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OS SACRAMENTOS

Evangelização e Sacramentalização

a história recente

Na década de 1960, na Espanha, em um contexto de oposição teórica e prática ao sistema “nacional-católico”, muitos cristãos praticantes e críticos denunciaram a pressão social que efetivamente existia a ponto de se tornar um costume receber o batismo, a primeira comunhão e o matrimônio cristão. O espanhol se convertia em Cristão pelo batismo, mas o cristão acabava sendo enquadrado no sistema de valores, idéias e representações do catolicismo espanhol de então. A simbiose do cristão com o cidadão espanhol constituía a essência do nacional-catolicismo.
Com o objetivo de evitar a simbiose nacional-católica, um grupo significante de militares, clérigos e leigos preconizava que os sacramentos cristãos, e em especial o batismo, deveriam ser recebidos com fé consciente e personalizada. O ideal era que os pais das crianças demonstrassem uma fé minimamente fundamentada, como garantia de que o batismo deixava de ser uma peça sacral pertencente a uma globalidade político-religiosa para se transformar em um signo coerente com a fé autêntica (comprometida).
O que se procurava era entender a motivação real que levava os pais a pedir o sacramento. O objetivo era dar razão da própria fé: um meio caminho entre a reflexão sobre a fé e a iniciação ao compromisso cristão. Nesse processo de preparação, a ênfase era posta mais na opção ou no compromisso dos pais das crianças do que propriamente na celebração sacramental. Surge, então, uma atitude restritiva. Tomava-se ao pé da letra a frase de Paulo: “Não fui enviado para batizar, mas para evangelizar”.
A palavra “evangelização” tinha conotações positivas: indicava o esforço dos militantes comprometidos neste mundo a dar testemunho do Evangelho que as massas operárias, os intelectuais ou os estudantes não recebiam nem através das estruturas da sociedade, nem através daquilo que se denominava Igreja-instituição. Surgiam militantes de grande seriedade; mas havia também personalidades que – no todo ou em parte – abandonavam a prática da fé, e até a própria fé, em favor de uma práxis mais eficaz para transformar o mundo.
Casimiro Martí, em sua conferência no II Congresso Litúrgico de Montserrat de 1965, evidenciava criticamente a postura desses militantes que queriam suprir o contratestemunho de uma Igreja entendida como simples administradora do sagrado e ligada a um regime contrário aos interesses da classe operária e dos intelectuais. Essa postura militante arriscada poderia acabar, de fato, no abandono daquela mesma Igreja que se pretendia suprir ou dinamizar.
A partir de 1975, na Espanha, houve a transição política. Então se pôde discernir mais corretamente aquilo que era fruto da pressão externa. (da coação derivada do regime, principalmente), e aquilo que era próprio da religiosidade popular. O restante dos cidadãos, no entanto, continuava pedindo o batismo para suas crianças.
A grande maioria dos cidadãos também pede funerais para os seus defuntos. Tal fenômeno certamente não se deve ao aumento da fé “personalizada”, mas ao fato de que a pessoa humana em si e o povo, como um todo, estão abertos normalmente a uma religiosidade popular. Os sacramentos voltam a ser vistos como uma mediação eclesial de considerável valor antropológico, situados entre a iniciativa de Deus e a realidade humana.


O que as pessoas pedem e o que os sacramentos oferecem

Durante um curso sobre os sacramentos no Instituto Superior de Liturgia de Barcelona, os alunos manifestavam a dificuldade que impedia, no todo ou em parte, a percepção correta da sacramentalidade cristã. A primeira comunhão é um fenômeno familiar que cria uma expectativa com um alto grau de ambigüidade, comparativamente mais alto até inclusive do que no caso do batismo ou do matrimônio.
A primeira comunhão normalmente é precedida por um ou dois anos de preparação catequética para as crianças e seus pais; todavia, no tocante à maioria dos que se fazem presentes à celebração, é preciso reconhecer que freqüentemente o fazem de forma muito desmotivada. Por isso, a cerimônia acaba se tornando ambígua, um meio-termo entre celebração religiosa e festa social.
Por exemplo, é muito bom enfocar do ponto de vista pastoral o batismo como uma festa familiar, cheia de alegria e de ternura, na qual se dá graças a Deus pelo evento maravilhoso que é o nascimento de um filho; mas essa dimensão familiar deveria transparecer, ao mesmo tempo, na festa espiritual que supõe o revestimento de Cristo, o dom gratuito do Espírito Santo e a entrada do batizado no Corpo (místico) de Cristo que é a Igreja.
A correlação existente entre os sacramentos e os acontecimentos mais marcantes da vida foi sublinhada por Tomás de Aquino na Suma Teológica. “A vida espiritual tem uma certa conformidade com a vida corporal”. E vice-versa: as coisas corporais têm uma certa semelhança com as espirituais. A vida da pessoa nasce, cresce e se aperfeiçoa em si mesma e em relação à comunidade social na qual essa pessoa vive. Por isso existem os cinco primeiros sacramentos que aperfeiçoam a pessoa humana em si mesma:

