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QUEM FOI O PROFETA MIQUÉIAS?

PROFETA MIQUÉIAS

O PROFETA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

            Em Miquéias, ultimo profeta do século VIII, a denúncia social atinge seus níveis mais altos. Embora sua obra seja curta, e os textos que tratam do tema abranjam poucas paginas, é difícil transmitir em tão poucas palavras conteúdo tão rico, variado, profundo e ardente como o de Miquéias. Com razão ele é considerado um dos maiores porta- vozes da justiça.
            Miquéias nasceu em Morasti (1,1). Provavelmente se trata de Morasti-Gat, aldeia de Judá, 35 km a S O de Jerusalém. O dado é importante, porque nos situa em ambiente campesino, em contato direto com os problemas dos pequenos agricultores, vitimas do latifundismo. Por outro lado, Morasti encontra-se rodeada de fortalezas; em círculo de dez quilômetros surgem Azecar, Saco, Odolom, Maresa e Laquis. A presença de militares e funcionários reais devia ser freqüente na região e, pelo que conta Miquéia, não muito benéfica. Além dos impostos, é provável que recrutassem trabalhadores para conduzi-los a Jerusalém. Latifundismo, impostos, roubo a mão armada, trabalhos forçados, é o ambiente que rodeia o profeta.
            O titulo do livro situa sua atividade durante os reinados de Joatão, Acaz e Esequias, isto é, entre os anos 740-698 aproximadamente. É difícil saber se Miquéias atuou durante os reinados de Joatão e Acaz; entre outros motivos, porque as datas propostas para esses reis são muito discutidas. A injustiça do latifundismo (2,1-5) deu-se em muitos momentos, e o oráculo contido em 1,8-16 tampouco ajuda, porque se discute se o profeta ameaça com castigo futuro ou descreve desgraça passada.
 De qualquer forma, relativamente à data de atividade temos alguns dados seguros: 1,2-7 dá como certo a existência de Samara como capital do norte; encontramo-nos, pois, antes do ano 722, e talvez de 725, quando começou seu cerco pelos assírios. Por outro lado, a tradição contida em Jr 26,18 afirma que Miquéias atuou no tempo de Ezequias. Por conseguinte, podemos indicar como data aproximada de sua atividade profética os anos 721-701. Maior precisão é impossível.


O LIVRO DE MIQUÉIAS

            O que chamamos livro do profeta Miquéias é, na verdade, um complexo de escritos, cuja feição final é a que temos hoje. Os estudiosos distinguem aí escritos de épocas diversas, sendo que se poderia falar de textos do profeta Miquéias propriamente dito e textos que outros autores mais tarde acrescentaram ao livro.
Os textos que pertencem ao profeta Miquéias propriamente dito e que viveu nessa época são: 1,2-2,211;3,1-12; 6,1-7.
            Miquéias fazia severas criticas a cidade e aos governantes, anunciando sua ruína. Autores posteriores tentaram criar, a partir da atividade de Miquéias, um caminho novo. Sua preocupação era apresentar uma perspectiva de esperança, desde que houvesse um chefe e a cidade se alicerçasse em bases justas. Vendo as ameaças do profeta já realizadas, eles procuraram trazer uma nova esperança. Esses acréscimos entremeiam os oráculos de Miquéias, temperando com esperança as palavras mais duras do profeta.
Os textos que foram acrescentados estão em 2,12-13; 4,1-5,14; 7,8-20.

ESTRUTURA DO LIVRO

O livro é dividido nitidamente em duas coletâneas (1-5; 6-7), cada qual subdividida em uma coletânea de ameaças (1-3; 6) e uma de promessas (4-5; 7):
1,1: título.
1,2-4: inovação e teofânia.
1,5-9: pecados de Israel e Judá e ameaça de destruição de Samaria.
1,10-16: canto fúnebre para as cidades de Judá invadidas pelo inimigo.
2,1-11: desgraças para os ricos opressores.
2,12-13: reunião do resto de Israel.
3,1-4: contra os governantes opressores.
3,5-8: contra os falsos profetas.
3,9-12: contra os governantes opressores e ameaça de destruição de Jerusalém.
4,1-5: Sião, centro da salvação messiânica.
4,6-10: reunião dos exilados em Babilônia.
4,11-14: queda dos inimigos de Sião.
5,1-3: o rei messiânico.
5,4-5: promessa de proteção contra a Assíria.
5,6-8: predição sobre o resto de Jacó.
5,9-14: Iahweh afastará a superstição de Israel.
6,1-5: a acusação de Iahweh contra Israel; proclamação de seus atos salvífico.
6,6-8: a bondade melhor do que o sacrifício.
6,9-16: ameaça a cidade.
7,1-6: decadência moral.
7,7-20: liturgia profética; derrota dos inimigos; retorno dos exilados; renovação dos favores de Iahweh.

