A TEOLOGIA PAULINA SOBRE O ESPÍRITO SANTO
A palavra Espírito é tradução do termo hebraico ruah (Antigo Testamento) e do termo grego pneuma (Novo Testamento). Como referência ao Espírito, a palavra ruah é citada 378 vezes no Antigo Testamento hebraico e 11 vezes na parte aramaica de Daniel; já o Novo Testamento cita a palavra pneuma 379 vezes.
RUAH NO ANTIGO TESTAMENTO
O termo verotestamentário ruah é relacionado a vários significados, enfatizando seu aspecto dinâmico.
Vento – como fenômeno da natureza significa:
§ Brisa leve (Is 57, 13); vento forte (Is 27, 8);
§ Intervenção de YHWH, Deus age por meio do vento (Gn 8, 1) para salvar seu povo (Ex 14, 21) ou para puni-lo (Jr 4, 12);
§ O vento figura entre os fenômenos da natureza que acompanham as teofanias; o vento é o sopro de YHWH, a sua ordem criadora (Sl 33, 6).
Hálito/Espírito/Vida – como sinal e princípio da vida, cuja origem é YHWH:
§ Quando YHWH tira seu espírito os seres vivos morrem, quando o envia eles são criados;
§ O Espírito é vitalidade, demonstra traços do caráter ou comportamento, há espírito de prostituição (Os 4, 12 ), de inveja (Nm 5, 14), de confusão (Is 19, 14), de juízo (Is 28, 6), de discernimento (Pr 17, 27), ...;
§ O Espírito executa operações intelectuais, ele é sábio (Ex 28, 3; Dt 34, 9; Sb 7, 7), forma projetos (Ez 11, 5), tem inteligência (Sb 39, 6);
§ Aparece como princípio de conversão, o penitente pede a YHWH para restaurar nele um espírito firme (Sl 51, 2) e confortar o espírito contrito;
§ A regeneração messiânica de Israel é a criação de um coração novo e um espírito novo (Ez 11, 19; 18, 31; 36, 26);
§ O Espírito é a força que inspira a profecia (Is 61, 1; Ez 2, 2), o profeta é um homem do espírito (Os 9, 7);
§ O Espírito é concedido àqueles que tem um cargo em Israel, juízes (Jz 3, 10), reis (1 Sm 11, 6), rei messiânico, o servo do Senhor (Is 11, 2; 42, 1), sábios (Jó 32, 8; Pr 1, 23).
PNEUMA NO NOVO TESTAMENTO
Os escritos do Novo Testamento falam de diversas maneiras sobre a presença e atuação do Espírito.
§ Força de Deus: que impele Jesus para o deserto (Mc 1, 12), pela qual Jesus expulsa demônios (Mt 12, 28) e realiza milagres.
§ O Espírito é dado aos Apóstolos e à Igreja: Batismo e Pentecostes.
§ A presença do Espírito se manifesta como presença de Deus na Igreja (At 2, 3).
§ O Espírito dirige os ministros da Igreja (At 13, 2).
§ O Espírito é conferido pela imposição das mãos (At 8, 14-17).
§ O Espírito Santo é o espírito da verdade (Jo 14, 17), o Paráclito, aquele que ajuda, assiste e revela a verdadeira realidade de Jesus.
O ESPÍRITO SANTO NOS ESCRITOS DE PAULO
O Espírito Santo habita naquele que crê, o Espírito no cristão é princípio da vida, por isso Paulo fala da nova aliança selada no Espírito.
§ O Espírito revela as profundezas de Deus; o Espírito é principio e fonte do amor cristão, da esperança e da fé; é força que liberta os homens da Lei (Gl 5, 18), dos desejos da carne (Gl 5, 16), do comportamento imoral (Gl 5, 19-24).
§ O dom do Espírito constitui a filiação adotiva (Gl 4, 6; Rm 8, 4); presente no cristão em oração, implora por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8, 26); dá ao cristão consciência de sua relação com o Pai. O Espírito traz aos fiéis a realidade de sua nova realidade com Deus como filhos, realidade alcançada por Cristo (Gl 4, 4-6; Rm 8, 14-16).
Explica-se a importância do Espírito em Paulo com base na experiência que as comunidades cristãs primitivas tinham do Espírito em seu meio (milagres, profecia, sabedoria). Essas experiências eram prova de que o Espírito estava presente e atuante. O sinal da presença do Espírito é o amor que foi derramado no coração dos fiéis pela presença do Espírito (Rm 5, 5-8).
Paulo não considera o Espírito uma força ou um ser a disposição do fiel, pois o Espírito não é controlado, ele está presente para ajudar o fiel a fazer a vontade de Deus; o Espírito é dado livremente com a única condição da fé em Cristo como Senhor.
Para Paulo:
§ O Espírito Santo é Deus: o Espírito é único em poder e em relação a Deus. Um só espírito (Rm 8. 9). Essa unidade do Espírito se manifesta na unidade da Igreja.
§ O Espírito é descrito com características pessoais: Ele guia os fiéis (Gl 5, 18; Rm 8, 14); revela os mistérios do Evangelho (1 Cor 2, 6-16); ajuda os fiéis na oração (Gl 4, 6; Rm 8, 15.26-27).