1)   O Batismo é a regeneração que corresponde ao nascimento;
2)   A Confirmação comunica o Espírito Santo como fortaleza do cristão diante da vida;
3)   A Eucaristia é o alimenta que faz a pessoa crescer em relação à vida eterna;
4)   Existe a Penitência como cura espiritual;
5)   Unção para os enfermos e anciãos, devido ao fato de a vida dos seres humanos não ser uma linha reta e contínua, já que nela há quedas, debilidade e enfermidades;
6)   No tocante à relação da pessoa com a comunidade social, o sacramento da Ordem permite oferecer vítimas espirituais por si mesmo e por todo o povo;
7)   O Matrimônio, sacramento que eleva o amor humano ao mostrar sua condição de símbolo do amor perfeito e entregue de Cristo à Igreja, propaga tanto a vida corporal como a espiritual. É esse o terreno próprio dos sacramentos que são signos sensíveis da graça espiritual.


Os sacramentos de Cristo se conformam 
ao modo de ser da pessoa humana


            Nesta seção eu gostaria de mostrar precisamente não só a conformidade da série dos sete sacramentos com o decurso da vida humana, mas deixar claro a conformidade existente também entre a estrutura do sacramento e a estrutura da pessoa humana. Considerando-se que nossa época é hedonista, utilitária e materialista, características que pouco combinam com a mentalidade simbólica que permite entender os sacramentos, não é difícil mostrar que estes são ações congruentes com a maneira de ser da pessoa humana e, por conseguinte, são adequadas à cultura que todos juntos tecemos como uma rede que nos permite viver e até dar sentido à vida.
            Por isso, uma reflexão prévia a qualquer outra consideração que possa ser feita consistirá em evidenciar que a pessoa humana, consciente, amante, livre, responsável e aberta à comunicação com os seres humanos, como também com Deus, está apta a receber a comunicação de seus dons através dos sinais visíveis que são os sacramentos. Essa convicção, na realidade, representa um modo de dizer que os sacramentos nos mostram como é esse Deus que se dá porque é Amor, e como é o homem, cuja sede de conhecimento e de amor é insaciável.
            A capacidade de conhecer não tem limites e, seja qual for o enfoque dado, não exclui nem sequer certo conhecimento do divino, pressentido como horizonte da vida, como umbral de um modo a ser descoberto, como a outra margem do mundo. No entanto, o ser pessoal é o mais concentrado que se possa imaginar, de tal forma que expressamos essa concentração com uma breve palavra – “eu”, na qual se enraíza a capacidade de conhecer, de amar, de decidir e de agir, além das qualidades da liberdade e da responsabilidade.
            Um ser assim, dotado da máxima concentração e da máxima capacidade de expansão e de relação, transcende-se a si mesmo. Quer chegar sempre para além de si mesmo. E o faz – numa perspectiva mais intelectual – mediante o conceito, que capta a essência das coisas. Desse modo, a pessoa sai de si mesma e se enriquece mediante o conhecimento, o amor e a ação, que – bem unidos – mostram o melhor do ser pessoal, capaz de ser ele mesmo e de chegar às outras pessoas, e até mesmo de chegar até o umbral do divino, pelo conhecimento do mundo e da criatura humana
     A pessoa humana, enfim, é aquilo que há de mais incomunicável (sua “mesmidade” ou identidade própria) e de mais comunicável aos outros, por possuir a dupla capacidade de conhecer e de amar ao outro e aos outros. Numa palavra, é fronteira entre tempo e eternidade, entre a criatura corporal e a espiritual, entre a matéria e a mente, como Tomás de Aquino afirma algumas vezes a partir de sua leitura do livro De Causis: “A alma intelectual foi criada em um horizonte de eternidade”.
            É aqui que o símbolo e o conhecimento simbólico entram como uma peça de ligação entre o espiritual e o sensível, entre o divino (eterno) e o temporal que flui: O símbolo é a mediação pela qual Deus nos atrai a si. Como disse M. D. Chenu, é a mediação adequada para servir como dobradiça entre a escatologia divina e o tempo da história humana.
          A seguir nós veremos como os sacramentos são símbolos situados entre o céu e a terra e como são adequados ao modo de ser da pessoa humana. Os sacramentos são para os homens (sacramenta propter homines) porque a sacramentalidade cristã mantém uma profunda adequação à estrutura da pessoa, bem como desta comunidade de pessoas de fé que é a Igreja.


