contra o irmão Abel e o matou. A partir desse relato bíblico somos convidados a lançarmos um olhar sobre a realidade atual, os dramas e ameaças que cercam a vida humana. 
            Quantas mãos que continuam sendo levantadas para violar e matar a vida humana, porque que não dizer a vida em sua visão mais ampla, holística. Caim negando a escuta e tornando-se assim indiferente a Deus, rompe o vinculo relacional com o Senhor da vida (eclipse em relação a Deus e ao homem).
             Por livre decisão distante daquele que dar sentido a sua existência e da sua relação com o seu irmão Abel, decide em seu coração matá-lo, tornando assim assassino do seu próprio irmão rompendo todo e qualquer vinculo fraterno e de comunhão. Assim, se comporta a humanidade que todas as vezes que se distancia dos preceitos morais e religiosos, da Lei de Deus perde o sentido da vida e torna-se assassino do próprio irmão.
            O ser humano torna-se errante, em situação dramática de perca e inversão de valores, não sabendo mais distinguir aquilo que é bom e o que é mau.  Onde em nome de uma liberdade, de uma democracia, o Estado, assumi o papel de tirano, marcando a consciência individual e coletiva dos indivíduos. Constituindo e legislando uma sociedade marcada pela cultura de morte, "a voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim", de crimes contra a vida nascente e em seu término.
            Mas, nem tudo esta perdido, isso ficará bem claro nos capítulos seguintes, surgi para nos um novo Abel, Cristo Jesus, no qual pelo seu sangue atrairá e conduzirá todos de volta ao caminho da vida e da vida eterna. Nele, todos nós somos convidados a participarmos da comunhão do amor trinitário. 

Cap. II: Vim para que tenham vida.
A mensagem cristã sobre a vida
 “A vida manisfestou-se, nós a vimos” ( 1Jo 1, 2): o olhar voltado para Cristo, o Verbo da vida.


            O capítulo segundo é uma reflexão teológica, à luz da palavra de Deus “Vim para que tenham vida". A mensagem cristã sobre a vida. Começa já com o Antigo testamento mas se centra sobretudo na figura de Jesus Cristo, que se proclama a si mesmo: caminho, verdade e vida. E que define a sua tarefa: "eu vim para que todos tenham vida e a tenham em plenitude". Nesse segundo capitulo o Papa faz uma análise abrangente sobre a ética da vida e, sobretudo, sobre a inviolabilidade da vida, sob o olhar de Jesus Cristo, no qual o projeto da vida encontra a sua realização Onde a defesa intransigente e inviolável da vida se torna fundamental, sobretudo numa sociedade que se diz moderna e que pretende ser livre.  É pela escuta e observância do Evangelho da vida (cultura bíblica), que o homem vivera com dignidade e justiça, produzindo frutos de vida e de felicidade. Onde a cultura da vida predominará bem como prevalecerá sobre a cultura de morte. Logo, podemos perceber já nos primeiros capítulos que a Encíclica, não pretende mostrar simplesmente o lado negativo, mas se concentra no aspecto positivo: na dignidade da vida humana, em seu valor inapreciável e portanto, na necessidade de defesa dessa vida.


Cap. III: A lei Santa de Deus: “Não matarás”

“Se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos” ( Mt 19, 17).

