O Espaço Litúrgico:
a igreja e os seus espaços
O povo de Deus, que se reúne para celebrar o mistério pascal de Cristo, forma uma assembléia orgânica. Ela expressa-se por várias funções e ações, em diversos momentos da celebração. A disposição geral do edifício sagrado deve ser tal que ofereça uma imagem da assembléia reunida, permita uma conveniente disposição de todas as coisas e favoreça a cada um exercer corretamente a sua função (cf. Instrução Geral do Missal Romano, 294).
Precisa-se superar o pensamento de que o espaço celebrativo deve ter uma estrutura bipartida ou bizonal, com apenas dois pólos: o presbitério (lugar dos ministros) e a nave (lugar do povo cristão).
Três pólos devem ser valorizados na sua relação com a assembléia litúrgica: o altar, a sédia, o ambão.
Ø Presbitério
Quando a assembléia for numerosa, o Presbitério deve ficar num plano mais elevado para facilitar a visibilidade e a acústica, mas não excessivamente elevado, para não parecer distante do povo. Ao contrário, deve dar idéia de estar inserido na assembléia. Em pequenas capelas esse desnível é até desnecessário.
O Presbitério deve ter espaço suficiente para as peças necessárias e para a mobilidade do presidente e dos ministros.
O centro da fé cristã é o Mistério Pascal de Cristo, sua total entrega por nós, confirmada pela Ressurreição e dom do Espírito. O altar representa (traz-nos sempre presente à memória) este Mistério, Sua entrega total por nós, ontem, hoje e sempre. Em torno do altar reúnem-se os fiéis para participar do banquete pascal.
É importante que a mesa seja uma peça sólida e estável. Ela pode ser em pedra, madeira, concreto, ferro, evitando-se imitações destes materiais.
O altar deve ocupar um lugar que seja o centro, para o qual a atenção de todos os fiéis naturalmente se dirija buscando sua participação. Evite-se todo distanciamento em relação à assembléia.
O altar não precisa ser muito grande, pois independe do tamanho da igreja. A altura varia entre 90 cm e 1 m. Para a largura, 70 ou 80 cm são suficientes para se alcançar os objetos na outra extremidade. O comprimento pode variar de 1m até 2m.
A Constituição sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II, afirma: Cristo está presente "pela sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja" (SC 7).
Sendo a Palavra uma só, o ambão também deve ser único. Ele pode ser fixo ou móvel. É importante ter estabilidade e não ter aparência frágil. A dimensão da base pode ser de 40x30 cm. A altura é sempre a mesma, com uma inclinação para facilitar a leitura; a parte mais baixa pode medir 1,10m e a mais alta, 1,20m. A fim de facilitar a visão da assembléia, se o local for muito grande, pode ser colocado num estrado.
Não deve haver dois móveis iguais, mas diferentes: um para a Palavra (ambão) e outro para os comentários (estante). Para a estante móvel, deve-se prever um outro local, fora do presbitério.
Não deve haver dois móveis iguais, mas diferentes: um para a Palavra (ambão) e outro para os comentários (estante). Para a estante móvel, deve-se prever um outro local, fora do presbitério.
Quem preside a Liturgia é o próprio Cristo, na pessoa do presidente da assembléia litúrgica. O sacerdote que preside a Eucaristia é o sinal sacramental de Cristo Jesus que está presente, mas de maneira invisível.
A cadeira (sédia) é o lugar daquele que preside a celebração. Juntamente com o ambão e a mesa da eucaristia, constitui os três principais elementos do presbitério.
A cadeira nunca deve ser colocada em frente ao altar. Ela deve expressar e valorizar sua função e sua simbologia deve ter unidade de forma e estilo com as outras peças.
Caso sejam colocadas cadeiras para os demais ministros, que estas sejam diferentes da cadeira da presidência, mas mantenham o mesmo estilo e forma.
O Missal Romano orienta sobre o uso da cruz processional em vez de grandes crucifixos pendurados nas paredes, para simbolizar que a cruz acompanha o cristão em sua caminhada, mas a meta é a ressurreição, a glória, a vida.
A cruz processional deve apresentar a imagem do crucificado; ser pequena (30 a 50 cm), feita de material e forma que estejam em harmonia com as demais peças do presbitério. A pós-carregada em procissão como sinal do Cristo morto e ressuscitado, ela permanece junto ao altar.