Os Sacramentos na Igreja


1 Os sacramentos da nova e eterna aliança

A tradição que vem de Jesus

Os sacramentos procedem de Jesus Cristo. É um ponto firme da tradição paulina o fato de que a eucaristia, instituição central da sacramentalidade cristã, proceda da disposição explícita do senhor: “Eu recebi do senhor o que também vos transmiti” (1 Cor 11,23). De fato, a teologia católica recente reafirma o ponto forte e inânime da Tradição, segundo o qual todos os sacramentos procedem da cruz e da ressurreição de Cristo.
A teologia atual se move – no tocante à instituição dos sacramentos – em um contexto muito diferente ao da preocupação, de cunho apologético ou crítico, pelo dado histórico comprovável na vida de Jesus, própria de fins do século XIX. Isso impulsionava os estudiosos a alinhar-se numa frente conservadora ou numa frente modernista, a qual, ao ver a impossibilidade de comprovar a ligação histórica direta dos sacramentos com o Jesus da história, considerava-os simples produto da comunidade primitiva.
O contexto teológico atual contempla os sacramentos como expressão da ressurreição de Cristo – em continuidade com as palavras de Cristo e os fatos de Jesus e por iniciativa do próprio Senhor Jesus glorificado – brotaram no seio da comunidade dos apóstolos, iluminada e regida pelo Espírito do Senhor.

A nova e eterna aliança

Segundo o relato da tradição paulina, a eucaristia é a nova e eterna aliança, constituída pela entrega do senhor. Essa entrega é simbolizada pelo sangue derramado por Jesus. Dito do ângulo inverso: a nova e eterna aliança se realiza na eucaristia: “Este cálice é a nova aliança, no meu sangue” (1 Cor 11, 25).

O tempo e o espaço da aliança

O tempo

Desde o início do mundo até a definitiva parusia ou retorno de Jesus, dá-se um tempo no qual “todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, estaremos proclamando a morte do senhor, até que le venha” ( 1 Cor 11, 26). Até que Jesus, o Senhor, volte para entregar o Reino ao Pai do céu (1 Cor 15, 24).
A aliança nova, portanto, inicia-se sacramentalmente no tempo da igreja, e se consumará na plenitude do Reino, pela Presença de Cristo no povo de Deus a quem comunica a alegria do Espírito que vivificará seus membros para sempre (Jo 14, 16).


Espaço

O espaço sagrado é o mundo e, portanto, a história, cenário onde se realiza o drama humano no qual a criação chegará a seu destino definitivo: o novo céu e a nova terra, a Jerusalém celeste, na qual não há nem dor, nem lágrimas, nem gritos, nem morte.


A linguagem da aliança

A aliança busca a comunicação entre as partes que nela atuam: Deus e o povo. Por isso, é necessária uma linguagem que estabeleça a comunicação pessoal de conhecimento, afeto e vida. A filosofia, a psicologia e a literatura tratam hoje o tema da comunicação e da linguagem comunicativa, que afeta também a celebração dos sacramentos enquanto assembléias de pessoas reunidas na oração, na audição da Palavra e na recepção dos símbolos da celebração.

A linguagem e os gestos de comunicação

A antiga linguagem litúrgica, embebida de sabedoria e do mistério dos séculos, converteu-se na linguagem perene, de cunho bíblico-patrístico. Devem ser procuradas, todavia, mediações que o tornem compreensível, porque para grande parte das pessoas, que tem um vocabulário extremamente reduzido e funcional, várias palavras e expressões difíceis se tornam obscuras.

