PROFETA ISAÍAS (YAHWEH SALVA)
I – VIDA
O profeta Isaías nasceu no ano 760 a.C. em Jerusalém, durante o reinado de Ozias, onde também exercera todo o seu profetismo. O que tudo indica é que ele era de família aristocrata, ou ao menos pertencente à classe dos dirigentes da cidade. Foi casado com uma mulher também profetisa (8,3). Tendo com ela dois filhos com nomes simbólicos: Seariaub (um resto retornará 7,3) e Mahér-salá-cash-baz (despojo-pronto-sauque próximo 8,1).
Recebeu a sua vocação profética ainda muito jovem, “no ano da morte do monarca Ozias” (6,1); (+ou- 747/735). Quando Isaías relata sua vocação (Is 6) ele nos apresenta quatro temas que nortearão toda a sua pregação: 1. SANTIDADE DE DEUS; 2. CONSCIÊNCIA DE PECADO (PESSOAL E COLETIVO); 3. NECESSIDADE DE CASTIGO; 4. ESPERANÇA DE SALVAÇÃO.
Sobre sua morte não se sabe nada ao certo. Existem especulações que datam-na depois do ano 701. A tradição judaica, coletada no Talmude, nos conta que Isaías foi assassinado por Manassés, o qual mandou que o profeta fosse cortado ao meio com serra.
O caráter de Isaías é percebido ao longo de sua obra como um homem decidido, sem falsa modéstia, que se oferta espontaneamente a Deus no momento de sua vocação. Tal espírito decidido, ele corroborou anos mais tarde quando teve de afrontar os reis e os políticos; em nenhum momento se abatera, mesmo quando teve que se calar por alguns anos, mas não desanimou. A sua formação aristocrata influenciara em seu profetismo. Ou seja, sendo ele politicamente correto jamais foi conivente com o anarquismo e considera a este como castigo (3,1-9).
II – AMBIENTAÇÃO HISTÓRICA
A atividade profética isaiana se contextualiza em três momentos da Monarquia de Judá:
1. JOATÃO (739-735). O período deste reinado é marcado profundamente pela paz e prosperidade econômica e o bem-estar. Mas assim como o profeta Amós no Reino do Norte, Isaías consegue detectar uma realidade distinta. Ou seja, o que mais preocupa Isaías nestes primeiros anos é a configuração social e religiosa: falta de valores espirituais (1,2-6); falsidade na prática religiosa (1,10-20); injustiça social (1,21-28;5); o luxo (3,16-24); bem estar que distancia o povo de Deus (2,6-22); arbitrariedades dos juízes; a corrupção das autoridades; a cobiça dos latifundiários; opressão dos governantes.
2. ACAZ (734-727). Já nos últimos anos do reinado de Joatão a situação de bem-estar e de confiança viu-se ameaçada pelos preparativos de Damasco e de Samaria contra Jerusalém, que desembocaria mais tarde na guerra siro-efraimita. Em Jerusalém se duvida da capacidade de Yahweh de ser fiel às promessas sobre a Cidade Santa e sobre a monarquia davídica (II Sam 7). A partir deste dado, o profeta denuncia a falta de fé e chama o povo para a confiança em Yahweh, na sua palavra e nos sinais que Ele envia (O Emanuel 7,14). Na esfera política (6 – 12), Isaías refuta a ilusão de confiar-se às potências humanas que são sempre suscetíveis de idolatria.
3. EZEQUIAS (727-698). Na minoridade de Ezequias, o profeta se posiciona numa atitude de reserva, e assiste impotentemente à progressiva ascensão assírica e ao entregar-se do reino do norte. Mas nos anos 705-701 ele intervém contra a excessiva esperança que se põe no Egito e anuncia que a própria Assíria será “batida com a vara” (30,31) por ter ido além do seu dever histórico. Por fim, Isaías finda o seu profetismo pondo toda a sua esperança só no futuro que Deus garante ao “resto de Israel”.