            Simultaneamente a temática apresentada neste capítulo, percebe-se no pensamento e na intenção de João Paulo II a acentuação daquilo que ele já tratava nos capítulos anteriores: a valorização da vida. Contudo, nos coloca defronte de diversos elementos provocadores e fruto de uma cultura de morte, a saber: aborto, eutanásia, experiências embrionárias, analgésicos e narcóticos, entre outros.
            Para tal reflexão traz a tona a relação Evangelho e mandamento, mostrando que a vida eterna, dar-se-á para o homem pela observância dos mandamentos. Pois, os mandamentos estão diretamente ligados ao amor de Deus: “é sempre um dom para o crescimento e a alegria do homem”. Deus criou a natureza humana para ser senhor de si mesmo e do mundo – criou-os a sua imagem e semelhança, e deu ao homem o domínio sobre as outras coisas criadas. Porém, um domínio ministerial, não absoluto. Desta forma, entendendo a vida como dom de Deus, é exigido deste amor, respeito e promoção desta vida, pois, fica claro, a sacralidade e inviolabilidade da vida humana. Logo, é Ele mesmo e só Ele, Deus, o Senhor absoluto das nossas vidas. Ensinamento este já institucionalizado na Igreja desde os primórdios do cristianismo. Neste ínterim, a partir de uma leitura das formas de relações do mundo contemporâneo, o Papa João Paulo II elenca alguns elementos que devem ser observados e repensados pela sociedade entrelaçados a uma consciência ética moral, que engloba todos estes elementos. A legítima defesa, a pena de morte, o aborto, a eutanásia, o suicídio e o homicídio, como também, as questões referente à bioética como embriões, pré- natal, esterilização  fazem parte de uma mentalidade terrorista, errônea e questionável mantida na sociedade  a partir de um Relativismo ético exarcebado disfarçado de condição da democracia na cultura contemporânea. Entretanto, vale acentuar que a democracia é um instrumento não um fim em si mesmo: seu valor “vive ou morre nos valores que ela encarna e promove”. E na base desses valores deve-se está como fundamento à lei natural inscrita no coração do homem, a lei moral objetiva que nenhuma maioria ou minoria, nem mesmo o Estado com suas Leis civis podem modificar ou destruir: é o valor primeiro e fundamental, o direito  de todo ser humano a vida. Portanto, antes de falar da questão relacional entre Lei civil e Lei moral a encíclica expõe paralelamente aos  estes elementos de morte,  a posição da Igreja em todo seu aparato histórico – doutrinal desde a Sagrada Escritura como também as concepções das primeiras comunidades Cristãs, da Tradição Viva  bilenar, do magistério Pontifício, reforçado pela doutrina canônica (CDC).
            A parte da encíclica que se refere à relação entre Lei civil e Lei Moral merece grande atenção devido a importância que terão na restauração da vida social. O Cristão, como todas as pessoas de boa vontade, especialmente se tem influência na elaboração das leis, são chamados a um renovado compromisso para promover mudanças das leis injustas e da mentalidade coletiva quanto a essas agressões à vida humana. Motivados e guiados pelos mandamentos de Deus (preceitos morais), que nos ensinam o caminho da vida e tendo como horizonte a Lei Santa de Deus – não Matarás, devemos amar, respeitar e promover a vida de cada homem e de cada mulher, de cada embrião, de cada ser, com coragem e fortaleza, numa luta incessante, para instaurar finalmente uma Nova cultura, a cultura da vida, fruto da verdade e do amor de Deus em Jesus Cristo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” ( Lc 10, 27).

Cap. IV: Por uma nova cultura da vida humana – “A Mim o fizestes”

“Vós sois o povo adquirido por Deus, para proclamardes as suas obras maravilhosas”.
 (I Pd 2, 9)

            Recebido, por Graça Divina, o anúncio e a Salvação, por meio do Evangelho de Jesus Cristo a Igreja compreende sua missão, vocação e identidade primeira: a Evangelização. Somos, portanto, o povo da vida e pela vida, marcados Poe este ato profundamente eclesial, que compromete todos os cristãos, seguidores do Evangelho, cada um desempenhando seu papel segundo os seus carismas e o próprio ministério. Por isso, é o nosso dever anunciar, celebrar e servir a este Evangelho da vida. Ora, Jesus é o único Evangelho; é o Evangelho da vida e para a vida. O anuncio deste Jesus é de fato, o anuncio do Evangelho da vida. Iluminados pelo espírito de Jesus, nós, sentimos a necessidade de testemunhá-lo e de proclamá-lo pela surpreendente novidade que o caracteriza: a apresentação da vida humana como vida de relação com seu princípio e fim, o Deus Criador; é reconhecer na vida de cada irmão o amor do Cristo. Para tanto, faz-se necessário celebrar este Evangelho. E para isto requer-se um olhar contemplativo originário da Fé em Deus, o deus da vida. Este olhar deixa-se interpelar pelas situações procurando nestas um sentido no amor serviçal e solidário. Esta celebração que tem sua expressão nas liturgias sacramentais e exprime por meio destas a verdade plena acerca da morte, do sofrimento e da vida numa relação direta com o Mistério Pascal.
            Contudo, deve-se fomentar tal celebração na existência cotidiana no amor ao outro e na doação de si: o servir ao Evangelho da vida. Serviço este, tendo em vista a caridade criando formas eficazes de promoção da vida através dos instrumentos já existentes como métodos naturais de fertilização, comunidades para recuperação de dependentes tóxicos, de menores, de doentes mentais, centros de acolhimentos a doentes terminais, entre outros. Tudo isso, empenhados a partir de uma educação. A encíclica mostra as áreas de defesa da vida em que os cristãos e a Igreja devem intervir, apresentando linhas concretas de atuação para a construção de uma nova cultura da vida; defender a vida não pode ser simplesmente deixado a movimentos específicos que trabalhem na área social. Mas, é parte integrante do ministério da Igreja. Precisa-se, pois, primeiro que as pessoas empenhadas sejam preparadas nos institutos religiosos e teológicos; requer uma educação e consistente dos valores morais nas várias formas de catequese e formação de consciência; além de ser posto em prática oferta de serviços de apoio a quaisquer pessoas que se encontrar com problemas. Sendo uma mensagem do Evangelho da vida, e um sinal de vitalidade fruto do amor caritativo.
            Corrobora-se, então, a importância e responsabilidade de uma ação conjunta daqueles que trabalham nos meios de comunicação social, legisladores, juristas, médicos, e cientistas, etc. Só desta forma ultrapassaremos a cruel e silenciosa cultura de morte, provocando uma virada cultural de promoção da vida. Papel importante deve desempenhar a Família, chamada a ser Santuário da vida tem a missão de guardar, revelar, comunicar o amor, dos quais os Pais são colaboradores na transmissão da vida na abertura consciente da vida como dom de Deus, a educa cão dos filhos testemunhando o sentido verdadeiro do sofrimento e da morte, à celebração da vida pelo amor e doação através dos seus diversos elementos como, por exemplo, a adoção, acolhimento de crianças abandonadas, participação na vida social e política e valorização dos idosos, peças chaves e fundamental na promoção da vida. É neste trabalho educativo de transformação da consciência coletiva, fomentando tais expectativas no seio da própria comunidade cristã e num esforço ético e moral que conseguiremos promover e modificar a cultura vigente em favor da vida humana. Contudo, é bom ressaltar é um trabalho em todos os níveis sociais, com todos aqueles que valorizam a vida humana, assumindo um novo estilo de vida contribuindo para a renovação da sociedade através da edificação do bem comum, no reconhecimento da dignidade de cada pessoa respeitando os seus direitos, dentre outros aquele que é primordial e fundamento de toda organização moral: a inviolabilidade da vida. “Todo crime contra a vida é um atentado contra a paz, especialmente se ele viola os costumes do povo (...), enquanto nos lugares onde os direitos do homem são realmente professados e publicamente reconhecidos e defendidos, a paz torna-se a atmosfera feliz e geradora de convivência social”. ( Paulo VI,  Papa.1977)