A imagem e o dinamismo espiritual

Estamos entrando em um terreno claro-escuro, luminoso, mas com amplas zonas de sombra. Trata-se de realidades literalmente divinas, pela presença do Amor maior, o de Deus. Não porque os homens, em um exercício prometéico, queiram fazer descer fogo do céu por meio de um gesto mágico. Aqui, a autêntica medida é Cristo, símbolo real e adequado daquilo que deve ser a racionalidade iluminada pela liberdade e pela graça. Cristo, “imagem do Deus invisível” (2 Cor 4,4; Cl 1,15), favorece a busca e o encontro com Deus: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). Por essa razão, a liturgia sempre haverá de ser representação e imagem do divino. Uma representação feita com palavras e gestos humanos, que procedem da palavra e do gesto do homem Jesus Cristo.


Ecclesia orans

Os sacramentos como oração da Igreja

A linguagem da comunidade reunida é a oração que conduz à comunhão. Os ritos podem ser sempre os mesmos, mas a ação de Cristo, viva e dirigida a seres vivos, é sempre nova, como é sempre nova a situação das comunidades que celebram. A liturgia é, então, exercício de comunicação, no qual é Cristo quem age e se comunica. A Palavra clara e verdadeira une-se à corporalidade do símbolo para converter-se em sacramento. Na oração da Igreja atravessa todas as fases da comunicação: o silêncio, a adoração, o louvor, a ação de graças e a súplica. Finalmente, Jesus mesmo diz que quem pede, recebe, quem busca, encontra, e quem chama, obtém resposta. A oração dos sacramentos tem como dimensão específica fazer-nos passar da mediação sensível à realidade divina, realidade última do sacramento (res sacramenti).


Oração a partir da Escritura
Abrir a Escritura é como abrir uma janela à ultimidade de Deus. Todas as Escrituras falam de Cristo, o Filho de Deus, a quem contemplamos na luz do Espírito Santo. Cristo, o Eschaton. O último que há de vir. Ler e proclamar as Escrituras como primeira parte da celebração sacramental já leva os participantes à comunhão com Cristo.

Oração a partir dos símbolos cristãos
Diante dos símbolos cristãos, experimentamos o mesmo chamado e impulso na direção da ultimidade de Deus. Tudo pode ser visto e ouvido com os sentidos da vista e da audição, mas a compreensão interior se dá à luz da fé: a água derramada nos leva à tríplice fonte de Amor de Deus Pai, Filho e Espírito, derramado sobre a criança; a luz do Círio nos remete a Cristo, luz do mundo; o óleo abençoado unge a criança à semelhança do Ungido e a enche com a unção do Espírito Santo, que realiza a obra de Deus em nós, a qual outra não é senão a obra da fé (cf. Jo 6, 28-29). Os sacramentos, precisamente por serem símbolos, convertem-se em ações de Cristo. Isso se dá no processo que entrelaça a presença e a ação de Cristo com a oração eclesial.


Festa do Espírito Santo no povo de Deus

Os sacramentos, âmbitos do Espírito Santo  

O Espírito, além de encher o coração das pessoas, edifica e ilumina a comunidade cristã. Com efeito, o Espírito Santo dá os dons, os carismas e os ministérios oportunos para a edificação da comunidade. A comunicação e expansão do Espírito Santo provocam na terra a alegria e a festa que nem se quer a dor do mundo pode eclipsar.
Os bens futuros que esperamos – o amor, a alegria, o perdão, a paz, a justiça – são todos sintetizados no Espírito Santo anunciado, prometido e dado por Cristo glorioso, núcleo do Reino de Deus.

O povo que celebra os sacramentos

O povo de Deus se reúne formando uma comunidade real, não utópica. São necessários o realismo e a humildade para aceitar que o “povo de Deus” seja uma reunião de pessoas bastante variada, em virtude da procedência social e das profissões.

Presença de Cristo na comunidade

O referencial último dos sacramentos é Cristo glorioso, emissor do Espírito. Ele é o Eschaton: o último e decisivo bem que Deus dá ao homem. O último – o eschaton – é o cumprimento decisivo de todas as promessas de Deus. A dimensão escatológica se une à dimensão da vida corrente e, das duas, brota a dimensão evangelizadora: “É o senhor!”. Cristo vivo é, por sua situação escatológica, o doador do Espírito que nos leva ao testemunho e à missão.