A MENSAGEM DO LIVRO

            O pensamento de Miquéias é simples: ele proclama que os desastres políticos que ameaçam Israel e Judá derivam da ira de Iahweh, que o povo suscitou com seus pecados. Os temas nos quais esse pensamento se expressa são temas comuns nos profetas pré-exílicos: os pecados de opressão e desonestidade, a prática de cultos supersticiosos, a importância primordial da autêntica moral. A exemplo de Jeremias, Miquéias descreve uma derrocada da moral e da confiança mútua. Iahweh não destruirá completamente o seu povo, mas tratará de impor-lhe as regras da moral tradicional. Por fim, a esperança de Israel se funda na grande misericórdia de Iahweh: Iahweh restaurará a nação sob um novo Davi (5,1-3).
            Diversamente de Isaias, Miquéias anuncia a destruição de Jerusalém (3,12). Miquéias também demonstra ter consciência da natureza da verdadeira vocação profética, em contraste com os profetas de oficio, aos quais se contrapõem, como Jeremias: o carisma do profeta está no poder e no espírito de Iahweh, o direito e na coragem de anunciar a iniquidade e o pecado (3,8).
            A predição de Miquéias sobre a queda de Jerusalém foi recordada em defesa de Jeremias quando este foi acusado de impiedade por ter feito tal ameaça (Jr 26,18). A mensagem messiânica (5,1-3) é citada em t 2,6 e objeto de uma alusão em Jo 7,42.
            Miquéias previu a derrota e a morte de Acab em uma batalha com os arameus em Ramot de Galaad. Ele era conhecido como profeta que “sempre profetizou o mal”. Em Jr 28,6-9, isso é apresentado como sinal do verdadeiro profeta. Deve-se supor que Miquéias falava-nos nos mesmos termos dos profetas posteriores, Amós e Oséias. Ele fala com o mesmo espírito de Elias, embora não seja mencionado nenhum contato entre os dois. Miquéias atribui os discursos confiantes dos profetas da corte a um “espírito de mentira” enviado por Iahuch para enganá-los; essa é a opinião mais antiga sobre os falsos profetas, que pode ser vista em Jr 23,16-32. Não é impossível que Miquéias falasse com uma profunda ironia. Ele foi prisioneiro por Acab para esperar o retorno vitorioso do rei, volta que nunca aconteceu. Nada mais se pode dizer sobre Miquéias.

MIQUÉIAS E SUA MENSAGEM PARA OS DIAS ATUAIS

            Quais os mecanismos que nos levaria a aplicar a mensagem de Miquéias em nossos dias? Como fazer de sua “radicalidade”, propostas concretas para nossa atualidade?
            Me parece que a mensagem de Miquéias não nos apresenta sistemas fechados, mas nos insere no plano da desinstalação, do incomodar-se, e incomodar, do sentir com maior profundidade a dinâmica “revolucionaria” da sua mensagem.
            Uma mensagem que deve perpassar toda nossa história de vida, traduzindo-se em fatos concretos que nos integre no profetismo tão necessário nos dias atuais.
            A mensagem profética de Miquéias ilumina nossas estruturas arcaicas, nosso viver religioso, que mais parece adequação, e não provoca mais questionamentos na sociedade.
            Um viver religioso “doce demais”, que não nos insere na dinâmica transformante do amor; que não nos insere na denuncia das estruturas de morte, que hoje são tão difundidas, e às vezes nós somos grandes propagadores das mesmas.
            A dinâmica profética de Miquéias é atualíssima é um “tratado de vida”, um intinerario eficaz para quem quer se aventurar no caminho do profetismo.
            Sendo assim, concluímos a mensagem profética de Miquéias, traduzindo-a como caminho de esperança, que não se resume apenas em denunciar e condenar a injustiça dos poderosos dos impérios civis e religioso, mas preocupa-se principalmente em apontar para o povo um “caminho” de esperança.
            Esta esperança do povo se concretizaria necessariamente na vida de um chefe Supremo, o qual seria o “libertador” deste povo tão sofrido.


REFERÊNCIAS

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2003.
L. SICRE, José. A JUTIÇA SOCIAL DOS PROFETAS. São Paulo: Edições Paulinas, 1990.
MARTINS, Euclides/STORNIOLO, Ivo. COMO LER O LIVRO DO PROFETA MIQUÉIAS. São Paulo: paulus, 1990.
MCKENZIE. J. DICIONÁRIO BÍBLICO. São Paulo: Paulinas, 1984.
PAULO, Julio Zabatiero Tavares. MIQUÉIAS: VOZ DOS SEM-TRRA. Comentário Bíblico AT. São Paulo, Editora vozes, 1996.

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