Conclusão

“Não mais haverá morte” ( Ap 21,4)

            “Maria é uma mensagem de viva consolação para a Igreja na sua luta contra a morte. Ao mostrar-nos o seu filho, assegura-nos que nele as forças da morte já foram vencidas”. Como peregrinos na luta pela vida, confiantes na realização da graça de Deus em nossas vidas, Maria torna-se sinal de esperança segura e consolação na caminhada. Olhando para o mundo contemporâneo numa leitura a partir da encíclica Evangelium Vitae podemos perceber uma complexidade cultural em que a sociedade se encontra – repleta de incertezas, porém, movida por um horizonte (Evangelho da vida).  As grandes conquistas e avanços dos tempos hodiernos obrigam-nos a rever o caminho positivo que a humanidade percorreu no progresso e na conquista de condições de vida mais humana, porém, ao mesmo tempo, não pode – esconder os grandes perigos, para os quais determinadas tendências sócio - culturais tentam manipular as legislações e os comportamentos das pessoas. Constata-se, hoje, certo relativismo cultural, que apresenta sinais evidentes da sua presença, quando defende um pluralismo ético que sanciona a decadência e a dissolução da razão e dos princípios da lei moral natural. Verifica-se, assim, que por um lado, os cidadãos reivindicam para as próprias escolhas morais a mais completa autonomia, e por outro lado, os legisladores julgam respeitar essa liberdade de escolha, quando formulam leis que prescindem os princípios da ética moral natural, deixando-se levar exclusivamente por certas orientações culturais ou morais mutáveis, como se todas as concepções possíveis da vida tivessem o mesmo valor.
            Ora, se o cristão é obrigado a admitir a legítima multiplicidade e diversidade destas opções mutáveis e temporais, é igualmente obrigado, a discordar de uma concepção do pluralismo em chave de relativismo moral, nociva a própria vida que tem suas necessidades basilares verdadeiras e sólidas, ou seja, dos princípios éticos que, por natureza e função de fundamento da vida social são negociáveis. O avanço da ciência, por exemplo, permitiu atingir metas que abalam a consciência e obrigam a encontrar soluções capazes de respeitar de forma coerente e sólida, os princípios éticos. Os católicos, portanto, tem o direito e o dever de intervir, apelando para o sentido mais profundo da vida e para a responsabilidade que todos têm perante a mesma, como afirmou o papa João Paulo II, na Carta encíclica Evangelium Vitae. Entretanto, perante as exigências éticas, fundamentais e irrenunciáveis, as pessoas  tem de saber que o que estar em jogo é a essência da ordem moral, ou seja, p bem integral de cada pessoa humana: é o caso das leis em matéria de aborto e eutanásia, que devem tutelar o direito primário a vida desde seu consentimento (vida embrionária) até o seu termino natural.
            Movidos por este e para este fim, tendo em mente, assim, como o papa João Paulo II, o objetivo primeiro do Concílio Vaticano II, é preciso fomentar uma Igreja e uma sociedade no método de comunhão e participação, com a ação direta dos cristãos e dos cidadãos em geral no mundo, estabelecendo estratégias fortes em defesa e promoção da vida contra essa cultura de morte em todas as suas nuanças. Que todos se sintam chamados a terem um papel ativo na defesa e na aplicação concreta do direito à vida, pois, só assim, estaremos avançados, em direção a Paz e a verdadeira civilização.     

Referências:
Documento Evangelium Vitae – Editora: Paulinas – São Paulo – SP (Brasil) – 1995.










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