Os dados seguros de toda a atividade profética isaiana giram em torno das seguintes afirmações:
1. Isaías se opôs decididamente à revolta desde os primeiros instantes;
2. Condenou a aliança com o Egito;
3. Considerou a invasão assíria como justa punição pela atitude do povo;
4. Mesmo com a desobediência do povo, prometeu a salvação de Jerusalém;
5. E com a insistência desobediente do povo, mesmo com a promessa de salvação, o profeta se desilude mais uma vez.
III – DIVISÃO DO LIVRO E MENSAGEM
O livro isaiano é comumente divido em três grandes blocos: Proto-Isaías ou Isaías I (1-39); Dêutero-Isaías ou Isaías II (40-55) e Trito-Isaías ou Isaías III (56-66).
A) O Proto-Isaías não é oriundo totalmente de Isaías, nele encontram-se todos os oráculos; mas são numerosos os acréscimos e releituras dos anos seguintes. O bloco divide-se em:
1. Oráculos dirigidos ao povo de Deus (1-12). Encontram-se nestes oráculos alguns poemas famosos do profeta: a denúncia do culto, o cântico da vinha, a profecia do Emanuel. Encontram-se também outros oráculos messiânicos.
2. Oráculos dirigidos às nações estrangeiras (13-23);
(Babilônia, Assíria, Filistéia, Moab, Damasco, Egito, Núbia Duma, tribos árabes, Tiro e Sídon).
3. A “grande escatologia” (24-27). Tais capítulos são uma espécie de balanço de todos os oráculos anteriores, pois toda a terra, sem distinção de raças nem de países, fica submetida ao juízo de Deus.
4. Oráculos dirigidos ao povo de Deus (28-33);
5. A pequena escatologia (34-35);
6. Apêndice histórico (36-39).
A mensagem do conteúdo de Isaías I pode ser sintetizada em dois grandes pontos: o problema social e o problema político.
*A sua denúncia social parece ter influência da profecia de Amós, mesmo que este tenha pregado no Norte, sua mensagem parece que logo se estendeu no Sul de Israel. A influência consiste na crítica à classe dominante pelo seu luxo e orgulho, pela cobiça e práticas injustas. Isaías ainda segue a mesma mensagem de Amós no sentido de querer ligar intimamente à vida religiosa a tais práticas abomináveis. A denúncia política consiste no fato de não trocar a segurança da Cidade Santa e da dinastia (Fé em Yahweh) por alianças políticas com nações estrangeiras (Egito e Assíria). Nesta dupla vertente social e política de sua mensagem é onde se insere a proclamação messiânica. O “Messias” aparece sempre como aquele que implanta na terra a justiça e o direito, e também dando consciência ao trono de Davi.
*Já neste primeiro bloco do livro de Isaías se contempla um entendimento de que sua mensagem, ou melhor, sua pregação pretendeu a mudança de mentalidade (CONVERSÃO) de seus contemporâneos. E para Isaías converter-se significa restabelecer as retas relações entre Deus e o homem, reinstaurar o equilíbrio que se perdera. Para Isaías, o homem é um ser necessitado da salvação, que não tem nada para se vangloriar.
B) O Dêutero-Isaías apresenta a seguinte divisão: prólogo (40,1-11) e um epílogo (55,6-13), nos quais ocupa lugar central o tema da Palavra de Deus e o do novo êxodo. O corpo intermediário é dividido em dois grandes blocos: 40-48 e 49-55. O primeiro focaliza a libertação da Babilônia e o retorno à terra prometida. A segunda parte (49-55) tem seu ponto central na restauração e glorificação de Jerusalém, apresentada, às vezes como cidade, outras vezes como esposa.
C) O Trito-Isaías na sua estrutura apresenta uma “disposição unitária”, baseada em blocos que se correspondem, mas que terminam constituindo dois blocos principais: 56-58 + 65-66, dominados pelo esquema do êxodo, e 59-64, dominados pelos esquemas da justiça e da salvação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário