Comentário acerca do texto:
Pessoa, Matrimônio, Família: entre Cultura, Pós-modernidade e Cristianismo de João Carlos Petrini.
Em todas as épocas o homem sempre se mostrou complexo, frágil e inseguro diante dos problemas existenciais que a vida lhe apresentou. Quando abordamos o comportamento humano não podemos esquecer que esta dimensão está intrinsecamente relacionada com o tipo de sociedade, cultura e a época em que cada indivíduo está inserido.
Ainda hoje o homem é certamente um enigma que concentra as maiores indagações da humanidade. A sua importância e complexidade fazem dele um importante “objeto de estudo”. Nos dias atuais o homem se vê diante de um dilema, querer explicar tudo através do uso da razão, descartando até mesmo a possibilidade da existência de Deus. Sabemos que isto é fruto do que acontecera no século XVII.
Ora, no século XVII, há um rompimento com a forma de pensar do período medieval. Se antes o homem usufruía do poder “escolástico” concentrando toda a sua atenção em explicar as coisas, mas sempre as relacionando com Deus, agora ele toma iniciativa própria, sente a necessidade de explicar também a natureza e tudo que faz parte dela, inclusive ele próprio por meio do uso demasiado da razão. Mediante isto, se Deus antes era o centro para explicar as coisas, agora o homem toma o seu lugar, colocando-se como o centro.
Nos dias atuais, estamos vendo as conseqüências dramáticas em que o homem se encontra como nos diz João Carlos Petrini: o homem moderno “é violento, pois construiu a civilização da qual se gloria ao clamor dos canhões, e é parricida, tendo eliminado o Pai do seu horizonte”. Com um entusiasmo exagerado de querer explicar as coisas apenas pelo o uso do raciocínio o homem não percebeu que reduziu tudo a uma única dimensão, isto é, ao crivo da razão.
É fácil perceber que estamos inseridos num tipo de sociedade que respira o pós-modernismo, e não podemos esquecer que estamos colhendo ainda frutos do “pensamento iluminista” sendo que este ainda não se extinguiu por completo. O homem pós-moderno se considera autônomo, ou seja, dono de si. Afirma que é livre para fazer o que deseja como nos diz João Carlos Petrini: “procura enquadrar a tradição cristã nos esquemas da racionalidade iluminista, mas, ao fazer isso, perde a possibilidade de abrir um verdadeiro diálogo com essa realidade”.
No entanto, o homem tem consciência que a razão não pode deter ou controlar todo o saber e descarta toda e qualquer possibilidade de entender os caminhos que a mesma não consegue abordar, chegando a afirmar que aquilo que está fora de seu domínio não serve, isto é, é totalmente descartado porque não tem poder para influenciar o mundo em que vivemos como, por exemplo, a afirmação da existência de Deus.
Mediante isto, o homem descarta a influência que a própria religião tem na sociedade desprezando sua doutrina, seus conceitos sobre a moral e a ética, valores que são imprescindíveis para o Cristianismo. Ao descartar estes valores o homem não percebeu que deixou de ser livre para se tornar escravo de um egoísmo desenfreado, pois o desenvolvimento no domínio das ciências e da técnica o levou a uma submissão de conduzir o uso da razão apenas para o seu interesse próprio reduzindo-se assim ao poder: “econômico, militar, político e ideológico” como nos diz; João Carlos Petrini.
Certamente desprezando a Deus desprezará a religião e esquecendo-se da religião também esquecerá sua doutrina, com isto, será mais fácil também esquecer os valores éticos e morais que a mesma apresenta. Tendo em vista, que, deste modo o homem jamais encontrará o caminho para a felicidade porque valores como a verdade, a justiça, a liberdade, a fraternidade e principalmente o amor a Deus e ao próximo são imprescindíveis para tornar o homem feliz na sua plenitude.
Neste sentido fica fácil agora entender porque o matrimônio e a família vivem numa crise como jamais se viu. Ora, a primeira comunidade do homem independente de ser cristão ou não é a sua família, onde não devem faltar princípios primordiais como estes que acabamos de citar no parágrafo acima que o levará a felicidade. É triste quando constatamos que em algumas famílias, não há um mínimo de respeito entre os parentes, fruto da falta de princípios éticos e morais. Quando não há amor, fraternidade, comunhão, respeito entre pais, filhos e irmãos as conseqüências de desordem são catastróficas.
Como nos diz João Carlos Petrini: “a sociedade moderna entra em crise por uma carência da razão, que não é mais capaz de dar conta de todos os fatores da realidade, de orientar suas conquistas para poder responder às exigências humanas. Com efeito, a razão não mais compara seus produtos com as exigências elementares do ser humano, com as exigências de liberdade, justiça, verdade, felicidade, e sim com as exigências de mercado, isto é, do lucro e do poder”.
Infelizmente o homem tornou-se escravo de si mesmo. O uso demasiado da razão tornou-se um instrumento forte na área industrial, garantiu facilmente ao homem, meios de como usufruir e manipular em massa, grande parte de trabalhadores com o único critério de visar apenas o lucro econômico para poucos, escravizando maior parte daqueles que tem menor poder aquisitivo como, por exemplo, os que não têm condições de se formar academicamente e garantir para si uma vida mais digna com os estudos.
É notório que os estudantes de hoje não são mais formados, instruídos visando uma formação pessoal no sentido de serem preparados para a vida não só terrena, mas que leve ao transcendente (muitas escolas religiosas nem existem mais). Mas antes são preparados no sentido de buscarem cada vez mais a competitividade na área de mercado, visando sempre o lucro pessoal e o crescimento financeiro da empresa em que irão trabalhar futuramente. Ora, é bem verdade que vivemos num mundo egoísta que visa o lucro e o poder econômico para poucos.
Enfim, vivemos num mundo escravizado pela lógica do capitalismo (poder aquisitivo) relativizando assim alguns princípios éticos e morais da religião cristã. Essa relativização encontrada no âmbito da religião (cristã) se dar certamente por causa do intuito de querer viver sempre mais numa vulgaridade, banalidade e desordem que só leva o próprio homem a uma falta de sentido. Incorporado por tamanha relativização e pela própria vontade de potência levou o homem a afirmar “a morte de Deus”. Com o intuito apenas de querer fugir assim de vez da vivência dos valores éticos e morais que a religião cristã nos propõe.
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