A FÉ CRISTÃ
Desde os primórdios, o homem sente a necessidade de auto compreender-se, ou seja, certamente está inerente na sua natureza a busca pela certeza de conhecer-se melhor. Querendo descobrir-se o homem não tem o conhecimento de sua origem nem de seu fim. O mesmo questiona-se com o intuito de alcançar uma compreensão lógica, que satisfaça o seu pensar em relação a sua existência. Tem consciência que a sua existência está intrinsecamente envolvida por um mistério. Por sua vez, este mistério analisado no âmbito da religiosidade e, sobre tudo refletindo o cristianismo; iremos encontrar a pessoa de Jesus Cristo.
Vejamos o que diz o (CIC – 53) Catecismo da Igreja Católica:
Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por etapas a acolher a Revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.
Para os cristãos Jesus Cristo é o Filho de Deus que se encarnou no meio da humanidade, tornou-se o protagonista da salvação do homem dando sentido à existência humana. É por meio d’Ele que este mistério torna-se conhecido recebendo o nome de Revelação Divina.
Quando falamos acerca da fé cristã em Deus, segundo o (CIC - 36) Catecismo da Igreja Católica, não podemos nos esquecer que: “Deus pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas”. Mas como a razão faz parte do homem que é limitado, logo também será limitada a sua compreensão acerca de Deus. Por isso, estamos tratando de algo que não entendemos completamente só com o uso da razão natural, logo existe outro meio que de modo algum o homem pode conhecer por suas próprias forças, sendo esta a Revelação divina. Esta Revelação é um ato livre de doação de Deus ao homem. Pois este ato é também um dom, é o próprio Deus que vem ao encontro do homem, isto é, é um presente dado àqueles que aceita-o.
Segundo o (CIC – 26) Catecismo da Igreja Católica: “A fé é a resposta do homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz superabundante ao homem em busca do sentido último de sua vida”. O homem busca um sentido último para sua vida, e sobre isto, ele mesmo não pode negar-se desse desejo que está inscrito no seu coração. No entanto, sabe que foi “criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si”. Mas às vezes o próprio homem não se deixa ser atraído por Deus, ou seja, diz não; renuncia o presente que Deus está sempre disposto a Dá-lo: a fé.
Muitas vezes, o homem renuncia a responder a Deus, não aceita o dom (o presente) sendo este o ato de crer. Mas também não podemos nos esquecer que no decorrer de sua história o homem comportou-se de várias maneiras para manifestar sua crença em Deus utilizando-se: de meditações, orações, sacrifícios e cultos procurando entrar em comunhão com Ele. Não podemos negar que o homem tem um profundo desejo pelo transcendente, isto é, Deus. Ao mesmo tempo em que se sente seduzido, sente também o desejo de desvendar seu mistério. Mas também sabemos que por livre decisão sua também pode rejeitá-lo.
Quero deixar claro que a nossa reflexão não é acerca do homem, mas estamos analisando como a fé está intrínseca no mesmo e como a crença num transcendente tomando como ponto de partida a fé teologal pode dar as respostas pela busca da certeza ou a tentativa do mesmo de desvendar sua origem, que depara-se com o mistério que o envolve. Por que acreditar em algo que ele mesmo julga que é superior? Por que ele tem a necessidade de estar em comunhão com este Deus? Por que o homem pensa que a fé em Deus lhe dará as respostas necessárias para suas interrogações?
Porque ele crer em Deus, já que não o vê claramente? Libânio afirma que: “só enxerga algo como se fosse uma névoa”, descobrindo que o mesmo está envolvido num grande mistério. De uma coisa nós temos certeza, à fé faz parte de sua vida, está intrinsecamente ligada a sua existência. A fé faz parte de sua história enquanto ser vivente, pois o mesmo é o único ser deste mundo, que pode afirmar que a possui e que acredita na existência de um ser muito superior em relação a si mesmo. No entanto, sabemos que isto só é concedido a ele pelo ato da fé. Como nos diz J. B. Libânio: “ato pelo qual nos entregamos numa atitude de confiança, a uma realidade ou a alguém”. Santo Agostinho, Padre da Igreja Católica que viveu no séc. IV tem uma frase que ainda soa bem para aos nossos dias atuais: “o nosso coração vive inquieto enquanto não descansar em vós”.