Presença da comunidade em Cristo

Os sacramentos são reuniões de oração, de proclamação do Evangelho e – na mediação dos símbolos – de encontro e comunhão com o Senhor, meta de qualquer oração e celebração. Os sacramentos são, em princípio e do ponto de vista fenomenológico, reuniões de pessoas comuns. Essa reunião de pessoas comuns deve ser considerada em toda a sua amplitude e profundidade: amplitude que vai das pessoas simples até a intimidade do Pai do céu; profundidade que alcança desde aquilo que é cotidiano e problematizado até o Filho de Deus (o eschaton), inscrito na Trindade de Deus.


Os sacramentos da Igreja, a evangelização e o amor fraterno  

A celebração pode chegar a ser evangelizadora se realmente conseguir dar testemunho do Senhor Jesus. Na celebração da eucaristia, bem como nos demais sacramentos, encontram-se presentes o núcleo da conversão ao amor fraterno e a missão evangelizadora: o Espírito de Deus. Esse é o ponto central pelo qual a Eucaristia, bem como os demais sacramentos, se abrem à evangelização e ao amor fraterno. O amor é doação de si mesmo e daquilo que o outro precisa e espera. A caridade fraterna permanece concentrada no sacramento, enquanto ela se desdobra na história e na vida cotidiana.


Tradição, criatividade, inculturação

É preciso esclarecer aquilo que os sacramentos recebem do Senhor Jesus (tradição) e aquilo que pode ser revestimento humano (criatividade). O tema é, portanto, o lugar da tradição e o lugar da criatividade e da (desejada) inculturação.


Tradição

A eucaristia – e de forma semelhante podem ser feitas afirmações análogas a respeito dos demais sacramentos – é o memorial da Páscoa de Cristo. É o memorial de uma ação realizada pelo Senhor Jesus como culminação de sua vida terrestre. A eucaristia não é propriedade humana; não é propriedade dos ministros, que são simplesmente isso, ministros. Nós a temos recebido como dom gratuito de Cristo.

Criatividade

Criatividade receptiva – manter um ritmo progressivo na celebração litúrgica, sem torná-la pesada nem dar uma sensação de imobilidade. Quanto à liturgia da Palavra, concretamente, é criatividade o entendimento das leituras numa visão de fé, bem como a dicção bem vocalizada e clara, de modo que não somente se faça entender, mas permita aos participantes a fruição daquilo que se lê ou se proclama.

Inculturação

A liturgia da Igreja universal pode chegar a ser – por seu ritmo, por seus ornamentos, por sua linguagem, pela homilia e comentários, por seus cantos, por sua “alma” (é preciso recordar a “alma de Cristo”: anima Christi) diferente. Da mesma forma que é diferente celebrá-la na casa onde nasceu São João da Cruz, nos lugares santos de Assis onde nasceu são Francisco, ou no Santuário de Aparecida.

A arte, particularmente a música

O canto, ao elevar os espíritos, introduz na celebração um elemento afetivo – um sentimento sóbrio –, que irmana bem com a palavra e com o símbolo. Santo Agostinho percebeu-o já nas confissões: Qualquer música, se for interpretada com convicção, oferece naturalmente ao ouvinte uma ressonância afetiva, que consola, eleva e serenamente dilata a alma. Na liturgia, a melhor música é a que todo o povo canta com convicção.  


Os sacramentos e a representação cênica

É o momento de distinguir celebração de teatro. O teatro pretende, a partir de uma situação cênica tocar diretamente os sentimentos do espectador e fazê-los vibrar de acordo com a cena representada. No teatro, todavia, não importa a verdade da cena.
Na liturgia, ao contrário, a verdade daquilo que está sendo rememorado afeta pessoalmente quem assiste, que – por isso mesmo – não se chama espectador, mas participante, e até mesmo celebrante. No teatro, produz a comunhão de sentimentos entre a cena e o público, mas que na liturgia leva à comunhão vital com Cristo.

Referências:
Josep M. Rovira Belloso – Os Sacramentos: símbolos do Espírito – Editora: Paulinas – São Paulo – Brasil – 2005 – (Coleção sacramentos e sacramentais). 

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