Ø Credência
É uma espécie de pequena mesa colocada discretamente no presbitério para apoiar os objetos necessários para a missa: o cálice, a patena, as galhetas, os livros ou o que mais for necessário, dependendo da celebração. Não deve sobressair com rendas ou outros ornamentos. É bom que sua altura seja inferior à do altar. A credência pode ser colocada encostada na parede lateral do presbitério ou como um console na parede, fazer parte da própria parede. A credência pode ser fixa ou móvel. Na entrada da igreja, podem ser previstas uma ou mais credências para as ofertas ou folhetos. O material usado deve ser simples e nobre e estar em harmonia com as demais peças do presbitério.
Na nave, os fiéis se reúnem em assembléia para participar das celebrações. A nave é muito importante e deve ter, garantidas a funcionalidade e a comodidade. O lugar deve induzir ao respeito e ao silêncio. Deve-se prever um fluxo eficiente das pessoas em determinados momentos da liturgia, por exemplo, nas diversas procissões previstas (entrada, oferendas e comunhão). Para isso, corredores centrais e laterais são calculados levando em consideração o público almejado e em conformidade com a legislação municipal (se houver).
Nas novas igrejas, disponham-se os bancos ou as cadeiras de tal forma que os fiéis possam facilmente assumir as posições requeridas pelas diferentes partes da celebração e aproximar-se sem dificuldades da sagrada Comunhão.
Cuide-se que os fiéis possam ver e ouvir, com facilidade, quem preside, o diácono e os leitores.
A forma ideal para a celebração litúrgica renovada após o Concílio, não é a de igrejas com naves compridas, mas uma disposição que favoreça tanto a aproximação entre a assembléia e o presbitério como a participação.
Não é necessário que os bancos tenham genuflexório. Eles devem ser pequenos, para, no máximo, seis pessoas. Calcula-se em 50 cm o espaço mínimo ocupado por uma pessoa. O distanciamento ideal entre os bancos é de 1 m: 50 cm para o assento mais 50 cm de espaçamento entre a borda do assento e o encosto do banco da frente.
Ø Coro (animadores dos cantos)
O local ocupado pelos cantores e pelos instrumentos musicais deve estar inserido na nave, pois estes fazem parte da assembléia. Por isto, recomenda-se não mais projetar um espaço tipo mezanino. O importante é que toda a assembléia sinta-se motivada a participar dos cantos, animados pelo grupo de cantores.
Ø Batistério (fonte batismal)
Na construção do batistério seja destacada e realçada a dignidade do sacramento do Batismo. Seja o lugar adequado para as celebrações comunitárias. Convém projetar uma sala batismal. Pode-se inserir o batistério na própria igreja, na nave central ou lateral, mas separada do presbitério e em plano mais baixo em relação a este.
A liturgia fala da “fonte batismal”. Esta idéia do batistério-fonte pode ser visualizada fazendo jorrar verdadeiro jato de água nascente.
Ø Capela da Reconciliação (confessionário)
Este espaço deve facilitar o contato pessoal e o diálogo entre o fiel e o sacerdote, e permitir que sejam adotadas as posturas convenientes: de pé, sentado ou de joelhos. Seja um local discreto, mas à vista, que possua duas cadeiras e uma pequena mesa.
O ideal é que, dentro do corpo da igreja, se preveja um espaço que ao mesmo tempo faça parte da nave e dela se distinga.
O centro do espaço celebrativo é o altar, no qual o pão é consagrado e repartido. A reserva eucarística deve ficar fora do presbitério, numa capela própria para a oração individual e comunitária. Nessa capela, eventualmente, podem ser celebradas missas com menor número de fiéis. Caso não possa haver capela do Santíssimo, é possível colocar um tabernáculo no presbitério, mas em harmonia com o altar, o ambão e a cadeira presidencial. O sacrário deve ser digno e nobre, imóvel e sólido; necessita ter fechadura, não pode ser transparente. Sua forma, seu estilo e o material devem considerar as demais peças e formar com elas um conjunto. Tecidos rendados, letreiros, flores ou outros enfeites não ajudam a elevar a dignidade da peça e do seu conteúdo, pelo contrário.
Ø A lâmpada do Santíssimo,
Acesa indica a presença da Reserva Eucarística. Pela força de seu simbolismo deveria ser alimentada por material vivo: óleo, cera, parafina... Contudo a lâmpada elétrica também é permitida.
Deve-se evitar rigorosamente a utilização imprópria de recursos do tipo luz néon, frases luminosas e outros artifícios inadequados.
O mobiliário da Capela do Santíssimo deve ter genuflexórios para proporcionar momentos de oração e adoração ao Santíssimo para quem preferir utilizar a posição de joelhos.
