Assembléia em Paulo Apóstolo
Frei Faustino Paludo
A leitura atenta dos escritos de Paulo Apóstolo nos dá a impressão de estar tomando parte de uma assembléia litúrgica. As cartas paulinas eram dirigidas às comunidades (menos Filemon). Observemos como Paulo inicia suas cartas: "A todos os diletos de Deus que estão em Roma" (Rm 1,7). "À Igreja de Deus que está em Corinto" (1Cor 1,2; 2Cor 1,1). "Às Igrejas da Galácia" (Gl 1,2), etc.
Certamente que a leitura era feita na reunião da comunidade a que Paulo se dirigia. Talvez o escrito que melhor explique isto seja a 1ª Carta aos Coríntios. Nela o Apóstolo chama a atenção para as divisões (cap. 1-4) e os abusos nas assembléias (cap. 11-14). Naquele tempo, a melhor maneira de divulgar um escrito era aproveitar a reunião da comunidade, onde os servidores liam para os presentes as Cartas do Apóstolo. A assembléia se constituía no elemento animador e articulador das diferentes dimensões da vida da comunidade cristã.
Para compreendermos o sentido que o apóstolo São Paulo dá à assembléia litúrgica, necessitamos recorrer à palavra “Igreja”. O termo vem da palavra grega “ekklesia” e significa: “assembléia do povo convocada pela Palavra de Deus”. Nos tempos apostólicos, assembléia evocava a reunião dos que crêem em Jesus Cristo , o Ressuscitado. É a reunião do povo da nova aliança, em continuidade com as assembléias do antigo povo (cf. Dt 4,4.10; Ex 19-24; Js 24; Ne 8-9).
Paulo vê nas assembléias dos convertidos à Boa Nova de Jesus, uma extensão das assembléias do antigo Israel. Todavia, despojadas dos elementos característicos da liturgia do antigo Templo. Os convertidos compartilham da ceia do Senhor, reúnem-se freqüentemente no amanhecer do 1º dia da semana para a oração e a escuta da palavra. Não tinham Templo, nem sacerdotes e nem sacrifícios.
Ainda em Paulo, a palavra “igreja” (ekklesia) refere-se à comunidade reunida em assembléia num determinado lugar, numa casa (cf. Rm 16,5) numa cidade ou numa região. Inúmeras vezes o Apóstolo se refere à comunidade local. “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por vontade e chamado de Deus, à igreja de Deus que está em Corinto” (cf. 1Cor 1,1-2; 2Cor 1,1); reunida em assembléia (1Cor 11,18); “às Igrejas da Galácia” (Gl 1,2). Outras vezes, Apóstolo dirige-se à Igreja no seu sentido mais amplo. “A eles não somente eu sou grato, mas também todas as igrejas dos pagãos” (Rm 16,4). Paulo pensa e se relaciona com a Igreja como assembléia reunida num determinado lugar em nome do Senhor. Fala da “igreja na casa de Priscila e Áquila, de Ninfa e de Filemon (cf. Rm 16,5. 23; 1Cor 16,19; Cl 4,15; Fm 2). É tardia a compreensão de uma Igreja no sentido universal (cf. Cl 1,18.24; Ef 1,22; 3,10.21; 5,23-25.27.29.32).
Paulo acresce à palavra “Igreja” o complemento “de Deus”. (cf. ‘Cor 10,32; 11,32; 12,28; 15,9; 1Tm 3,5. 15). A assembléia como Igreja reunida é fruto da convocação da Palavra de Deus. Ele a convoca e por isso ela é comunhão. A unidade de Deus gera a comunhão da Igreja presente em todos os lugares onde se encontra. O Apóstolo revela que as assembléias são manifestações do Senhor. Assim vemos que a “Igreja de Deus” não é tanto a soma de todas as assembléias locais, mas estas são realizações da única Igreja de Deus. Em Cristo, pedra principal, todos os membros da assembléia são integrados, para se tornar morada de Deus, povo de Deus, por meio do Espírito (Ef 2,22). A assembléia é uma realidade aberta e acolhedora, na qual não há distinção de pessoas (cf. Rm 10,12; Gl 3,28). Na “casa de Deus” (1Tm 3,15) ou no “templo de Deus” (1Cor 3,9.16), todos são chamados a fazer parte do único povo de Deus, na “Igreja de Deus”, em Jesus Cristo.
A assembléia é vista como “corpo de Cristo” (Rm 12,5; 1Cor 6,15). Paulo usa a imagem do corpo vivo para sublinhar as relações interativas da assembléia. Esta não é um aglomerado de indivíduos anônimos e impessoais, mas uma comunidade organizada segundo uma hierarquia de serviço e caridade (Ef 4,11-16). Expressão vital da unidade e da diversidade de seus membros, dos dons e ministérios (cf. Rm 12, 3-8; 1Cor 12, 12s;14,1s). O que dá identidade à assembléia cristã como “corpo” é sua união vital com Cristo, expressa pelo batismo e alimentada pela eucaristia. Povo que vive da Palavra e do Pão partilhado transforma-se em Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,27).
Perguntas para reflexão pessoal e em grupos:
1. Como o Apóstolo Paulo define a assembléia cristã?
2. Em que as assembléias da nova aliança diferem das assembléias da antiga aliança?
3. Paulo fala da Igreja, da assembléia usando imagens. Você poderia indicar algumas dessas imagens?
4. Por que o Apóstolo ao referir-se a uma determinada comunidade a chama de “Igreja de Deus”?
5. O que significa, na perspectiva do pensamento de Paulo, que a assembléia “é um corpo vivo?”
FIQUEM NA PAZ DE DEUS!
SEMINARISTA SEVERINO DA SILVA.
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