Ainda abordando a fé temos o cristianismo que apresenta uma religião monoteísta, assim como a judaica possui uma doutrina e que se apropria de uma fé teologal para explicar o mistério em que Deus está envolvido. Mas a principal diferença entre elas está na pessoa de Jesus Cristo que para os cristãos é o Filho de Deus, que veio revelar o Pai e que depois de sua paixão, morte e ressurreição enviou o Espírito Santo Paráclito.
Portanto, percebemos que os cristãos acreditam e entendem que este mesmo Deus é três pessoas, ou seja, possui uma natureza tripessoal, mas não deixa de ser um Deus único. Vejamos o que diz o (CIC – 51) Catecismo da Igreja Católica a respeito da revelação de Deus na pessoa de Jesus Cristo:
Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito carne, no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina.
Portanto, é de clara importância sabermos que a fé também se mostra ao homem como uma experiência humana. Isto fica bastante claro para nós que é possível sim o homem por intermédio de uma religião como a cristã acreditar que sua salvação (existência eterna) está pautada na bondade e sabedoria de um Deus que se fez carne (homem) e habitou entre nós.
Meditando o livro da Bíblia (hebreus 11:1) iremos descobrir que: “A fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se vêem” independentemente daquilo que vemos, ou ouvimos. A fé é algo que está por natureza ligada ao homem inseparavelmente, é por isso que o mesmo tem a possibilidade de acreditar num Deus que criou todas as coisas e que se revelando no Filho Jesus Cristo por intermédio do Espírito Santo dar a salvação eterna a todos que n’Ele acredita.
Mediante isto, podemos entender que: se o homem não tivesse a capacidade de crer em um mistério que não pode desvendá-lo, por completo como o conhecimento de Deus, é certo afirmar que não existiria a fé religiosa, por que esta para existir precisa da ação humana. É a partir, da experiência do homem com seu ato de fé em Deus, junto com suas necessidades de transcender o significado desse mistério que o mesmo faz com que a religião tome forma, corpo, ou seja, exista. A partir disto, o homem com sua crença em Deus constrói a religião, logo, podemos afirmar que: “sem fé humana, não haveria fé religiosa” como diz J. B. Libânio.
É bem verdade que; de todas as criaturas criadas por Deus, só o homem tem a capacidade de crer, de saber que possui uma fé, uma religião, uma crença num Ser que transcendente sua inteligência. Mas como vemos, nos dias atuais, diz J. B. Libânio:
Todo o campo religioso é reduzido ao secular. Estamos no reinado da razão iluminista que pretende desmontar o mistério, como se fosse uma máquina inventada pela ignorância e crendice das pessoas. Uma vez penetrado pela razão, ele cairia como um castelo de cartas
O homem julga possuir com a razão a base necessária para penetrar o mistério, mas este se depara com uma realidade que transcende ele mesmo. “O mistério é fundamentalmente uma realidade transcendente”. Para ilustrar o abismo que há entre o homem e o mistério lembramos a frase celebre de Pascal que diz: “os espaços deste universo infinito me apavora”.
É como se homem estivesse diante de um universo infinito, ao vê-lo constata a sua existência, mas ao mesmo tempo percebe que não consegue completamente abarcá-lo na sua amplitude. Assim é o Mistério da Revelação de Deus, o véu foi tirado na pessoa de Jesus Cristo, ou seja, rasgado. Sentimo-nos fascinados por tão grande mistério totalmente seduzidos, mas ao mesmo tempo sentimos também a necessidade ainda de conhecê-lo mais e aí nos deparamos com uma realidade que é difícil de admitir a nossa limitação perante o mesmo.
Enfim, é com a fé que o homem encontrará sentido último no conjunto de suas realidades. É crendo cristãmente que o homem compreenderá sua existência, irá confiar em Deus e saberá que Ele nos oferece um presente que “de modo algum podemos atingir com nossas próprias forças, a da Revelação divina”. E ao receber tamanha doação perceberá que não é impossível possuir o dom da fé.
Referências:
· Fé - Filosofia, Passo – a – Passo, 34 – J. B. Libânio, Rio de Janeiro.
· Catecismo da Igreja Católica, Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1999.
· Bíblia de Jerusalém, Editora Paulus, São Paulo, 2002.
· Eu creio, nós cremos – tratado da fé, João Batista Libânio, Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 2000.
FIQUEM NA PAZ DE DEUS! SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.
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