Ø Átrio (Porta)
O Átrio é o lugar que dá entrada à igreja. Ele separa o exterior do interior. Este local tem a função de preparar a entrada e marcar a passagem de uma realidade para outra.
Pode haver aí uma pia de água benta para que se faça o sinal-da-cruz em preparação ao Mistério de que se vai participar. É preciso que a porta principal de entrada receba um tratamento diferenciado das demais, pois representa Cristo (a Porta). Ela deve ser maior, com puxadores mais nobres, podendo ter algum símbolo.
Ø Avisos e cartazes
Os cartazes e avisos fazem parte da vida e da dinâmica da comunidade e devem ter um lugar determinado e adequado para sua exposição.
A comunidade deve evitar a disposição de letreiros, avisos, cartazes, mensagens edificantes ou de congratulações e mesmo citações da Escritura, espalhados pela igreja, pela nave ou no presbitério, pois desviam a atenção dos fiéis da liturgia e prejudicam seu desenvolvimento.
O melhor local para concentrar avisos e cartazes é no átrio. É aí que as pessoas podem parar para ler os avisos, quando entram ou quando saem, sem atrapalhar o andamento da celebração.
O que o Evangelho diz com palavras, o ícone anuncia através das cores e, de certo modo, torna-o presente. A imagem é sinal da presença do invisível. O programa iconográfico deve ser muito bem elaborado, simultaneamente ao estudo e à organização do projeto arquitetônico da igreja. É importante prever as técnicas a serem empregadas (pintura, mosaico, vitral, esculturas...). O mesmo zelo deverá ser adotado na escolha do artista ou artista e da empresa que realizará tais trabalhos, tendo presente o critério apresentado no Catecismo: A arte sacra é verdadeira e bela quando corresponde por sua forma à vocação própria: evocar e glorificar, na fé e na adoração, o mistério transcendente de Deus, beleza excelsa e invisível de verdade e amor, revelada em Cristo... (Cat. 2502).
É preciso cuidado para não haver exagero. Às vezes em uma única igreja multiplicam-se imagens de Jesus Cristo, da Virgem Maria ou de um santo, quando bastaria um único exemplar de cada. O programa iconográfico de um edifício cristão tem como centro a imagem de Cristo (crucificado ou ressuscitado).
A imagem do (a) padroeiro (a), em pintura ou escultura, pode ficar em algum lugar do presbitério ou na nave. Ela jamais é o centro. Nunca colocá-la sobre um altar, pois só deve haver um altar, que é o eucarístico.
A iluminação, adequada, pontual, pode valorizar e atrair dignamente a atenção à imagem, sem que seja preciso recorrer a outras soluções.
Recomenda-se que a via-sacra e outros elementos devocionais subjetivos estejam fora do lugar da celebração eucarística.
Os caminhos mais fáceis para atingir o belo e o sublime são a simplicidade e o despojamento. Ambientes com muita decoração tendem a esvaziar a própria celebração, acarretando uma indesejada dispersão visual.
A ornamentação é parte integrante do espaço litúrgico e deve estar incluída no projeto arquitetônico, sempre lembrando que é preciso cuidado no uso de folhagens e flores. Os arranjos devem ser discretos.
É recomendável o emprego de plantas e flores naturais no local de celebração, pois o local onde a Verdade é anunciada e experimentada supõe uma decoração com materiais autênticos.
Ø Via-sacra
A via-sacra, entendida como caminho sagrado que lembra os últimos passos de Jesus em direção à sua paixão e ressurreição, encontra justa localização no espaço externo da igreja.
Ø Torre
Houve tempo em que a torre marcava o centro geográfico da cidade e o centro da vida dos cidadãos. Os sinos chamavam para as celebrações. Hoje, entretanto, a torre é facultativa, pois sua construção depende das tradições locais e dos recursos disponíveis para a obra. Pela verticalização das cidades, caso se opte por não construir uma torre, é conveniente que haja algum elemento na fachada direcionado para o céu, com uma cruz e/ou um pequeno sino. São elementos fortes da igreja-edifício ainda reconhecidos por todos.
AMBIENTES AUXILIARES:
Ø Sacristia
Recomenda-se projetar duas sacristias: uma próxima do presbitério onde serão guardados os objetos de uso litúrgico e outra junto à entrada da igreja, apenas para a paramentação do sacerdote e ministros.
Ø Secretaria
A localização da secretaria deve ser prática e de fácil visualização, evitando-se interferência no espaço celebrativo.
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.
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