§ O Espírito é o único meio pelo qual a sabedoria de Deus se comunica a Deus, pois só o Espírito conhece a Deus: o Salvador é o conteúdo da misteriosa sabedoria de Deus, uma sabedoria que não pode ser entendida separada do Espírito. O Espírito permanece como a única ligação para conhecer a Deus e aceitar o Evangelho.
§ O Espírito Santo é poder de Deus: concede a vida nova em Cristo (propósito do Evangelho) e, no culto manifesta os carismas para edificar os fiéis (1 Cor 12, 7; 14, 5.19.26)
§ O Espírito como íntima associação com o Senhor Ressuscitado: o Espírito transforma os fiéis para que tenham o caráter de seu Senhor – Jesus Cristo (2 Cor 3, 3.18; Ef 3, 16-17). Estar na comunhão do Espírito é estar na comunhão do Filho de Deus. O Espírito é associado a cruz de Cristo, à humanidade e ao serviço com os outros. A vida de Jesus é modelo para a maneira como o Espírito atua nos fiéis (2 Cor 13, 4).
§ Através do espírito, Jesus se relaciona com sua Igreja: o espírito marca os cristãos como membros do corpo de Cristo (1 Cor 6, 15-20; 12, 12-13). Como Senhor da Igreja, Cristo a conduz por meio do Espírito.
§ A oposição do Espírito à carne é um meio pelo qual o Espírito apresenta a vontade de Deus. O Espírito é poder da nova criação, da nova vida para os que crêem no Cristo: o Espírito habita neles e os fortalece para levarem uma vida agradável a Deus, conduzida pelo Espírito (Rm 8, 1-4.14).
§ O Espírito une todos os fiéis a Cristo: somos um só espírito com Ele (1 Cor 6, 17). É o espírito que fortalece, organiza, orienta a comunidade cristã e estimula a sua missão de anunciar o Evangelho (At 2).
§ O Espírito tem uma natureza ética: o Espírito tem o caráter ético de Deus expresso na santidade. Àqueles em quem o Espírito Santo habita são caracterizados pela pureza ética (o vosso corpo é templo do Espírito Santo). O Espírito como mediador da presença de Cristo para o cristão promove atitudes conforme a pessoa e o ensinamento de Cristo (Cristo é o arquétipo da nova criação).
§ O Espírito é a força unificadora e criativa que dá origem a Igreja: o Espírito confere dons diferentes a pessoas que devem se reunir formando o corpo de Cristo (1 Cor 12, 4-31). O Espírito é fonte de dons que são concedidos pelo Espírito para a edificação dos cristãos (1 Cor 14, 1-5.26).
§ O Espírito dado aos fiéis é considerado um sinal escatológico: a salvação e restauração de seu povo por Deus já começou. O Espírito é primícia e penhor daquilo que os fiéis receberão quando o reino chegar plenamente. O Espírito não é a plenitude do Reino de Deus, mas antecipação da glória futura (Rm 8, 19.23).
DONS, FRUTOS E MINISTÉRIOS
Frutos do Espírito – virtudes que manifestam as realidades da vida em Cristo: amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, doçura e domínio de si (Gl 5, 22-23). Paulo exorta os Gálatas a viverem e caminharem guiados pelo Espírito e a não seguirem os desejos carnais e não se deixarem moldar pela Lei, mas pela ação do Espírito. Paulo usa os termos desejos e carne para enfatizar o contraste da vida vivida no Espírito e a vida governada pela carne. Andar sob o impulso do Espírito significa não satisfazer os desejos da carne. Ser guiado pelo Espírito é o contrário de estar sob a Lei. Esse é o modo de vida cristão, dos que são habitados pelo Espírito.
Dons do Espírito – estão associados aos carismas, são variados e concedidos generosamente à comunidade para sua edificação. Carisma é uma palavra tipicamente paulina (além das cartas paulinas, só aparece uma vez em 1 Pd 4, 10). Formou-se do substantivo graça (charis) com referência a uma expressão concreta da graça. Carisma designa uma variedade de maneiras pelas quais a graça de Deus se manifesta entre seu povo. Refere-se a determinadas atividades do Espírito, como dons espirituais. As manifestações do Espírito devem ser entendidas como carismas. Concessões do Espírito na comunidade reunida com o propósito de formar o povo de Deus. Paulo defende haver diversidade de dons para a comunidade ser verdadeiramente do Espírito (1 Cor 12, 4-11): dons de instrução (sabedoria e conhecimento), dons de poder sobrenatural (fé, cura, milagres), dons de expressão inspirada (profecia, discernimento dos espíritos, línguas e interpretação das línguas). Todo dom deve ser motivado pelo amor (1 Cor 13; 14, 1) e as manifestações do Espírito busquem expressões inteligíveis e a ordem para a comunidade ser edificada.
Ministérios – são dons exercidos por pessoas específicas que atuam dentro da Igreja e cumprem um ministério para a edificação da Igreja (Ef 4, 11; 1 Cor 12, 28). Paulo entendia os ministérios como dados e fortalecidos pelo Espírito.
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